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Duel - 1971


Quando pensamos em “road movies” com elementos de horror e suspense, o primeiro filme que vem à mente é “Encurralado” (Duel, 1971), especialmente produzido para a televisão, dirigido por Steven Spielberg em início de carreira, a partir de um roteiro do especialista Richard Matheson, e estrelado por Dennis Weaver (1924/2006), no papel de um caixeiro viajante atormentado e perseguido por um enorme caminhão conduzido por um psicopata, conforme anuncia muito bem uma das taglines promocionais do filme (reproduzida no início desse texto). “Encurralado” serviu de base para uma série de filmes seguintes explorando o tema de uma máquina assassina sobre rodas como “O Carro Assassino” (The Car, 1977), sobre um carro possuído pelo demônio, o episódio “A Benção” (The Benediction) da antologia “Pesadelos Diabólicos” (Nightmares, 1983), sobre uma pick-up preta igualmente possuída pelo diabo, além de “Perseguição” (Joy Ride, 2001) e “Velozes e Mortais” (Highwaymen, 2003), com Jim Caviezel, entre outros. “Encurralado” é um verdadeiro “duelo” (daí o nome original) carregado de tensão entre o comerciante em viagem de negócios David Mann (Weaver), e o motorista de um caminhão tanque cujo rosto nunca aparece (interpretado pelo dublê Carey Loftin), sendo mostradas apenas as suas botas e o braço esquerdo. Mann está dirigindo tranqüilamente o seu carro, um Plymouth vermelho, pelas estradas desertas, quentes e poeirentas da California, e nunca imaginaria que uma simples ultrapassagem por um escuro e sujo caminhão de transporte de combustível (que estava vazio) iria desencadear uma perigosa série de conseqüências graves envolvendo sua vida e de terceiros inocentes que cruzassem seu caminho. Pois o motorista do caminhão, uma máquina de poluição do ar soltando muita fumaça através de seu potente motor, sentiu-se inexplicavelmente ofendido e decidiu partir para uma briga na estrada, utilizando seu caminhão como uma arma letal em suas mãos, iniciando um perigoso jogo psicológico macabro com o inicialmente pacato motorista do carro, que apenas queria seguir sua viagem normalmente. O confronto foi progressivamente aumentando o clima de tensão, com direito a perseguições em alta velocidade, com picos de 150 Km/h, num percurso cheio de curvas evidenciando um sentimento sufocante do comerciante em tentar se livrar da ameaça motorizada de uma máquina assassina guiada por um psicopata que quer matá-lo por causa de um simples atrito na estrada, culminando após uma série de eventos alucinantes num desfecho trágico para o duelo. O filme é um dos primeiros trabalhos do agora consagrado e famoso cineasta Steven Spielberg, mostrando já no início dos anos 70 o seu incrível talento como diretor, ajudado pela excepcional história de Richard Matheson, enfatizando um tipo de paranóia que pode existir nas estradas e afetar qualquer pessoa. O roteiro é simples e totalmente ambientado numa estrada e arredores, com poucos personagens, mostrando basicamente o duelo entre um carro despretensioso e um caminhão imponente, mas carregado com um clima de tensão, suspense e ação, em doses dignas dos maiores trabalhos posteriores de Spielberg realizados com orçamentos milionários. Steven Spielberg é americano de Cincinnati, Ohio, nascido em 18/12/1946. Entre seus trabalhos no cinema dentro do gênero fantástico podemos citar “Tubarão” (1975), “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977), “E.T. – O Extraterrestre” (1982), “Poltergeist, o Fenômeno” (1982, de forma não creditada, já que oficialmente a direção foi de Tobe Hooper), um episódio da antologia “No Limite da Realidade” (1983), “O Parque dos Dinossauros” (1993), “O Mundo Perdido” (1997), “A.I. – Inteligência Artificial” (2001), “Minority Report – A Nova Lei” (2002), e “Guerra dos Mundos” (2005), uma refilmagem do clássico de 1953. O escritor Richard Matheson é americano de New Jersey, nascido em 1926. Entre seus livros famosos estão “Eu Sou a Lenda” e “O Incrível Homem Que Encolheu”, que se transformaram nos filmes de sucesso “Mortos Que Matam” (1964) e “A Última Esperança Sobre a Terra” (1971), no caso do primeiro livro, e o clássico de FC homônimo de 1957, baseado no segundo livro. Entre seus trabalhos consagrados como roteirista estão filmes como “O Solar Maldito” (1960), “A Mansão do Terror” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962), “O Corvo” (1963), “Robur, o Conquistador do Mundo” (1961), “Farsa Trágica” (1964), “As Bodas de Satã” (1968), “A Casa da Noite Eterna” e “Drácula”, ambos de 1973, sem contar sua participação em várias séries de televisão, como “Além da Imaginação” da década de 1960. “Encurralado” foi lançado em DVD no Brasil pela “Universal”, e traz como materiais extras os documentários produzidos em 2001 “Conversa com o Diretor Steven Spielberg” (Duel – A Conversation With Steven Spielberg), de 35 minutos, “Steven Spielberg e a Televisão” (Steven Spielberg and the Small Screen) e “Richard Matheson Escrevendo Duel” (Richard Matheson – The Writing of Duel), ambos com 10 minutos, além de um trailer e galeria de fotos e posters. Os depoimentos nos documentários revelam curiosidades interessantes de bastidores como o fato do caminhão receber a importância de um verdadeiro protagonista, sendo submetido a uma sessão de “maquiagem” para parecer velho, sujo, oleoso e imponente. As filmagens foram feitas em apenas 12 ou 13 dias, um desafio que nem Spielberg consegue explicar como foi atingido. E a versão inicial tem apenas 70 minutos, sendo estendida depois para uma hora e meia para o lançamento do filme na Europa, acrescentando-se algumas cenas adicionais. Entre as várias seqüências interessantes de “Encurralado”, um dos ápices certamente foi quando após uma perseguição violenta na estrada, o comerciante Mann sai da pista perigosamente em alta velocidade em direção a uma lanchonete, e bate o carro numa cerca de madeira, quebrando parte dela. Por sorte, ele apenas torce levemente o pescoço e decide então entrar no bar para se refrescar no banheiro. Quando volta, descobre que o caminhão está parado no estacionamento também e a partir daí se inicia um tenso jogo psicológico com Mann imaginando quem poderia ser o motorista psicótico entre as várias pessoas que estavam na lanchonete para almoçarem. Ele fica observando um a um, tentando reconhecer as botas, num suspense crescente. Realmente é complicado você saber que alguém que quer matá-lo está no mesmo ambiente que você e não poder reconhecer quem é o sujeito insano. O filme todo é enfocado segundo a perspectiva do motorista do carro, que é a vítima desde o início do duelo, mostrando seus pensamentos de indignação, revolta e medo perante uma situação inusitada, onde ele se sente encurralado na estrada por um caminhão assassino, e tudo por causa de um pequeno e banal desentendimento numa ultrapassagem despretensiosa. É interessante notar que assim como no posterior “Um Dia de Fúria” (Falling Down, 1993), com Michael Douglas enfrentando uma série de problemas do caos urbano, “Encurralado” também evidencia a incrível somatória de eventos desastrosos num típico dia ruim para o viajante David Mann, pois além de ser perseguido sem motivo por um caminhão, ele ainda teve que enfrentar outras situações desfavoráveis. Primeiro ao tentar ajudar um ônibus com defeito mecânico, empurrando-o com seu carro na esperança de conseguir ligar o motor, e apenas conseguindo como resultado o seu pára-choque enroscado na traseira do ônibus. Depois foi a vez de seu carro apresentar aquecimento no motor por causa do desgaste da mangueira do radiador (alertado por um frentista momentos antes), e perder potência justamente na hora em que ele mais precisava da ação do carro, ao tentar fugir de seu perseguidor na subida de uma grande serra, onde o pesado caminhão perde significativamente o seu rendimento. O desfecho de toda essa paranóia frenética é, assim como todo o filme, igualmente sensacional, e a sugestão que fica é assistir o filme para saber qual foi o resultado do “duelo”... Encurralado (Duel, Estados Unidos, 1971). Universal. Duração: 89 minutos. Direção de Steven Spielberg. Roteiro de Richard Matheson, a partir de sua própria história, publicada na revista “Playboy”. Produção de George Eckstein. Fotografia de Jack A. Marta. Música de Billy Goldenberg. Edição de Frank Morriss. Direção de Arte de Robert S. Smith. Elenco: Dennis Weaver (David Mann), Jacqueline Scott (Sra. Mann), Eddie Firestone, Lou Frizzell, Gene Dynarski, Lucille Benson, Tim Herbert, Charles Seel, Shirley O´Hara, Alexander Lockwood, Amy Douglass, Dick Whittington, Carey Loftin, Dale Van Sickel, Shawn Steinman.


Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 10/12/05

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