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A Day of Violence - 2010


Foi a partir da década de 70 que o gênero policial passou a abordar com mais intensidade os crimes cometidos pela máfia, principalmente com a inflUência de Francis Ford Coppola na famosa trilogia O Poderoso Chefão. A violência desenfreada já havia aparecido em clássicos como "Operação França" (1971), com Gene Hackman, "Chinatown" (1974), de Roman Polanski, entre outros, e voltaria mais tarde com Quentin Tarantino, no excelente "Cães de Aluguel" (1992). A fórmula de sucesso trazia policiais, gangsters, perseguições de carro, belas e sedutoras mulheres e tiros para todo lado, o que fez com que o estilo fosse associado exclusivamente aos homens. Ora, era sinal do virilidade masculina falar grosso, estar sempre armado e não ter medo de enfrentar quadrilhas em situações extremas. Inspirado pelo período, o cineasta Darren Ward, que já havia mostrado seu gosto pelo estilo em seu longa anterior, "Sudden Fury", fez um filme que teria uma boa repercursão caso tivesse sido lançado trinta anos antes. "A Day of Violence" bebe na sangrenta fonte do período ao trabalhar com personagens caricatos e mergulhá-los numa trama convencional, cujos benefícios se perdem na tentativa exagerada de homenagear o gênero. Parece que o diretor se espelhou nos filmes amadores da época, aqueles que eram exibidos nas Grindhouses onde o sentido se torna vazio, escondido em frases de efeito, anti-heróis e situações absurdas.

"A Day of Violence" tem como protagonista o gordinho Mitchell Parker (Nick Rendell, de "Sudden Fury"), um capanga dúbio com uma tênue personalidade, cujos propósitos só serão justificados na sequência final. Antes que o público pudesse simpatizar com sua meiguice, explorada na quente cena de sexo do início, a narrativa já corta para mostrá-lo nu em um necrotério, com um baita ferimento no corpo, deixando à mostra parte da sua genitália. Assim como Brás Cubas e Lester Burnham, personagem de Kevin Spacey em "Beleza Americana", já sabemos que o protagonista terá um destino trágico, faltando saber como isso acontecerá. No caso de Mitchell fica ainda mais difícil entender o seu destino, já que nos primeiros trinta minutos ele terá motivos de sobra para deixar sua cova aberta. Ao cobrar uma dívida de 100 mil do traficante Hopper (o ícone italiano Giovanni Lombardo Radice, de "Cannibal Apocalipse", "Pavor na Cidade dos Zumbis", "Cannibal Ferox", "O Pássaro Sangrento", "A Catedral", e muitos outros), Mitchell exagera na dose, mata-o e rouba o dinheiro, sem saber que seu ato foi filmado com o celular. Ele corta a relação com seu ex-patrão e é convencido pelo amigo Smithy (Steve Humphries) a entrar para a gangue do criminoso Curtis Boswell (Victor D. Thorn), mas também não imaginava que o novo chefe seria o verdadeiro dono da grana que ele roubou. Depois de testemunhar a tortura de Smithy - que além de apanhar e levar tiros nos membros inferiores, teve seu pênis arrancado com uma tesoura de jardim -, Mitchell é incubido da missão de buscar o dinheiro de Hopper. Sim, aquele mesmo bandido que ele matara no começo do filme receberá novamente a visita dele acompanhado de um capanga. Assustado com a possibilidade de ser descoberto e ter um fim parecido com o do amigo, Mitchell precisa arrumar um jeito de se livrar de todos esses problemas - e de outros que ele irá arrumar pelo caminho -, mesmo que, para isso, seja obrigado a matar novamente.

Durante sua jornada pelo lado obscuro da criminalidade, Mitchell ganha pontos com o público ao se sentir incomodado com os momentos de tortura da esposa de seu amigo, quando sua "traição" torna-se evidente. O mesmo acontece depois que ele é capturado pelos bandidos e passa também por uma dolorosa agressão, cercado por dezenas de vilões, numa condição similar a que condenou Smithy. É claro que ele arrumará um jeito de escapar daquele "albergue", enfrentando os inimigos com diversas armas, por ambientes variados. Como é exibido na capa da produção, ele assumirá um lado sangrento, com apenas um olho intacto, enquanto dispara sua metralhadora e frases-clichê, conseguindo se esquivar das centenas de balas como um ágil herói de quadrinhos. O título faz justiça com as sequências de mutilação e violência, cobrindo a lente de vermelho e o som com gritos de horror. Talvez pela referência ao gênero, "A Day of Violence" possua uma narrativa intensa, embora seja fraco tecnicamente. Com deficiências na direção e na fotografia evidentemente amadora, os pontos fortes estão na trilha de Dave Andrews e nos efeitos especiais, principalmente na cena da castração - motivo pelo qual a produção ganhou o prêmio de melhores efeitos no CineFantasy 2011. Ainda que tente homenagear o estilo, o roteiro óbvio e os personagens caricatos impedem uma apreciação melhor da película. Num contraste entre ousadia e lugar-comum, o filme pode até agradar os menos exigentes ou saudosistas, porém será facilmente esquecido entre outras obras importantes do estilo.

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