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Dèmoni aka Demons - 1985


Que o diretor Lamberto Bava não herdou um terço do talento de seu pai, o genial Mario Bava, todos estão carecas de saber. Agora, justiça seja feita, em meio a tantos filmes medianos, quando não, medíocres mesmo, feitos pelo Bava filho, ele acertou em pelo menos um: Demons (1985), um dos filmes mais toscos e divertidos do cinema de horror dos anos de 1980 (o que não é pouco em vista que foi uma década pródiga em tranqueiras maravilhosas).

Tudo começa numa estação de trem, onde um homem misterioso com uma máscara cobrindo metade da face (participação do “pau pra toda obra” Michele Soavi) distribuindo ingressos para um novo cinema nas redondezas.

Logo um grupo heterogêneo de pessoas resolve aproveitar a oportunidade, mesmo não sabendo qual o filme que será exibido, já que no anuncio não diz nada sobre a programação da sala. Entre eles está Cheryl (Natasha Hovey) e sua amiga Kathy (Paola Cozzo de “Cat in the Brain” e “Demonia”, ambos de Lucio Fulci) que logo são cortejadas pelos amigos George (Urbano Barbieri, que décadas depois se meteria em 007 – Cassino Royale) e Ken (Karl Zinny). Há também um senhor cego (o veterano Stelio Candelli que trabalhou em “O Planeta dos Vampiros” de Mario Bava) acompanhado de uma bela moça, Liz (Sally Day). E, claro, temos o cafetão Tony (Bobby Rhodes, a figuraça mais hilária do filme), acompanhado de suas prostitutas: Carmen (Fabíola Toledo) e Rosemary (Geretta Geretta, aqui creditada como Geretta Giancarlo). Reparem na bela e misteriosa moça de cabelos compridos e vestido verde que trabalha na recepção do cinema, é Nicoletta Elmi, que dez anos antes interpretou a sinistra garotinha que espetava uma lagartixa no clássico Profondo Rosso de Dario Argento. No saguão de entrada no cinema também há uma moto, com uma estátua em cima, portando uma espada katana e com uma máscara pendurada. Rosemary, uma das meretrizes de Tony experimenta a máscara e acaba fazendo um corte no rosto.

Começa o filme e logo o público descobre que é um filme de horror que mostra um grupo de pessoas achando a tumba de Nostradamus, a Mãe Dinah da Europa medieval. Junto com o túmulo há uma máscara, igual a do salão do cinema, onde um dos personagens acaba ferindo o rosto, assim como Rosemary, e acaba se tornando num monstro. Enquanto Rosemary descobre que terá o mesmo destino visto na tela, em meio ao público, os casaizinhos George e Cheryl, Ken e Kathy vão acertando o ponteiros, o cego é abandonado a um canto, enquanto sua companheira vai trocar carícias com outro no escurinho do cinema.

Logo Rosemary se torna uma criatura demoníaca, com garras e dentes serrilhados, não demora muito para começar atacar os espectadores do cinema, que infectados vão se transformando em mais criaturas, tal qual uma epidemia de zumbis infectados. Resta aos demais ainda não atacados, lutarem pela sobrevivência. Para aumentar a confusão entram em cena, isto é, dentro do cinema um pequeno grupo de punks arruaceiros viciados em cocaína. A essa altura a ‘peste’ já ultrapassou os limites do estabelecimento e já ganhou as ruas da cidade transformando tudo num caos.

“Demons” é daquelas obras nonsense onde tudo pode acontecer. E acontece! Mérito para o roteiro maluco a partir de uma idéia de Dardano Sacchetti, o papa dos roteiros do cinema de horror italiano. Para sacar a insanidade: o herói George, um galanteador barato no começo, vira um mini Rambo na parte final, capaz de pilotar uma moto dentro do cinema (em uma das cenas mais memoráveis do filme), como também maneja com maestria a espada katana. Até um helicóptero cai no meio do cinema, num momento de puro surrealismo. Sem falar nos diálogos saborosos (“nunca mais vou aceitar uma entrada gratuita para um cinema”).

O filme também é uma brincadeira metalinguística, não tão radical quanto o de “Os Olhos da Cidade São Meus” (1987) de Bigas Luna, mas altamente apreciável. Há citações a “Evil Dead”, “Nosferatu” de Werner Herzog e, claro, o Black Sunday.

Embora “Demons” seja inegavelmente divertido, nem assim os detratores de Lamberto Bava dão tréguas ao cara, alegando que o filme é o que é graças a mão do produtor, um tal Dario Argento, realmente aqui há algumas características em comum com o que Dario desenvolvia na época, como usar som pesado na trilha sonora. Aqui os destaques vão para o hard heavy de Mötley Crüe, Accept, Saxon, Billy Idol, etc. A saborosa trilha sonora é assinada por Claudio Simonetti, mentor da banda Goblin e parceiro de Argento. No elenco temos também Fiore Argento, filha de Dario (que tinha trabalhado com o pai em Phenomena, onde faz a moça que morre decapitada logo no começo), como uma das garotas que lutam para sobreviver no cinema.

Os efeitos gores e melequentos são eficientes, com sangue e gosma para tudo que é lado, e uma cena antológica: a de um demônio saindo das costas de uma das vítimas. “Demons” é uma grande brincadeira cinéfila, ao mesmo tempo um filme de horror divertidíssimo. Fãs de podreiras não podem perder!

“Demons”, assim como sua continuação, foram lançados em VHS no Brasil nos anos 80 pela extinta distribuidora F. J. Lucas. Hoje se encontra em DVD no Brasil num Box lançado pel Cultclassic, com os dois “Demons” e mais “Demons 3”, que na verdade é o título alternativo de “Le Ogre”, um obra menor de Bava.

Demons – Filhos das trevas (Demons / Dèmoni, Itália / 1985) Direção: Lamberto Bava Com: Urbano Barbieri, Natasha Hovey, Karl Zinny, Paola Cozzo, Fiore Argento, Fabíola Toledo, Nicoletta Elmi, Stelio Candelli, Geretta Geretta, Bobby Rhodes, Sally Day, Michele Soavi.

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