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Occhi di Cristallo - 2004


O giallo, que surgiu na década de 1960 pelas mãos de Mario Bava, e depois seria lapidado por Dario Argento, cujo sucesso de “O Pássaro das Plumas de Cristal”, causou o boom desses filmes de crime e mistério à la italiana, causando na década de 1970 uma autêntica corrida do ouro, onde praticamente todo diretor de cinema de gênero do país da bota resolveu fazer o “seu”giallo para capitalizar em cima da febre. Pois bem, na década de 80 o gênero já cambaleava, e os melhores exemplares desta época sairiam justamente de diretores veteranos como o próprio Argento (“Tenebre”, “Ópera”) e Lucio Fulci (com seu arrasador “Lo Squartatore di New York”).

Estamos em 2000, e aqui se o giallo não é um cadáver morto e enterrado, é pelo menos um paciente em estado terminal. Essa recusa em morrer deriva dos esforços do veterano Dario Argento (sim, ele de novo) em não deixar a peteca cair. Os resultados variam do razoável (“Non ho Sonno”) ao medíocre (“Il Cartaio”, “Ti Piace Hitchcock?” e o herético “Giallo”).

Em 2004 é lançado a co-produção entre Itália, Espanha, Reino Unido e Bulgária “Olhos Mortais” de Eros Puglielli (em seu terceiro longa) que imediatamente foi saudado como um “giallo moderno”, que traz ao mesmo tempo referências argentianas, como também menções a produções contemporâneas como “Seven – Os sete pecados Capitais” e “Jogos Mortais”.

Um serial killer está à solta, cometendo assassinatos ritualísticos onde leva para casa pedaços de suas vítimas, além de vez em quando deixar mensagens cifradas para quebrar a cabeça dos policiais.

O caso está na mão do inspetor Almadi (Luigi Lo Cascio), um policial lacônico, formado em psicologia e que carrega um trauma do passado, ele tem como parceiro Frese (José Ángel Egido), que serve como uma espécie de Robin ou Sancho pança do protagonista. Paralelamente o inspetor investiga também o caso de Giuditta (a bela espanhola Lucía Gimenez), uma garota que recebe ameaças na faculdade. Não precisa ser Nostradamus para prever que o policial e a moça terão um romance, e nem que ela também será ameaçada pelo assassino misterioso, que o público logo descobre que não possui um dedo em uma mão (e cuja revelação final do criminoso revela um crasso erro de continuidade quanto a essa peculiaridade), além de praticar taxidermia. Para tentar elucidar as charadas e os rastros deixados pelo maníaco, Almadi recorre ao Dr. Civita (Eusébio Poncela), renomado professor universitário de antropologia.

A dupla Almadi e Frese ainda arranjam tempo para fazer visitas a Ajaccio (Simon Andreu), detetive aposentado da polícia, que se encontra definhando em um hospital, por causa de um tumor cerebral. A doença fará com que o ex-policial tenha delírios e flashbacks de sua infância passada em um orfanato, que poderá ter relações com a onda de assassinatos que assola a cidade.

Contrariando a maioria dos gialli, onde a polícia é estúpida e ineficiente e onde pessoas civis é que acabam resolvendo o caso, quando muito fazem isso para provarem sua própria inocência, “Olhos Mortais” traz um investigador como protagonista, o jovem inspetor Amaldi é uma pessoa problemática, dado a arroubos gratuitos de truculência, que vive num apartamento, onde fica invariavelmente com as luzes apagadas e vestido sempre de preto, muito gótico o rapaz.

Visto hoje, 12 anos depois de sua realização,”Olhos Mortais” envelheceu mal, e não por causa de sua fonte no giallo setentista, mas, ironicamente, por causa de suas referências contemporâneas, que lhe davam um ar de modernidade, aqui se repete os cacoetes visuais que fizeram a fama de “Seven – Os sete pecados Capitais”, aquelas câmeras tremidas e imagens super aceleradas que todo mundo na década passada quis copiar, e que já era ruim de assistir naquela época, hoje só piorou a situação. Felizmente as qualidades do filme se sobressaem a esse pequeno detalhe.

Já no primeiro ato do assassino, quando mata três pessoas de uma tacada só, um casal fazendo sexo num terreno baldio e um velho voyer que se masturbava assistindo os pombinhos em ação, vemos uma sequência que faz jus ao universo de Sergio Martino (“Torso”, “O Quarto de Satã”, “Todas as Cores do medo”), ou seja, estamos diante de um digno representante o giallo.

O roteiro, escrito há seis mãos, com a ajuda do próprio diretor, e inspirado no livro de Luca di Fúlvio, “L'impagliatore” (“O Taxidermista”), é embaralhado e um tanto inverossímil, como todo giallo que se preze. Não faltam elementos fetiches do subgênero, como luvas escuras e bonecas. Destaque para o elenco desconhecido e eficiente.

Em tempos em que vemos o giallo sendo desconfigurado pela decadência do próprio Dario Argento (seu filme chamado “Giallo” está mais torture porn do que qualquer outra coisa), ou por homenagens abstratas feitas pelo casal Hélène Cattet e Bruno Forzani nas produções franco-belgas: “Amer” e “L’Éntrage Couleur des Larmes de Ton Corps”, ou simplesmente meia bocas (“Berberian Sound Studio”), é de encher os olhos ver um filme que siga a cartilha do gênero, sem se perder muito.

Violento, sádico e tenso, “Olhos Mortais” é um eficiente e um gratificante revival do giallo. Lançado em DVD no Brasil na época, pela Califórnia Filmes, com direito a making of e o diretor divagando umas bobagens. O disco hoje é difícil de achar e é motivo de caça por colecionadores. Vale e muito conhecer.

Olhos Mortais (Occhi di Cristallo, Itália/Espanha/Reino Unido/Bulgária, 2004) Direção: Eros Puglielli Com: Luigi Lo Cascio, Lucía Gimenez, José Ángel Egido, Simon Andreu, Eusébio Poncela.

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