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The Black Cat aka Il Gatto nero - 1981


Um homem caminha tranquilamente pelas ruas de um vilarejo, seguido por uma pequena criatura de quatro patas - que o infernauta já saberá sua identidade antes dos créditos surgirem na tela. Ao entrar em seu carro, ele esquece a porta de trás aberta e permite a entrada de seu algoz felino. Alguns metros a diante, seus olhos irão se encontrar com os do demônio negro, fazendo-o ficar hipnotizado até largar a direção do veículo. Chocando-se com um carro estacionado, seu corpo é atirado pelo vidro evidenciando o sangue que escorre por sua cabeça esmagada. Em apenas, dois minutos de projeção, você já terá evidências suficientes para acusar o diretor como sendo Lucio Fulci, seja nos closes nos olhos ou na morte sangrenta em plena luz do dia.


Assim começa Gato Preto (Il Gatto nero), filme que o diretor italiano concebeu em 1981, na mesma época em que lançava ao mercado obras como Terror nas Trevas e The House by the Cemetery com seu nome já estabelecido dentre os mestres do gênero. A produção não faz parte dos destaques da filmografia do cineasta, mesmo que sua marca registrada esteja presente durante os 92 minutos e possa ser considerada interessante, principalmente com as referências ao escritor Edgar Allan Poe. Segundo consta nos bastidores, Fulci teria dirigido o longa de modo automático, prestando um favor ao produtor Giulio Sbarigia, mas manteve seu estilo peculiar graças à parceria com Sergio Salvati, desde o western Os Quatro do Apocalipse.


O roteiro de Gato Preto tem a participação de Fulci, mas também leva o nome de Biagio Proietti. Não é preciso muito esforço para notar que as referências a Poe vieram do diretor italiano. Publicado em 1843 no Saturday Evening Post, o texto original trazia um homem que teve seu comportamento alterado devido às influências negativas de seu animal de estimação, levando-o a cometer atrocidades, sem conseguir se livrar do animal. A primeira adaptação cinematográfica foi feita em 1934 com Boris Karloff e Bela Lugosi. Este último voltaria a encarar o felino com Basil Rathbone em 1941 sob a direção de Albert S. Rogell. Depois seria a vez dos astros Vincent Price e Peter Lorre, em 1962, na antologia Muralhas do Pavor, de Roger Corman, enfrentarem o bichano demoníaco. No entanto, o conto só teria uma versão italiana em 1972 quando Sergio Martino comandaria o gato Satã - sim, esse era o nome da criatura - em "Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave", lançado por aqui como "No Quarto Escuro de Satã", numa pincelada à obra original. Dario Argento também deu a sua contribuição à obra com o curta que pertenceu a produção Dois Olhos Satânicos, de 1990, ao lado de George A.Romero, com Harvey Keitel no papel principal.


Após a morte inicial, mais duas vítimas sofrem nas patas do gato preto; dois jovens resolvem namorar numa pequena instalação num porto e ficam presos no local, morrendo sufocados. Longe dali, ao investigar uma tumba, a fotógrafa Jill Trevers (Mimsy Farmer) encontra parte de um microfone usado pelo médium Robert Miles (Patrick Magee) para registrar suas conversas com os mortos. Ele é o dono do gato serial killer, que demonstra pouco afeto arranhando-o nas mãos. Investigando os assassinatos o Inspetor da Scotland Yard Gorley (David Warbeck) pede ajuda a Jill, que começa a acreditar num envolvimento de Miles com os crimes.


Lucio Fulci foge dos exageros de seus trabalhos anteriores ao fazer de Gato Preto um filme mais atmosférico do que sangrento, o que é de estranhar vindo de alguém conhecido como Maestro do Gore. Uma mulher em chamas, um homem pregado ao solo (comum nos filmes de Fulci, basta ver "Manhattan Baby" e "Demonia" para ver cenas parecidas) e arranhões no rosto completam o cardápio macabro do diretor, sem apelos para feridas nojentas e olhos arrancados (em "Demonia", o diretor trouxe gatos mais assustadores do que este, num filme bem inferior). Os efeitos especiais são simples, mas eficientes dentro da proposta de apresentar um animal assassino. A criatura incomoda cada vez que aparece em cena, com a sonoplastia ampliando seus miados e sons cavernosos para dar uma sensação de repulsa.


A obra de Edgar Allan Poe é lembrada quando Miles enforca o animal, ficando gravada a cena sobre a madeira. O médium passa a ser atormentado pela morte do animal com a corda aparecendo em alguns momentos. Também vemos o texto original na sequência final, desde o emparedamento até a conclusão idêntica à obra do autor.

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