Darkhunters - 2004
Depois de ter testemunhado o terrível “Hellbreeder – O Desconhecido”, imaginei que nunca mais teria o desprazer de assistir a outro filme dirigido por Johannes Roberts. Infelizmente, o destino trouxe às minhas mãos mais uma produção desse diretor, e me senti na obrigação masoquista de assisti-lo para alertar futuros curiosos. Quem sabe Johannes não teria evoluído sua competência?
Realizado em 2004, “Darkhunters” é um conto de horror envolvendo anjos e demônios numa batalha por almas, numa história interessante que poderia muito bem servir como piloto de uma série de televisão. Em contrapartida à ótima ideia, o roteiro é fraquíssimo e chato ao extremo, com seu excesso de diálogos e cenas arrastadas e sonolentas, seguindo o ritmo que o diretor já havia apresentado em seu filme anterior. Além disso, com o baixo orçamento da produção – de acordo com o IMDB, realizaram o filme inteiro à luz do dia, pois não tinham equipamento noturno – era esperado um trabalho mais sugestivo e não tão explícito. A maquiagem funciona no primeiro momento, quando aceitamos os baixos recursos, mas com a aparição em excesso dos monstros, os defeitos técnicos tornam-se evidentes demais, conforme explicarei no decorrer da análise.
“Darkhunters” começa com a bela Carol Miller (Susan Paterno) narrando o seu fardo, enquanto a vemos perseguindo uma outra jovem, Georgina (Tina Barnes, que também trabalhou em “Hellbreeder”), no interior de um casarão abandonado. Encurralada, a garota quer saber porque está sendo constantemente perseguida, mas Carol não perde tempo para muitas explicações e a mata com o tiro de uma arma calibre doze. Em sua narração, ela pede ao espectador que não a julgue pelo crime antes de saber a verdade sobre sua atitude. Carol diz que fantasmas existem. Eles são almas que, devido a um erro no sistema, não puderam ir nem para o Céu, nem para o Inferno, ou até mesmo o Purgatório, tendo que ficarem vagando pela Terra enquanto aguardam o “conserto” dos “darkhunters” - se forem mortas pelos anjos, vão para o Céu; se forem mortas pelos demônios, vão para o Inferno. Carol é uma “darkhunter” do bem. Ela então decide explicar como foi designada a essa missão divina, trazendo à luz um flashback típico do diretor.
Com a mão suja de sangue, Carol entra numa igreja e decide se confessar para um padre. Então, ela começa a contar sua história sobre anjos e demônios e como conseguiu fazer parte dessa disputa. Com o flashback, retornamos cinco anos, e acompanhamos o despertar de um homem, Charlie Jackson (Dominique Pinon, que trabalhou com Johannes no filme anterior). Ele acorda para trabalhar, troca-se e, quando abre a porta de casa, estranha a quantidade de gatos que o cerca. Os animais insistem em cruzar seu caminho e invadir seu carro, fazendo com que ele se atrase para o serviço. Ao chegar à escola onde trabalha, ele percebe que as pessoas não o estão vendo, já que constantemente o derrubam e o ignoram. Sua imagem no reflexo do espelho do banheiro não está tão nítida, o que o faz perceber que por algum motivo está desaparecendo.
Ao retornar para casa, ainda incomodado pelos gatos, ele descobre que sua esposa também não o está vendo, num terrível pesadelo típico de uma história da saudosa série, “Além da Imaginação”. Não entendendo a situação, Charlie vê a chegada de um misterioso homem, Barlow (Jeff Fahey, de “Psicose 3”, “O Passageiro do Futuro”) , bem vestido e armado. Ele então foge por um parque, enquanto se esquiva dos gatos que também o perseguem.
Longe dali, num hospital psiquiátrico, Carol Miller atende uma paciente, Isabella (Azucena Duran, mais uma que participou de “Hellbreeder”, e ainda com o mesmo nome) encontrada abandonada nas ruas da cidade. A jovem conta sua história – que não tem relação nenhuma com a trama, mas merece ser relatada aqui apenas como curiosidade sobrenatural. A paciente diz que há cinco anos (não sei porque sempre cinco anos) sofreu um terrível acidente de carro com seu marido. Ela ficou sem um arranhão, mas o marido ficou completamente desfigurado e entrou em coma. Enquanto aguardava sua recuperação, com as constantes visitas ao hospital, ela acabou se apaixonando pelo médico que cuidava dele. Sem esperança de melhora do marido, Isabella se divorciou dele e se casou com o tal médico. Cinco anos depois, ela estava em casa e recebeu um telefonema do hospital. O atual marido pedia que ela fosse para lá, às pressas, sem dizer o motivo. Enquanto se arrumava, alguém bateu na porta e ela foi atender. Para sua surpresa, era o ex-marido, ainda desfigurado pelo acidente, que estava diante dela. Isabella contou a verdade para ele, pediu desculpas, e disse o quanto sofreu durante anos até encontrar um novo amor. Ele entendeu o ocorrido, mas pediu um beijo de despedida. Isabella o beijou e depois correu ao hospital para ver seu marido. Ao chegar ao local, percebeu que todos a olhavam com estranheza, inclusive seu marido. Ele então explicou o motivo dos olhares curiosos: ela estava desaparecida há cinco anos. Ele se cansou de procurá-la, então decidiu se casar com outra mulher. Isabella contou a ele sobre seu encontro com o ex-marido – que para a jovem, teria ocorrido há apenas algumas horas – e o médico disse que ele está morto há cinco anos e que nunca conseguiu sair do coma...brrrrr
Após ouvir esse relato, Carol, que curiosamente usa luvas o tempo todo – algo que será explicado mais a frente -, completa seu horário de serviço e vai para casa de carro. No caminho, o veículo quebra numa estrada deserta e ela resolve pedir ajuda a um estranho homem que corre desesperadamente pelo parque: é o tal Charlie Jackson, que ainda foge dos gatos, de Barlow e também de uma estranha criatura encapuzada, que possue dentes horríveis e tem seu rosto coberto por fogo – não se anime, a maquiagem é terrível!
Aos poucos (ênfase na palavra “poucos”), Carol vai descobrindo os mistérios da trama e seu papel nessa batalha em busca de almas. O roteiro utiliza um recurso péssimo para mostrar a jovem e ao público toda essa bagunça de batalha, gatos e “darkhunters”: depois que Charlie mata um gato e foge, a jovem senta num restaurante com Barlow e conversa durante uns cinco minutos como se fossem amigos, enquanto discutem a relação Paraíso-Inferno-Purgatório e as criaturas que perseguem as tais almas perdidas. Carol descobre que somente ela vê Charlie e os demais fantasmas e que um acidente que teve na infância tem relação com sua missão na Terra.
Quando tinha 8 anos de idade, Carol foi atropelada violentamente por um veículo em alta velocidade, enquanto passeava com um gato que acabara de libertar de uma gaiola. Detalhe: embora os recursos sejam limitados, esse acidente é perfeito. Acho que a atriz foi realmente atropelada na cena, pois não há cortes na filmagem e o impacto é realmente violento. De acordo com a personagem, o atropelamento fez com que a alma dela e do gato se unissem, dando a ela um estranho dom no estilo “A Mão do Diabo” e “Corpo Fechado”. Carol não pode encostar as mãos em ninguém sem luvas, pois o toque faz com que ela veja como a pessoa vai morrer. Sinistro, não?
Esse dom de prever a morte faz com que Carol encontre os fantasmas que deve caçar e matar para salvar a alma. Além disso, basta seguir os gatos – animais sagrados entre os egípcios pela sua capacidade de ver fantasmas e guardar a morte – para facilitar ainda mais a busca.
A ideia é realmente boa, mas o roteiro, ao invés de utilizar todos esses recursos para encher a trama de fantasmas e batalhas, prefere mostrar apenas o desfecho da perseguição ao fantasma Charlie. Além disso, acaba não deixando claro se há outros “darkhunters” do bem e porque há demônios com aparência normal – como a de Barlow – e outros com aspecto monstruoso. Por falar em monstros, a aparência de um anjo (que ilustra a capa do filme), cuja função de conduzir a alma ao Paraíso, é realmente bizarra.
Se não bastasse as deficiências em relação ao roteiro, maquiagem e direção, “Darkhunters” também possui uma trilha sonora completamente irritante e mal utilizada, com suas batidas tecnos em cenas de tensão – esse estilo só funciona em cenas de ação – e o exagero de utilizar músicas a todo momento, erro também cometido em “Hellbreeder”. A composição original pertence a mesma pessoa que roteirizou e dirigiu o filme, Johannes Roberts, uma espécie de Uwe Boll sem recursos.
Curiosamente, o trabalho seguinte desse diretor teve a presença ilustre de Tom Savini no elenco. Trata-se de “Forest of the Damned”, mais uma produção sobre anjos que caem do céu em busca de almas e mais uma bagaceira que somente os fãs de horror bizarro são capazes de conferir.