Sette Orchidee Macchiate di Rosso - 1972
Falecido no último 19 de outubro, aos 86 anos, o cineasta italiano, nascido na região da Toscana, Umberto Lenzi é um dos diretores mais lembrados e queridos quando se fala no apelativo cinema exploitation do país da bota.
Um dos grandes méritos de Lenzi foi ter ido pros confins da Tailândia e filmado lá “Il Paese del Sesso Selvaggio” (1972), criando aqui o famigerado subgênero de filmes de canibais. Umberto ainda contribuiria com duas outras pérolas duvidosas ao ciclo: “Mangiati Vivi!” (1980), onde pirateia cenas de outros filmes do subgênero numa cara-de-pau e picaretagem espetacular, e o absurdamente violento e ofensivo “Cannibal Ferox” (1981), Lenzi que praticamente criou o subgênero, também o ajudou a sepultá-lo com este trabalho.
Aqui temos, mais uma vez, um assassino de luvas pretas atacando mulheres pelas ruas italianas, mais uma vez a polícia se mostra perdia e incompetente. O maníaco da vez é conhecido como o assassino da meia-lua (ou lua crescente se preferirem, numa tradução mais coerente). Pois o criminoso sempre deixa em suas vítimas um amuleto em forma de meia-lua, com alguns símbolos inscritos, típica bugiganga que se consegue em qualquer loja de quinquilharias esotéricas ou nos camelôs hippies (e não seria surpresa se a produção tivesse arrumado o objeto desse modo).
Numa viagem de trem para a Toscana, o assassino misterioso falha ao deixar uma de suas vítimas vivas, a jovem Giulia (a atriz alemã Uschi Glas). Recuperada do ataque, a moça se lembra de ter visto, anos atrás em um hotel, um chaveiro com várias da “meia-lua” distribuídas pelo assassino. A garota e seu marido, Mario (o galã canastrão Antonio Sabato) resolvem investigar e descobrem que as vítimas todas estavam no mesmo hotel na época em que Giulia estava hospedada.
O que era então os atos de um serial killer que atacava mulheres aleatoriamente, dá uma reviravolta e vira um mistério aos moldes de Agatha Christie, onde as mortes todas estão conectadas, fazendo parte dos planos de um assassino frio e calculista que pretende matar sete mulheres (as sete orquídeas que o título se refere).
As investigações de Mario, com seus ternos setentistas e ar de bom-vivant, o levam à igrejas, cemitério e até uma festa regada a sexo e drogas, num clima de psicodelia típica da época. Enquanto isso o assassino vai aumentando a contagem de corpos. Sem um modus operanti fixo, o vilão vai aniquilando suas vítimas de formas diversas, estrangulamento, facada e a clássica morte na banheira. Tem até o assassinato de uma prostituta com pauladas na cabeça em meio a um milharal e a morte de uma moça com uma furadeira, anos antes de filmes como “Driller Killer” e “The Slumber Party Massacre”.
O roteiro vai se complicando e criando situações cada vez mais absurdas, coisa corriqueira no universo do giallo. Tudo emoldurado pela bela trilha de Riz Ortolani (Cannibal Holocaust, I’ll Giorni dell’Ira).
Do elenco secundário temos a bela austríaca Melissa Mell, que nos bons tempos trabalhou em “Diabolik” de Mario Bava e no giallo de Lucio Fulci “Uma Sull’Altra”. Mell, com a carreira em decadência, bate ponto aqui com os cabelos escurecidos e ligeiramente diferente de quem a conheceu nos filmes supracitados. No elenco feminino ainda temos as italianas Rossella Falk (La Tarantola dal Ventre Nero, Non ho Sonno) e Marina Malfatti (do gialli de Emilio Miraglia: La Notte che Evelyn uscì dalla Tomba e La Dama Rossa Uccide Sette Volte).
Com violência, nudez e cenas marcantes como a dos gatos envenenados, “Sette Orchidee Macchiate di Rosso” é um giallo interessante e um bom começo para quem quer embarcar no cinema multifacetado de Umberto Lenzi.
Sete Orquídeas Manchadas de Sangue (Sette Orchidee Macchiate di Rosso / Seven Blood-Stained Orchids, Itália / Alemanha Oriental, 1972) Direção: Umberto Lenzi Com: Antonio Sabato, Uschi Glas, Píer Paolo Capponi, Rossella Falk, marina Malfatti, Renato Romano, Marisa Mell.