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The Night Evelyn Came Out of the Grave aka La notte che Evelyn uscì dalla tomba - 1971


Interessantíssimo giallo, aqui acrescentado de uma bem vinda atmosfera de horror gótico, e estrelado pelo canastrão ítalo-brasileiro Antonio Luiz de Teffé, mais conhecido como Anthony Steffen. Com direito a todo tipo de bizarrice, absurdos e exageros que o cinema italiano de gênero dos anos setenta foi pródigo em fornecer.


Acompanhamos a trajetória do Lorde Alan Cunningham (Anthony Steffen), um viúvo traumatizado pela morte da esposa Evelyn, que o marcou profundamente , mesmo que pese o fato de ele tenha pego a moça em flagrante em pleno ato com o amante nos jardins da propriedade, como mostra em alguns flashbacks ao decorrer do filme (na verdade parece que essa cena se repete ao longo do filme com o único propósito de mostrar a atriz correndo pelada pelos gramados afora. Pura nudez gratuita).


Perturbado o nobre leva sistematicamente prostitutas ruivas para seu castelo aonde as tortura e as mata. Sua fixação por ruivas se explica pelo fato de sua falecida amada também ter sido uma. Ele é espionado e chantageado pelo seu cunhado, o caçador Albert (Roberto Maldera). No seu dia-a-dia ainda temos figuras como o seu psicanalista Dr. Richard Timberlane (Giacomo Rossi-Stuart), a paraplégica tia Aghata (a bonita Joan C. Davis em seu único trabalho no cinema) e o primo fanfarrão George (Enzo Tarascio aqui aparecendo nos créditos como Rod Murdock) é este último que para aliviar as angústias do nobre resolve levá-lo para uma festa, embora, aparentemente, não saiba dos crimes cometidos pelo mesmo. E é nesta festa que o Lorde Alan conhece Gladys (Marina Malfatti, que aqui aparece frequentemente com decotes generosíssimos, isto quando não está com os peitos de fora mesmo) apaixonado pela moça ele apressa o casamento e se sente curado de suas obsessões, já que sua aversão é por ruivas e sua nova esposa é loira.

Nesse ínterim umas séries de coisas estranhas começam a acontecer, sugerindo que o fantasma de Evelyn tenha voltado para atormentar o protagonista. Gladys descobre então que o cadáver da ruiva desapareceu do mausoléu que há nos arredores do castelo. A insanidade de Alan parece retornar aos poucos.


Fica a pergunta no ar: os acontecimentos sobrenaturais são reais ou alguém está armando contra o protagonista? (bem ao estilo Scooby-Doo) Quando começam a declinar para a segunda opção, chega a questão, se é armação, então quem estaria por trás de tudo?


Nesta altura todos são suspeitos, incluindo a meretriz Suzie (Erika Blanc), última vítima de Alan, ao qual o mesmo não conseguiu assassinar, pois teria desmaiado em meio a devaneios e não teria consumado o ato (embora esta bela ruiva tenha sumido misteriosamente). No meio desse reboliço todo o espectador descobre que nem todos são o que aparentavam ser, e alguns personagens mostram conexões entre si, até então desconhecidas. E para aumentar o clima já caótico é que aparece um misterioso assassino de luvas (claro! Afinal estamos num Giallo) que começa a diminuir a lista de suspeitos, matando um por um de formas bizarras.

Pervertido e misógino este filme é carregado de elementos sadomasoquistas e fetichistas (e, claro, fartas cenas de mulheres com seios a mostra). Como quando Alan no começo arrasta suas vítimas para sua alcova, uma autêntica câmara de torturas medieval, que, entre correntes e outros artefatos típicos, faz com que suas vítimas, vestidas apenas de calcinhas coloquem longas botas de couro para depois o lorde (tomado de uma volúpia digno do Marquês de Sade) começa a açoitá-las impiedosamente com seu chicote. Há também todo um eficiente clima de horror que não faz feio nem para os filmes da Hammer da época. Ótimos cenários góticos, como o cemitério, o castelo. Não faltam nem os velhos clichês, como a sequência de sessão espírita e o velho clímax na noite de tempestade.


E claro, os assassinatos bizarros, destaque para duas aqui, a primeira é quando o matador misterioso ao invés de usar uma faca ou navalha (comuns em Giallo) usa uma pequena serpente venenosa, que morde o pescoço de um dos personagens, este, enquanto se retorce em convulsões é atirado dentro de uma cova, e acaba sendo enterrado enquanto dá seus últimos espasmos; realmente angustiante. O outro assassinato é antológico (e normalmente cortado em algumas versões que há por ai): outra vítima é abatida por uma rocha na cabeça e seu corpo atirado dentro de uma jaula cheio de raposas. Não faltam closes dos animais comendo as tripas do cadáver (isso sem falar num outro infeliz que caí numa piscina com ácido sulfúrico). Além da mistura de sensualidade, sadismo e horror. Para mim a maior ousadia do roteiro, além de suas reviravoltas bizarras e conclusão absurda (como todo Giallo que se preze), é o fato do serial killer do início se tornar no virtual herói da trama. Vale destacar também a cena em que Alan conhece Suzie, em meio a trilha setentista (obra do grande Bruno Nicolai) no meio de um cabaré, a bela prostituta ruiva sai de dentro de um caixão e começa a dançar de forma excêntrica. Segundo as palavras da própria atriz Erika Blanc: "Eles chegaram para mim, pediram uma dança legal e eu decidi fazer da maneira mais estranha possível. A atmosfera do set era muito boa, e a cena ficou ótima".


O diretor Emilio Miraglia teve uma carreira curta como diretor, apenas seis longas e encerraria suas atividades no ramo no ano seguinte com outro Giallo, “La Dama Rossa Uccide Sette Volte”, que muitos consideram sua obra-prima.

Quanto ao Anthony Steffen, ele que era um astro na Itália por causa dos spaghetti westerns, talvez tenha sido o ator que mais protagonizou esse subgênero na história, acabou tendo que rumar para outros tipos de filmes com o declínio do mesmo. Ele considerava “La Notte che Evelyn Uscì Dalla Tomba” uma bobagem. Seu trabalho favorito em Giallo seria em “Sette Scialli di Seta Gialla” (1972) de Sergio Pastore. O fato é que “La Novhe che Evelyn...” foi seu maior sucesso comercial nos EUA. Segundo o escritor Stephen King no seu livro de ensaios “Dança Macabra” (1981), afirma que pipocas vendidas com cobertura vermelha ("pipocas de sangue") eram vendidos nos drive-ins e cinemas grindhouses nas sessões deste filme. De qualquer modo a atuação exagerada do canastríssimo astro ítalo-brasileiro, de ascendência nobre como ele mesmo cansava de se vangloriar (ele era descendente do Barão de Teffé por parte de pai e sua mãe era uma condessa italiana), e que se mostra bem a vontade no papel do lorde almofadinha com piripaques psicóticos e que casa perfeitamente com o clima exagerado e tresloucado imposto pelo diretor Miraglia (destaque para as cenas em que o personagem se entrega ao completo extâse enquanto chicoteia as moças seminuas, as caras de Anthony são tão convincentes que dá a impressão de que ele realmente curtiu ter feito tais cenas).


Com todas as imperfeições formais e incorreçõs políticas que tem direito, “La Notte Che Evelyn Uscì Dalla Tomba” sai-se muito bem em sua fórmula inusitada que mescla climas que vão do gótico ao sadomasô, com nudez feminina e violência. Enfim, um filme indicado para os fanáticos tanto pelo giallo, quanto por exploitations em geral. Uma bela obra sem dúvida.


The Night Evelyn Came Out of the Grave aka La notte che Evelyn uscì dalla tomba (Itália, 1971) Direção: Emilio Miraglia Com: Anthony Steffen, Marina Malfatti, Erika Blanc, Giacomo Rossi-Stuart, Enzo Tarascio, Roberto Maldera, Joan C. Davis.

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