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Lo Squartatore di New York aka The New York Ripper - 1982


O ápice do giallo foi na primeira metade dos anos 70, ao chegar no final da década o subgênero já era dado como esgotado, redundante e supérfluo. Até chegarmos em 1982 e dois mestres veteranos do subgênero soltarem seus petardos destruidores, não à toa os gialli mais violentos de todos os tempos. Dario Argento lançaria o arrasador “Tenebre” e Lucio Fulcio viria com Lo Squartatore di New York aka The New York Ripper. O mais brutal e ofensivo dos gialli.

A trama é um fiapo, depois da abertura com um cão carregando uma mão decepada na boca (uma citação à “Yojimbo” de Kurosawa?) se descobre que há um assassino à solta, não um criminoso comum, mas um serial killer pronto para aniquilar belas mulheres que estiverem dando sopa pelas ruas da big Apple.

O tenente Fred Williams (Jack Hedley, que no ano anterior tinha aparecido em “007 – Somente para Seus Olhos”) é designado para o caso, pressionado pelo seu chefe (ponta do próprio Fulci) ele recorre à ajuda do Dr. Paul Davis (Paolo Malco de “A Casa do Cemitério”, também de Fulci), um psicanalista que fará o perfil psicológico do assassino.

A esperança de agarrar o maníaco surge quando uma de suas vítimas escapa com vida. A jovem Fay (a estreante Almanta Suska em papel recusado por Catriona MacColl, atriz fetiche de Fulci na Trilogia do Inferno) escapa traumatizada do evento, uma de suas poucas lembranças é que era seguida por um misterioso homem sem dois dedos na mão (o veterano do exploitation Howard Ross). Logo começa uma caçada a este homem. Será ele o responsável pelos ataques? Será ele o criminoso que liga para a polícia imitando o Pato Donald?

“The New York Ripper” é um trabalho explosivo. Há quem reclame que os personagens não são bem desenvolvidos, bom, Fulci não teve tempo pra essas bobagens, ele se ocupou é de chocar o espectador, orquestrando uma sequência mais brutal que a outra. A Nova York aqui não é a de cartão postal, mas a dos becos sujos, das espeluncas fétidas e dos shows de sexo barato. Em um clima de decadência e perversão. O “sonho americano” nunca esteve tão distante. A violência gráfica pontua o niilismo presente. O filme também expõe as obsessões do diretor: como o Pato Donald, que ele já tinha utilizado em “Non Si Sivizia un Paperino” (1972) e, claro, olhos estropiados, como na mais famosa cena do filme, em que o assassino mutila um prostituta com uma gilete (a bela Daniela Doria, habitué do filmes do Fulci na época), há closes para tudo que é lado, mamilo partido no meio, barriga aberta e o olho vazado.

Há algumas curiosidades no elenco secundário, como a mulher do médico impotente, que sai à noite nos inferninhos, em busca de aventuras sexuais, grava os áudios de sexo em fitas cassetetes, para deleite de seu marido. Esta personagem é interpretada pela bela Alexandra Delli Colli, que foi casada com o lendário cinegrafista, trinta e cinco anos mais velho que ela, Tonino Delli Colli dos filmes de Sergio Leone (“Três Homens em Conflito”, “Era uma vez no Oeste”, Era uma vez na América”, etc), Pasolini (“Pocilga”, “Decameron”, “Salò, etc), entre outros. Reparem na dançarina de boate que é atacada com uma garrafa quebrada em sua vagina, é a mesma Zora Kerova que morre pendurada por ganchos nos seios no infame “Cannibal Ferox” de Umberto Lenzi.

Vale mencionar uma curiosa cena de perseguição dentro do túnel da estação do metrô, uma óbvia citação a “Um Lobisomem Americano em Londres”, curiosamente a cena termina com a saída da vítima da estação, dando de cara com o cinema que está passando exatamente o clássico do John Landis! Em programa duplo com “Os Falcões da Noite”, aquele filme policial em que Sylvester Stallone usa crossdresser para capturar bandidos.

Banido em vários países, na Inglaterra se mantém proibido até hoje, “The New York Ripper” é um trabalho de pura fúria. Realizado numa época em que o que dominava eram os slashers norte-americanos, que usurpavam ideias dos antigos gialli, tinha que ser o “Godfather of Gore” para mostrar quem é que dominava o campinho.

Um filme arrasador, que extrapola o bom senso e o bom gosto. Tudo muito truculento, sem espaço para sutilezas. Simplesmente imperdível para os fãs do mais sujo cinema exploitation. Já aos cinéfilos blasés politicamente corretos, recomendo quilômetros de distância. Um dos melhores gialli e um dos melhores filmes de Lucio Fulci.


The New York Ripper / Lo Squartatore di New York (Itália / 1982) Direção: Lucio Fulci Com: Jack Hedley, Almanta Suska, Howard Ross, Andrea Occhipinti, Alexandra Delli Colli, Paolo Malco, Cinzia de Ponti, Cosimo Cinieri, Daniela Doria, Zora Kerova.

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