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The Mask of Satan - 1960


Bruxas queimadas em fogueiras da Inquisição; mortos que ressuscitam de suas tumbas frias; um imponente castelo gótico com passagens secretas e portas rangendo produzindo sons tétricos; névoas fantasmagóricas; ruídos assustadores dos ventos gelados da noite; cemitérios e criptas abandonadas e consumidas pela ação devastadora do tempo... Além disso tudo, ainda somam-se a presença do cineasta italiano Mario Bava (1914/1980) e da bela atriz inglesa Barbara Steele, uma das mais importantes “rainhas do grito” do cinema fantástico... O resultado encontrado é um filme italiano produzido há quase meio século atrás, fotografado em preto e branco e intitulado “A Máscara de Satã” (The Mask of Satan / La Maschera del Demonio, 1960), lançado em DVD no Brasil pela “Dark Side”.


No século XVII, Satã estava por toda a Terra. E grande era a ira contra esses seres monstruosos sedentos por sangue humano. A tradição lhes deu o nome de vampiros. Não havia apelo para pena ou piedade. Irmãos não hesitavam em acusar irmãos. E pais acusavam filhos. Na tentativa desesperada de purificar a Terra do terrível surgimento de assassinos sedentos de sangue. Mas antes de matá-los, a justiça humana antecipava o julgamento divino marcando com fogo em suas peles a marca de Satã.


O filme inicia-se em 1830, com a princesa Asa (Barbara Steele) sendo julgada e condenada à morte pela Inquisição por prática de feitiçaria e vampirismo, recebendo a marca do demônio gravada em ferro quente nas costas, além também de ser obrigada a usar a “máscara de Satã”, uma armadura coberta de pregos, cravada impiedosamente no rosto. Antes de ser executada na fogueira juntamente como o príncipe Igor Javutich (Arturo Dominici), também com o rosto perfurado pela máscara do diabo, e de ser consumida pelas chamas purificadoras com a terrível dor do fogo ardente na carne, a malévola Asa amaldiçoa seus carrascos e jura vingança aos seus inimigos.


Como que por ordem do demônio, a rápida reunião dos elementos extinguiu as chamas purificadoras. As pessoas aterrorizadas fugiram do lugar amaldiçoado. E por toda aquela noite o sino da igreja soou para manter afastados os espíritos do mal. Quando a ira se passava, os corpos das bruxas eram cobertos com terra não consagrada em um lugar reservado para enterrar assassinos. E o corpo da bruxa Asa foi colocado na tumba de seus ancestrais.”


O cadáver da bruxa vampira Asa escapa da incineração e é então enterrado na cripta de sua família. A capela é amaldiçoada, sendo abandonada e destruída pelo tempo. Passam-se duzentos anos quando surgem um médico, Prof. Thomas Kruvajan (Andrea Checchi) e seu assistente Dr. Andre Gorobec (John Richardson), que estão a caminho de uma conferência de medicina em St. Petersburgh, com passagem pela cidade de Mirgorod. Um acidente com uma das rodas da carruagem em que viajavam forçou o amedrontado cocheiro Nikita (Mario Passante) a parar para uma manutenção. Os médicos decidem então fazer um reconhecimento das redondezas e encontram uma cripta abandonada, próxima ao castelo da família Vajda, formada pelo pai (Ivo Garrani), e um casal de jovens irmãos, a bela princesa Katia (novamente Barbara Steele) e o príncipe Constantine (Enrico Olivieri).


No interior da capela em ruínas, os médicos encontram o túmulo amaldiçoado de Asa, onde em seu interior repousava o cadáver da bruxa, com os orifícios dos olhos preenchidos por vermes e lesmas. Um acidente num confronto com um morcego gigantesco permite que gotas do sangue do Prof. Kruvajan caiam sobre o corpo apodrecido da bruxa, propiciando o início do processo de sua ressurreição. Ela invoca a presença do demoníaco Javutich, que de forma sobrenatural abandona sua sepultura saindo debaixo da terra para auxiliar Asa na tentativa de obtenção de mais energia, força e poder, através da posse do corpo de sua descendente, a princesa Katia Vajda.


Porém, para combatê-los em seu plano maquiavélico de vingança e tentar salvar a princesa, surgem os esforços conjuntos do jovem médico Andre, apaixonado por Katia, e de um padre local (Antonio Pierfederici), um estudioso da lenda sobre o passado de terror da região, e conhecedor das formas de anular a maldição.


Entre os vários destaques de “A Máscara de Satã”, é imprescindível registrar a cena em que a máscara do demônio é cravada brutalmente no belo rosto de Asa, através da pancada de um pesado martelo. A armadura de aço com pregos pontiagudos é pressionada violentamente contra a face da bruxa, rasgando a carne e jorrando sangue por seus orifícios (imaginem o desespero e a dor sentida pela mulher!). Outra seqüência digna de registro é a macabra ressurreição do sinistro Javutich, que volta do mundo dos mortos também com a máscara do demônio cravada no rosto, saindo vagarosamente de sua tumba gelada remexendo a terra, num momento de absoluto horror.


Entretanto, o filme também possui um lado negativo, que fica por conta do final decepcionante e sem ousadia, num típico encerramento “feliz” e insatisfatório, quando se esperaria uma definição mais perturbadora utilizando as idéias apresentadas por todos os interessantes elementos de horror explorados ao longo da história. Confesso que achei o desfecho bastante irritante, mas apesar desse deslize, e por todo o resto do filme, pelo clima mórbido, pela presença de Barbara Steele em papel duplo, e pelo horror gótico, o filme merece uma nota alta na avaliação, e certamente é um dos mais importantes exemplos do cinema fantástico da década de 60 do século passado.


O selo “Dark Side” da “Works Editora”, responsável pela distribuição no Brasil de uma infinidade de filmes de horror dos anos 50, 60 e 70 no formato DVD, presenteou o fã e colecionador com o lançamento de “A Máscara de Satã”. O disco traz como material extra uma sinopse (igual a da contra capa do estojo), as biografias do cineasta Mario Bava e da atriz Barbara Steele, além de uma galeria de fotos e um trailer original legendado em português de aproximadamente três minutos e meio de duração.


A atriz Barbara Steele nasceu em 1937 na Inglaterra e é um dos poucos nomes femininos eternamente associados ao cinema de horror. Alguns de seus filmes são “A Mansão do Terror” (Pit and the Pendulum, 61), ao lado do ícone Vincent Price e com direção de Roger Corman numa história inspirada em Edgar Allan Poe, “Dança Macabra” (Castle of Blood, 64), “A Máscara do Demônio” (The Long Hair of Death, 64), “Amor de Vampiros” (Nightmare Castle, 65), “A Maldição do Altar Escarlate” (Curse of the Crimson Altar, 68), com os ídolos Boris Karloff e Christopher Lee, “Calafrios” (Shivers, 75), de David Cronenberg, entre outros.


Entre as curiosidades, temos o fato do filme ter recebido vários títulos alternativos na distribuição pelo mundo, indo de “Black Sunday” nos Estados Unidos (lançado em 1961 pela “American International Pictures”), passando por “Revenge of the Vampire” na Inglaterra, além de “House of Fright”, “Mark of the Demon”, “The Demon’s Mask” e “The Hour When Dracula Comes”. A idéia de como a bruxa Asa inicia sua ressurreição, através do contato com gotas de sangue de um ferimento do Prof. Kruvajan, foi também utilizada para trazer o Conde Drácula de volta à vida, no início do filme “Drácula, o Príncipe das Trevas” (65), produção da “Hammer” e com Christopher Lee. Os efeitos e recursos técnicos utilizados na transformação da vampira Asa deformada na beleza de sua descendente Katia são os mesmos já vistos muitos anos antes no clássico “O Médico e o Monstro” (32), com Fredric March, quando da transformação do pacato e gentil Dr. Jekyll no demoníaco e assassino Mr. Hyde, e vice-versa. A garota adolescente Germana Dominici, que faz o papel de Sonya, a filha da proprietária do bar da cidade (Clara Bindi), e que recolhe o leite de uma vaca num celeiro a pedido de sua mãe, é na vida real a filha do ator Arturo Dominici, o diabólico Javutich, que ressurgiu dos mortos para auxiliar Asa na conquista da vida eterna. O conto “The Viy”, escrito pelo ucraniano Nikolai Gogol, e que serviu de inspiração para o roteiro de “A Máscara de Satã”, foi também adaptado para o cinema num filme russo posterior, “Viy – O Espírito do Mal” (Viy or Spirit of Evil, 67), de Konstantin Yershov e Georgy Kropachyov, também lançado em DVD por aqui pela “Dark Side”.


Vocês nunca escaparão de minha vingança, ou a de Satã! Minha vingança procurará vocês, e com o sangue de seus filhos, e dos filhos deles, e dos filhos deles, eu continuarei a viver para sempre! Eles devolverão a vida que agora vocês estão roubando de mim!” – Bruxa vampira Asa, amaldiçoando seus inimigos no momento da execução na fogueira.


A Máscara de Satã / A Maldição do Demônio (The Mask of Satan / La Maschera del Demonio, Itália, 1960). Preto e branco. Duração: 87 minutos. Direção de Mario Bava. Roteiro de Ennio de Concini, Mario Serandrei, Mario Bava (não creditado) e George Higgins (versão americana), baseados no conto “The Viy”, de Nikolai Gogol. Produção de Massimo de Rita e Lou Rusoff (versão americana). Música de Roberto Nicolosi e Les Baxter (versão americana). Fotografia de Ubaldo Terzano e Mario Bava. Edição de Mario Serandrei. Direção de Arte de Giorgio Giovannini. Efeitos Especiais de Eugenio Bava e Mario Bava (não creditados). Elenco: Barbara Steele (Bruxa vampira Asa / Princesa Katia Vajda), John Richardson (Dr. Andre Gorobec), Ivo Garrani (Príncipe Vajda), Andrea Checchi (Dr. Thomas Kruvajan), Arturo Dominici (Príncipe Igor Javutich), Enrico Olivieri (Príncipe Constantine Vajda), Antonio Pierfederici (Padre), Tino Bianchi (Ivan), Renato Terra (Boris), Mario Passante (Nikita), Clara Bindi (Proprietária do bar), Germana Dominici (Sonya).

Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 07/12/05

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