Dark Souls aka Mørke sjeler - 2010
O cinema de horror da Noruega tem adquirido destaque recentemente após o remake do fantástico "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", uma co-produção com a Suécia, Dinamarca e Alemanha. Antes do filme de Niels Arden Oplev chegar à América, diversos longas noruegueses entraram em pauta positivamente entre os fãs do gêneros, como "Lake of the Dead" (1958), "Villmark" (2003), "Manhunt" (2008) e "Dead Snow" (2009), a imitação de "A Vingança de Jennifer", "The Whore", "Hidden" (2009), de Pål Øie, e outros viram a partir daí: "O Caçador de Trolls" (2010) e a trilogia "Cold Prey", além do tema desta resenha, "Dark Souls" (2010), de César Ducasse e Mathieu Peteu.
"Mørke sjeler", como ele é originalmente denominado, teve algumas passagens em festivais pelo mundo, e algumas exibições no CineFantasy, em São Paulo, sendo que duas em setembro de 2010, com as salas lotadas e o público se manifestando através de risadas e aplausos. Não que o filme seja engraçado ou tenha motivos para uma atitude animadora, mas a quantidade de cenas mal coreografadas, as cópias de produções do gênero e as atuações fracas podem levar o espectador a se expressar dessa forma.
Na trama, Johanna é perseguida e morta por um estranho, enquanto fazia uma corrida pela mata. Vestindo roupas laranjas - como um gari, no Brasil -, uma máscara cirúrgica e óculos de proteção, o assassino perfura a cabeça da garota com uma furadeira, largando-a sem vida próxima a um riacho. Depois que é encontrada pela polícia e conduzida ao IML, a jovem se levanta de seu leito hospitalar e retorna para casa, para surpresa de seu pai, Morten (Morten Rudå), exatamente no momento em que ele era avisado de sua morte, numa cena bem interessante e assustadora. Em estado deplorável, Johanna fica sentada diante de seu computador, digitando "me ajude", e emitindo um som que lembra os fantasmas de "O Grito".
Com o tempo, Johanna (Johanna Gustavsson) passa a ficar cada vez mais catatônica, enquanto vomita uma gosma preta e vai entrando num processo sobrenatural de decomposição. Outras vítimas confundem a incompetente polícia, ao passo que Morten resolve investigar por conta própria o que aconteceu com sua filha e o responsável pelo ato, chegando até uma fábrica de zumbis e um grupo de soldados que planeja a dominação do planeta ou o apocalipse, ou sei lá.
Apesar do argumento ser interessante, várias cenas foram copiadas de produções do gênero, deixando o espectador consciente de estar vendo uma versão genérica de "A Coisa" (1985) e tudo o que foi feito no Japão a partir do novo milênio. Os "zumbis" de "Dark Souls" não seguem a cartilha romeriana, ou seja, não se alimentam de carne humana, apenas transmitem a doença através da gosma preta, deixando no ar uma pergunta que evidencia um furo no roteiro: se basta um contato com o líquido macabro para se transformar, para que os operários atacavam as pessoas na cidade e abriam suas cabeças com a broca? Não teria sido mais fácil jogar o produto na água ou forçar a ingestão?
Com a ajuda de um mendigo e ex-funcionário da fábrica - cujo contato do pai partiu de uma coincidência absurda -, Morten e o espectador descobrem como tudo começou: homens que buscavam petróleo encontraram algo "mais negro que a escuridão da alma". Apesar de pedir ajuda para entrar no local, o modo usado é o mais óbvio e ridículo possível, através do portão por onde entrou o detetive. Aliás, todas as cenas envolvendo a delegacia são tão mal feitas e caseiras que são capazes de provocar a risada das testemunhas. Mas não tantas risadas quanto toda a sequência na fábrica...
Morten é um pai gordinho e atrapalhado. Ele chega a lutar com alguns funcionários, com momentos que beiram Os Trapalhões, abaixando no golpe final ou empurrando um inimigo de uma certa altura. Assumindo um clichê histórico, ele encontra roupas laranjas largadas por ali e resolve se disfarçar (felizmente, a roupa coube perfeitamente em seu corpo robusto) para tentar sair do ambiente, comunicando-se por meio do som da furadeira (!!!). No entanto, os soldados estão numa fila que conduz ao líder, um velho decrépito que enche copos do líquido preto por uma torneira e depois coloca etiquetas (!!!).
DARK SOULS provoca a risada do espectador com momentos toscos e absurdos que se acumulam em cada ato. Tudo isso somado às atuações capengas e às imitações clássicas fazem com que o longa norueguês se torne uma diversão para qualquer grupo de amigos, numa noite de sábado. Longe de fazer jus aos longas fantásticos do país, a produção nada mais do que é um divertido filme B, sem pretensão alguma de conquistar o mundo.