Starship Troopers - 1997
“No futuro ainda existirão guerras em nome da honra, da glória e da sobrevivência. Só o inimigo mudará.” O diretor holandês Paul Verhoeven, conhecido por ótimos trabalhos no cinema fantástico como “Robocop, o Policial do Futuro”, com Peter Weller, “O Vingador do Futuro”, com Arnold Schwarzenegger, e “O Homem Sem Sombra”, com Kevin Bacon, também é o cineasta responsável por um dos mais divertidos filmes de Ficção Científica com elementos de Horror desde o clássico “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott. Trata-se de “Tropas Estelares” (Starship Troopers, 97), baseado em livro homônimo de Robert A. Heinlein escrito em 1959, e que pode ser considerado um dos ápices da filmografia de FC com o Horror em seu estado mais puro, associado à violência insana da guerra. Pois não faltam cenas impressionantes de batalhas entre homens e insetos alienígenas, com direito a um enorme volume de sangue jorrado em profusão, com uma infinidade de corpos mutilados, desmembrados, dilacerados e destroçados de uma forma extremamente selvagem, evidenciando a fragilidade dos corpos dos seres humanos, entre carne, sangue, músculos e ossos. A história é ambientada num futuro onde a humanidade está em guerra com uma raça alienígena de insetos e as pessoas são classificadas entre civis e cidadãos, não existindo mais a democracia que fracassou através dos cientistas sociais que levaram o caos ao planeta, passando o comando aos militares, chamados de veteranos. Os cidadãos são aqueles que se alistam no exército aceitando a responsabilidade pelo corpo político e defendendo-o com suas próprias vidas. Na televisão são exibidas aquelas mensagens de convocação da população para o alistamento militar, verdadeiros comerciais para o recrutamento de soldados, tipicamente inspirados nas propagandas políticas fascistas, explicando ao civil porque ele deve se unir às Tropas da Federação. A televisão também é um meio de propagação da violência, onde execuções de criminosos na cadeira elétrica são transmitidas ao vivo. Enquanto isso, os insetos alienígenas são uma espécie de aracnídeos que evoluíram em milhões de anos chegando a colonizar planetas, com a vantagem de não demonstrarem medo, enfrentando a morte com frieza, e sendo liderados por um cérebro inteligente. Eles possuem uma estrutura hierárquica militar similar aos exércitos humanos e são muito mais fortes fisicamente e extremamente violentos, não fazendo prisioneiros e sendo abatidos apenas quando seus sistemas nervosos são atingidos. Os insetos são oriundos de uma outra galáxia, do planeta Klendathu, que orbita um sistema estelar duplo cujas forças gravitacionais produzem uma infinidade de meteoros na forma de um cinturão de asteróides. Eles utilizam esses meteoros para atacar a Terra, causando uma guerra definitiva entre as espécies para a sobrevivência apenas de uma das raças. Dentro desse contexto conturbado, a ação volta-se para o chamado “paraíso latino”, numa escola em Buenos Aires onde estudam o jovem filho de uma família rica, Johnny Rico (Casper Van Dien), sua namorada filha de um militar, a bela Carmen Ibanez (Denise Richards), que pretende ser piloto da frota, e dois amigos em comum do casal, o sensitivo e inteligente Carl Jenkins (Neil Patrick Harris), e a bela Dizzy Flores (Dina Meyer), apaixonada por Johnny e que pretende se alistar na infantaria. Para impressionar a namorada, e contra a vontade de seus pais, Johnny se alista na Infantaria junto com Dizzy, enquanto Carl é recrutado para servir na Inteligência Militar e Carmen vai para a Aeronáutica seguir carreira. Os treinamentos tem início. Enquanto Johnny e Dizzy conhecem na Infantaria outros soldados como Ace Levy (Jake Busey), sendo coordenados pelo severo Sargento Zim (Clancy Brown), Carmen encontra na frota um antigo colega de escola e agora instrutor, Zander Barcalow (Patrick Muldoon), além de conhecer a Capitã Deladier (Brenda Strong), onde juntos fazem parte da tripulação da enorme nave estelar “Rodger Young”. Durante o período de treinamentos, um ataque catastrófico dos insetos alienígenas ao enviarem um asteróide para aniquilar Buenos Aires, é o impulso definitivo para decretar a guerra. Um planejamento estratégico pelo governo militar é então preparado e os humanos realizam uma forte investida contra o planeta dos insetos, porém uma vez subestimando a capacidade de defesa dos inimigos aracnídeos, os pelotões de infantaria são terrivelmente massacrados com mais de 300.000 soldados mortos em poucas horas de combate, além de outras perdas significativas da frota com ataques de plasma enviados da superfície do planeta pelos insetos tanque. Após reorganizar seus exércitos com uma nova estratégia de combate, a humanidade parte para uma nova ofensiva contra os insetos, na tentativa de capturar o líder e cérebro dos inimigos, com um bombardeio aéreo seguido de um ataque por terra com a infantaria, liderada pelo Tenente Jean Rasczak (Michael Ironside), numa série de confrontos determinantes para a sobrevivência de apenas uma espécie. “Pensar por si próprio é a única liberdade que temos.” – Jean Rasczak, professor e Tenente da infantaria “Tropas Estelares” é o filme que eu mais assisti no menor espaço de tempo. Foram cinco vezes, uma no cinema em 1998, três na televisão aberta, e finalmente outra vez em vídeo DVD, repleto de extras interessantes. São vários os motivos para gostar tanto desse filme, mas o principal é a união de uma temática de ficção científica com fortes elementos de horror e guerra, num conjunto determinante para uma história bastante intensa de ação e violência de um campo de batalha, com a vantagem dos eventos ocorrerem num universo fictício num confronto dos humanos contra insetos alienígenas, não deixando de lado uma oportuna crítica à “irracionalidade” conhecida da humanidade em idolatrar as armas e a guerra, preferindo resolver seus conflitos sempre com a violência e enaltecendo os vários modelos políticos militares baseados em repressão. Olhando apenas pelo lado da diversão, objetivo maior do cinema, “Tropas Estelares” garante duas horas do mais puro entretenimento, principalmente pelas cenas de batalha e os corpos dos soldados sendo destroçados pelos insetos. O filme pode ser dividido em duas partes, sendo a primeira bem inferior, voltada para a apresentação dos personagens, na maioria formados por jovens preocupados também com amores adolescentes. Aqui reside os pontos negativos do filme, com o roteiro abusando do uso daqueles clichês descartáveis, enfatizando demais os relacionamentos amorosos de um grupo de jovens divididos entre a escola e o alistamento militar. Nessa primeira metade de “Tropas Estelares”, ocorre também a introdução de alguns elementos importantes da história como a existência dos insetos alienígenas ameaçadores para a sobrevivência da Terra e a consequente guerra com a humanidade. A segunda parte, a partir da metade do filme, é bem melhor ao evidenciar a brutalidade insana da guerra, com as realistas cenas de batalhas aéreas e na superfície, com os brutais massacres tanto de insetos (espalhando seu sangue verde) quanto principalmente de homens (manchando a tela de vermelho), tendo suas carnes frágeis sendo rasgadas por enormes garras afiadas. Nesse momento, “Tropas Estelares” atinge um ritmo frenético de violência digno de se manter na eterna lembrança dos apreciadores do cinema fantástico. Duas cenas em especial merecem registro pela intensidade de ação e impecável produção. A primeira é quando o soldado Johnny Rico consegue a proeza de explodir um enorme inseto tanque, ao conseguir depositar em seu interior uma bomba. A outra cena é a eletrizante e incrível carnificina ocorrida no Forte Whiskey, uma estrutura de defesa construída pelos humanos em solo alienígena. Um pequeno grupo de soldados é encurralado numa emboscada por um imenso exército de insetos, que promovem um massacre devastador, numa sequência que rivaliza com a fantástica batalha no “Abismo de Helm” em “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” (2002), que mostra uma imensidão de flechas voando pelos ares e escadas cheias de orcs tentando invadir as estruturas de pedra de uma fortaleza guardada por humanos e elfos, e também com a cena de abertura de “O Resgate do Soldado Ryan” (98), que mostra a invasão dos aliados na costa da Normandia na Segunda Guerra Mundial, sendo recebidos à bala pelos alemães num massacre perturbador. Essas são três das mais intensas sequências de guerra produzidas pelo cinema, independente de ser ou não uma história de fantasia com personagens fictícios, ou a reprodução de um fato real e sangrento da história da humanidade, com destruidoras armas de fogo matando homens. Analisando exclusivamente como cinema de guerra, esses exemplos caracterizam o que mais próximo seria o horror de um campo de batalha. O inferno existe e é a guerra. É curioso notar que “Tropas Estelares” também não deixa de explorar a rivalidade existente entre a infantaria e a frota, onde os primeiros são treinados exclusivamente para matar os inimigos ou morrer tentando, e já os pilotos são considerados de uma elite superior pela responsabilidade em conduzir as aeronaves. Um frase indignada de Johnny Rico reforça bem essa ideia: “A infantaria morre enquanto a frota voa.” Com um orçamento em torno de US$ 80 milhões, o filme recebeu uma merecida indicação ao cobiçado prêmio “Oscar” pelos excelentes efeitos especiais, os quais levaram cerca de um ano para serem finalizados, entre a construção das belíssimas naves espaciais (sob a responsabilidade de Scott E. Anderson), e a criação do exército dos insetos alienígenas, dividido entre a infantaria (soldados), tanques (insetos de mais de 30 metros de comprimento), e a aeronáutica (insetos voadores), num precioso trabalho supervisionado por Phil Tippett. O trabalho dos efeitos visuais foram obtidos numa combinação de esforços entre as empresas “Sony Image Works”, “Industrial Light and Magic” e “Boss Film”. “Tropas Estelares” foi lançado em DVD no Brasil pela “Buena Vista Home Entertainment”, num disco repleto de interessante material extra em aproximadamente 30 minutos, e quase tudo legendado em português. Além de poder conferir o filme, temos acesso à vários bônus como um trailer; testes de duas cenas com os personagens Johnny Rico e Carmen Ibanez; uma apresentação com informações de bastidores da produção; um documentário com a elaboração de algumas cenas com comentários do diretor Paul Verhoeven, como a destruição de uma nave enorme num ataque dos insetos, a sequência onde Rico explode um inseto tanque, e a cena onde um soldado é perseguido e morto violentamente por um inseto; além de cinco cenas excluídas da edição final do filme. Como material extra ainda temos a exibição do filme com comentários em áudio do diretor, porém em inglês sem legendas. O sucesso de “Tropas Estelares” acabou inevitavelmente impulsionando uma franquia, e além de uma série de animação já produzida para a televisão, foi lançada em 2004 uma continuação chamada “Tropas Estelares 2” (Starship Troopers 2: Hero of the Federation), com direção de Phil Tippett (um dos produtores e supervisor dos efeitos visuais dos insetos no filme original), e novamente roteiro de Ed Neumeier. O elenco foi formado por jovens desconhecidos como Richard Burgi, Colleen Porch, Bill Brown, Ed Quinn e Drew Powell, entre vários outros. Curiosamente a atriz Brenda Strong, que fez a Capitã Deladier no original, e que morreu na queda de sua nave num ataque dos insetos, volta agora na continuação na pele de outro personagem, a Sargento Dede Rake. A história do novo filme é ambientada cinco anos após os eventos do primeiro e acrescenta algumas novidades ao já conhecido universo ficcional dos insetos alienígenas, que agora serão capazes de transmitir um vírus capaz de transformar os humanos em zumbis. Eles ainda não foram dominados totalmente na guerra com a humanidade e as ações se passam dessa vez num remoto planeta, com cenas de batalhas sangrentas. E ainda em 2008 foi produzido mais um filme, “Starship Troopers 3: Marauder”, novamente com Casper Van Dien, que agora é o Coronel Johnny Rico. “O único inseto bom é um inseto morto.” O diretor Paul Verhoeven nasceu em 1938, e em sua carreira destacam-se outros filmes interessantes como “Conquista Sangrenta” (85), “Robocop” (87), “O Vingador do Futuro” (90), “Instinto Selvagem” (92) e “O Homem Sem Sombra” (2000). Ele também dirigiu em 95 “Showgirls”, muito criticado e considerado o seu pior trabalho. O roteiro de “Tropas Estelares” é de Ed Neumeier, que também foi o autor da história de “Robocop”, inspirando uma franquia com mais dois filmes e duas séries de TV. Ele utilizou como base para o filme o livro homônimo do escritor americano Robert A. Heinlein (1907 / 1988), um dos mais cultuados autores de Ficção Científica da história do gênero, figurando num grupo seleto formado ainda por Isaac Asimov e Arthur Clarke, entre outros nomes consagrados. Entre outros trabalhos importantes no cinema, Heinlein escreveu o roteiro do clássico de FC “Destino: Lua” (Destination Moon, 1950), baseado em sua própria novela chamada “Rocketship Galileo”. O elenco é formado basicamente por jovens pouco conhecidos na época como Casper Van Dien, Denise Richards, Dina Meyer e Jake Busey, sendo liderados pela experiência de Michael Ironside, ator canadense nascido em 1950 e dono de um currículo com mais de 120 filmes, entre eles, “Scanners – Sua Mente Pode Destruir” (81), de David Cronenberg, “Baile de Formatura 2” (87), “O Vingador do Futuro”, “Highlander 2” (91), e “Colheita Maldita 7” (2001), além da série televisiva “V – A Batalha Final” (84). Casper Van Dien é americano nascido na Florida em 1968, tendo uma filmografia com mais de 40 participações, e entre elas, no divertido filme “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (99), de Tim Burton. Denise Richards nasceu em 1971 no Estado americano de Illinois, e entre seus filmes estão “Garotas Selvagens” (98), “007 – O Mundo Não é o Bastante” (99) e o descartável thriller de horror adolescente “O Dia do Terror” (Valentine, 2001). Já Dina Meyer nasceu em 1968 em New York e entre seus filmes estão “Johnny Mnemonic” (95), “Coração de Dragão” (96), “D-Tox” e “Star Trek: Nêmesis” (ambos de 2002). E Jake Busey nasceu na California em 1971, sendo filho do veterano ator Gary Busey. Entre seus filmes podemos citar a comédia de horror “Os Espíritos” (96), de Peter Jackson, a FC “Contato” (97), e o excepcional thriller “Identidade” (2003). “Em todas as épocas os motivos para se lutar sempre foram do próprio Homem, mas no futuro a maior ameaça para a nossa sobrevivência não será o Homem. Agora a juventude do amanhã precisa viajar através das estrelas para encarar um inimigo muito mais devastador do que todos que já foram imaginados.” Tropas Estelares (Starship Troopers, Estados Unidos, 1997). Touchstone / Tristar. Duração: 119 minutos. Direção de Paul Verhoeven. Roteiro de Ed Neumeier, baseado em livro homônimo de Robert A. Heinlein. Produção de Alan Marshall, Jon Davison, Frances Doel, Stacy Lumbrezer, Ed Neumeier e Phil Tippet. Música de Basil Poledouris. Fotografia de Jost Vacano. Edição de Mark Goldblatt e Caroline Ross. Desenho de Produção de Allan Cameron. Elenco: Casper Van Dien (Johnny Rico), Dina Meyer (Dizzy Flores), Denise Richards (Carmen Ibanez), Jake Busey (Ace Levy), Neil Patrick Harris (Carl Jenkins), Patrick Muldoon (Zander Barcalow), Michael Ironside (Tenente Jean Rasczak), Clancy Brown (Sargento Zim), Seth Gillian (Sugar Watkins), Rue McClanahan (Professora de Biologia), Marshall Bell (General Owen), Anthony Ruivivar (Shujumi), Dale Dye (General), Eric Bruskotter (Breckinridge), Matt Levin (Kitten Smith), Blake Lindsley (Katrina McIntire), Brenda Strong (Capitã Deladier), Dean Norris (Major), Christopher Curry (Bill Rico), Lenore Kasdorf (Sra. Rico), Tami-Adrian George, Steven Ford, Ungela Brockman.