All the Colors of the Dark aka Tutti i Colori del Buio - 1972
Mais um grande giallo do mestre Martino, se na sua obra máxima “Torso”, que seria realizado no ano seguinte, ele joga com o regulamento do subgênero italiano debaixo do braço, utilizando a fórmula de forma mais ortodoxa possível elevando tudo ao extremo, aqui o diretor dá uma subvertida ao desprezar o elemento central dos gialli: não há aqui um assassino misterioso cujo rosto o público não vê (e muito menos usando luvas de couro pretas) e embebe tudo num grande clima psicodélico.
O mistério aqui reside em saber se a protagonista Jane Harrison (a deusa Edwige Fenech mais linda do que nunca) está ficando louca ou é vítima de uma conspiração. Para isso, Martino vai além do clima de mistério e suspense adicionando elementos típicos do horror.
A trama gira em torno da personagem Jane, uma bela garota traumatizada que teve sua mãe assassinada quando ela tinha cinco anos e que agora passa por um momento difícil, pois perdeu um bebê, ainda no ventre, em um acidente de carro. Perturbada por pesadelos e pela visão de um homem de olhos azuis (o russo Ivan Rassimov que trabalhou em dezenas de filmes italianos) que a persegue, ela se mostra frígida com seu companheiro Richard (o galã uruguaio George Hilton, astro de alguns gialli e spaghetti westerns), recebe ajuda de sua irmã Barbara (a bela Nieves Navarro aqui creditada como Susan Scott) que a indica um psiquiatra (George Rigaud).
Mesmo com o tratamento e apoio das pessoas mais próximas, as coisas vão de mal a pior, sem contar o fato das viagens de negócios de Richard, o que deixa a pobre Jane sozinha em seu apartamento entregue a toda sorte de alucinações e pesadelos. E é nesse inteirim que ela trava amizade com sua vizinha Mary (a loirinha Marina Malfatti), que parece ter a solução para os problemas de nossa protagonista, e acaba levando a moça até um culto satânico!
Tudo piora, Mary desaparece (teria sido ela assassinada pela própria Jane em uma das celebrações num caso claro de sacrifício humano?), o homem dos olhos azuis parece mais ameaçador do que nunca, e cadáveres começam a aparecer. E afinal, em quem confiar?
Claramente inspirado em “O Bebê de Rosemary”, o diretor abusa dos tons psicodélicos e do surrealismo, como a cena de sonho do início, e atinge seu ápice na antológica cena do culto satânico, com o sacerdote utilizando enormes unhas postiças bebendo sangue, enquanto os adoradores entram em êxtase, num clima orgástico acentuado pela trilha sonora alucinante do grande Bruno Nicolai.
O filme faz bom proveito da bela fotografia e direção de arte. Outro grande trunfo é a presença sempre magnética da grande Edwige Fenech, na época casada com o produtor Luciano Martino, o irmão do diretor Sergio, que não se faz de rogado e coloca a cunhadinha nua em vários momentos!
“Tutti i Colori del Buio” é um clássico e um dos melhores giallo já feito. Simplesmente imperdível.