Macabre aka Ruma Dhara - 2009
A 33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo terminou em 5 de novembro de 2009, após a exibição de 424 produções de diversos países nas categorias Competição de Novos Diretores, a Perspectiva Internacional, a Mostra Brasil, Retrospectivas e a Mostra Suécia. É sempre interessante participar desse prestigiado evento que é uma janela de acesso a filmes que dificilmente terão espaço nos cinemas, locadoras e lojas brasileiras.
Foi na Mostra de 2002 que tive o privilégio de conferir o excelente Fácil de Enterrar (Soft For Digging, 2001), que é um exemplo claro de produção que não teve lançamento no Brasil e muitos fãs do gênero perderam a oportunidade de conhecer o pesadelo do velho Virgil e seu encontro com a morte de uma criança. Pois, em 2009, chegou a vez do terror de Singapura com Macabro (Macabre aka Ruma Dhara - 2009), exibido no Cine Olido. Uma produção nada inovadora, mas possui elementos suficientes para figurar entre os mais sangrentos trabalhos do gênero remetendo aos clássicos O Massacre da Serra Elétrica e Fome Animal.
É a primeira produção do estúdio Gorylah Pictures, da Singapura, e tem a direção da dupla da Indonésia conhecida como The Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto), que, em 2007, dirigiu um curta chamado Dara, a fonte de inspiração para Macabro, já contando com a protagonista vilâ do remake, Shareefa Daanish. Aliás, é ela o maior destaque do filme, com seu jeito agressivo de lidar com visitas e sua voz carregada de simplicidade e maldade.
O enredo é bem simples: nos primeiros trinta minutos conheceremos seis pessoas num pub em Bandung, pretendendo uma viagem para Jacarta. Na saída para a estrada, encontram uma jovem perdida, a bela Maya (Imelda Therinne), e decidem levá-la para sua residência - enfim, uma série de clichês que justificam o trágico fim. Se o grupo fosse fã de filmes de terror notariam os sinais claros de uma tragédia iminente: a garota estar sozinha na região, sua postura atípica, a moradia sinistra com cabeças de animais e armas para todo lado, uma família que não esconde um lado sombrio. Inclusive, uma das jovens chega a presenciar um dos membros da família carregando algo pelo jardim - o que já serviria de motivo para uma saída pela direita, mas a acefalia dos jovens continua contribuindo para o gênero fantástico.
Depois de uma bela refeição, sem a presença de dois amigos, um casal cuja esposa espera um filho em seu oitavo mês, todos acabam dormindo depois de ingerir um "boa noite, Cinderela", sem conseguir ouvir a voz da anfitriã Dara pedindo que o filho leve-os para o sótão e prepare as ferramentas para algum ritual macabro. A partir daí, o filme engata uma quinta marcha, com o grupo tentando sobreviver aos quatro assassinos, enquanto fogem pelos cômodos da casa e pela mata. A diversão torna-se ainda maior quando chega um grupo de policiais para revistar o local, culminando num massacre em proporções inimagináveis, com tiros de bestas, espingardas e até uma batalha envolvendo uma motossera e um espada de Samurai - algo parecido com o que vemos no encontro entre Jason e Leatherface nos quadrinhos. A propósito, os The Mo Brothers têm o seu próprio Leatherface, um gordão escroto, sem deformidades no rosto, mas silencioso e sádico.
O que interessa em Macabro há de sobra: sangue, tripas, a violência que não poupa o espectador em mostrar ferimento nos olhos, nas mãos, queimaduras, membros decepados e até esqueletos de bebês - num dos momentos mais terríveis do filme. E ainda sequências que permitem o riso involuntário como os policiais na moradia, a imortalidade dos personagens - talvez por se alimentar de carne humana - e, principalmente, a canastrice de Adam (Arifin Putra), com seu olhar de maldade exageradamente teatral.
Toda a brutalidade em cena trouxe notoriedade para os The Mo Brothers, tanto que Timo Tjahjanto assumiu a condução de dois segmentos, um pelo The ABCs of Death, com a letra L de Libido (um dos melhores, diga-se de passagem), e simplesmente a melhor parte de V/H/S/2 intitulada Safe Haven, envolvendo seita macabra, suicídios em massa e a vinda do demônio. Com esse currículo, esses irmãos merecem uma atenção especial em seus próximos trabalhos, mesmo que seja para revisitar uma macabra família de Jacarta.