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Torso (I corpi presentano tracce di violenza carnale) - 1973


Eis o Giallo em sua essência mais pura. Nada de firulas e rebuscamentos, o que temos aqui é simplesmente um exercício de sadismo direto, brutal e sensual. Ao meu ver esse filme é o exemplar desse subgênero do exploitation italiano que mais se aproxima de seu filho bastardo americano: os slashers movies, mais até do que Banho de Sangue (Reazione a Catena, 1971) do Mario Bava (mesmo que pese o fato deste último ter servido declaradamente de matriz para os primeiros exemplares da série Sexta-Feira 13).

A trama chega a ser absurdamente ridícula de tão simples, e paradoxalmente notável de tão funcional: como muitos outros filmes (principalmente milhares dos já citados slashers que seriam feitos posteriormente) temos aqui um misterioso assassino mascarado (e usando luvas de couro pretas, of course, afinal estamos num Giallo!) aterrorizando a cidade ao assassinar jovens e indefesas universitárias (e gostosinhas também, é claro!). Óbvio que as vítimas são do mesmo ciclo de amizades e que o misterioso psicopata deve ser algum conhecido das moças. Assim como Jason Voorhees, o nosso vilão mascarado aqui também parece ser onipresente e pronto para assassinar pessoas depois de cometer coisas feias como sexo e uso de drogas, mas ao contrário de seu similar yankee (que sempre me pareceu dotado de um viés moralista), o carcamano não se contenta em apenas matar as pessoas, após o homicídio ele se aproveita e bolina os seios dos cadáveres (esses italianos são uns sacanas mesmo!) para depois dar aquela esquartejadinha básica. A principal personagem feminina, a final girl da trama, é Jane (Suzy Kendall, que a essa altura já era um ícone do Giallo ao estrelar o sucesso O Pássaro das Plumas de Cristal do Argento, e curiosamente a única garota que não tira a roupa no filme!), que mesmo após suas amigas serem assassinadas, se juntam com outras três e vão passar uns dias bucólicos numa mansão no interior, é claro que o assassino se deslocara para lá (assim como outros personagens masculinos, para aumentar o número de suspeitos) o que proporcionará um clímax inesquecível!

Como podem ver I CORPI PRESENTANO TRACCE DI VIOLENZA CARNALE (esse título é simplesmente genial!) não tem nada de original e amontoa clichês até dizer chega (não falta nem mesmo o trauma infantil do psicopata), mas o que poderia gerar uma merda completa acaba sendo sua maior força! Mérito total para o diretor Sergio Martino que aqui construiu sua opus, um cara que sempre foi relegado para o segundo escalão do exploitation italiano que com uma sinopse simples e banal se esbalda criando um universo de pura violência e sensualidade. Se o Giallo surgiu como uma versão cinematográfica macarrônica dos velhos contos de mistério da língua inglesa (mais notadamente inspirado em nomes como Edgar Wallace e Aghata Christie), só que ao contrário do clima pueril de sua fonte literária, teríamos uma dose maior de violência e erotismo. Aqui o diretor simplesmente pega essas regras básicas e os maximiza. Os assassinatos aqui são brutais e o sangue corre vermelho aos litros (com direito a desmembramentos feitos com uma serra), quanto ao erotismo o clima de putaria permeia quase todo o filme, com as garotas tirando a roupa constantemente, poucas vezes se viu vítimas tão lascivas quanto as daqui. E todos os personagens masculinos parecem tarados em potencial (sem contarmos que foi feito em plena época da ressaca do flower power e seu clima de amor livre). Martino nos brinda com dois momentos antológicos: o assassinato da moça (interpretada por Conchita Airoldi, aqui creditada como Cristina Iroldi) na floresta em meio a névoa, com movimentos de câmera inspirados e a ótima trilha sonora de autoria dos irmãos Guido e Maurizio de Angelis, uma cena realmente genial. E a meia hora final em que a personagem de Suzy Kendall tem que se esconder do assassino dentro da mansão, elevando o nível de suspense a picos incríveis, realmente de tirar o fôlego! Isso sem contar da abertura com créditos, aonde se vê ao fundo uma suruba desfocada! Não deixa de ser curioso também o fato do filme ser produzido pelo poderoso produtor CARLO PONTI (de obras como o épico DR. JIVAGO de DAVID LEAN), aqui num claro momento de pura insanidade!

Censurado e mutilado nos países de língua inglesa quando do seu lançamento. A versão uncut lançado pelo selo norte-americano Blue Underground, a exemplo do Profondo Rosso do Argento, tem cenas faladas na língua italiana simplesmente por que não existem as cenas com a dublagem inglesa, enquanto o resto fica dublado em yankee mesmo. Enquanto aqui no Brasil saiu uma cópia em dvd pela Continental das mais vagabundas, as cores são tão desbotadas que o filme todo fica quase em sépia! Não comprem essa tranqueira digna de PROCON, sei que não é muito ético, mas levando em conta a qualidade sofrível dessa “versão” brasileira, é melhor baixar, que na internet tem cópias cristalinas. Acredite: isso é mais digno ao filme.


Embora seja desdenhado até hoje por imbecis pomposos, não é a toa que gente como Quentin Tarantino e Eli Roth pagam louvores de joelhos para essa obra. Rústico, bruto e viril, é simplesmente o exploitation italiano em sua melhor forma. Torso talvez seja a obra-prima de Martino e com certeza um dos meus Gialli favoritos! Um filmaço!


Torso (I corpi presentano tracce di violenza carnale, 1973) Direção: Sergio Martino Com: Suzy Kendall, Tina Aumont, Luc Merenda.

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