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Dark Waters - 1993


O cinema de horror italiano, que despontou no final da década de 1950 e começo de 1960, conheceu seus momentos de glória nas décadas seguintes, e embora já demonstrasse sinais de desgaste na segunda metade da década de 1980, foi nos anos 90 que aconteceu o declínio.

Embora os anos 90 contenham bons filmes do cinema de horror italiano, como a homenagem ao então recentemente falecido Lucio Fulci “M. D. C. – Maschera di Cera” (1997) de Sergio Stivaletti, e “La Síndrome de Stendhal” (1996) de Dario Argento. A filmografia fantástica do país já não tinha o mesmo viço de outrora. E nesse cenário de terra arrasada que surgiram duas obras magníficas que hoje são vistas como canto do cisne do horror italiano, um é “Dellamorte Dellamore” (1994), quarto longa do ex-ator e assistente de gente como Dario Argento e Lucio Fulci, Michele Soavi. O outro filme é a impactante e hipnótica co-produção Itália / Rússia / Reino Unido chamada “Dark Waters” (1993), também conhecida pelo título russo “Temnye Vody”, primeiro e único longa do diretor Mariano Baino.

Mal lançado nos cinemas, o filme foi um fracasso na época, somando isso ao próprio declínio do cinema de gênero na Itália, dá para entender o porquê deste ter sido a única obra de Baino, o que é uma pena, já que ele mostra amor e conhecimento de causa a cultura de horror.

A trama, simples e sem muito sentido, é praticamente uma versão pirata do universo do escritor H. P. Lovecraft levados aos delírios visuais de Dario Argento. Aqui temos Elisabeth (Louise Salter, que no ano seguinte apareceria no hollywoodiano “Entrevista com o Vampiro” para logo em seguida também abandonar o cinema), uma jovem que vai até um misterioso convento encravado numa ilha nos confins da Rússia. O interesse da moça é descobrir sobre seu passado, já que seus falecidos pais já passaram por lá. Ela acaba descobrindo que as freiras fazem parte de um misterioso culto que aguarda a chegada de uma criatura demoníaca vinda do mar.

O fiapo de trama é mera desculpa para o diretor, num ritmo vertiginoso, despejar explosões de cenas surreais e impactantes, de extrema loucura e violência, para isso o diretor acabou contando com fotografia, edição e trilha sonora belíssimas.

Claro que algum detrator de Mariano Baino pode acusá-lo de ser um plagiador à moda Tarantino (que na época ainda colhia os louros pelo seu primeiro hit, “Cães de Aluguel”), já que “Dark Waters” tem uma colagem de referências significativas, além de Lovecraft e seu conto “The Shadow in Innsmouth” (que também inspirou “Dagon” , 2001) de Stuart Gordon, o diretor que mais adaptou o escritor para as telas) e, claro, Dario Argento (podemos encontrar aqui citações a “Suspiria”, “Inferno”, “Tenebre”, “Phenomena”, “Opera”), mas também à Lucio Fulci (“Paura nella Città dei Morti Viventi”, “E tu Vivrai nel Terrore! L’aldilà”, ambos os filmes lovecraftianos, além de “Non si Sevizia um Paperino”), como também citações a filmes de outros países (“The Sentinel”, “Alucarda”, “The Shinning”). Óbvio que Baino não é um mero copiador. Seu filme carrega uma força surreal que beira a alucinação.

Filmado em inglês, com locações na Ucrânia, nos arredores onde ocorreu o desastre de Chernobil, os cenários desolados e os personagens bizarros (como um “visionário” pintor cego que pinta as imagens que “vê” ou o deficiente mental que se alimenta de peixe cru na popa do navio em meio a uma tempestade), aumentam ainda mais o clima geral de loucura.

Há uma cena marcante filmado durante um desastre ambiental, onde as atrizes perambulam por centenas de peixes mortos na beira da praia, uma atriz chega a morder um peixe cru em meio ao chão repleto de peixes, enquanto em outra cena vemos as freiras deitadas por cima das carcaças desses animais. Inevitável não pensar sobre o fedor do ambiente durante as filmagens.

“Dark Waters” é um apaixonante, impactante e obscura obra-prima do cinema de horror. Merece e deve ser conhecida pelos admiradores do gênero.


Dark Waters / Temnye Vody (Itália / Rússia / Reino Unido, 1993) Direção: Mariano Baino Com: Louise Salter, Venera Simmons, Mariya kapnist, Lubov Snegur, Albina Skarga.

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