Pazucus: A Ilha do Desarrego - 2017
“Quero botar Joinville e Floripa no mapa do cinema mundial como sendo as cidades do cocô-monstro”. – Gurcius Gewdner, diretor.
Gustavo Gewehr, mais conhecido sob a alcunha glamurosa de “Gurcius Gewdner” é um artista multimídia; diretor, músico, pintor e produtor de filmes independentes. Com diversos trabalhos e participações em filmes da esfera do cinema alternativo, Gurcius é um expoente da arte maldita e do cinema underground nacional na atualidade.
Esta pequena grande estrela começou seu domínio em 2000 quando, morando em Joinville, juntou-se a um amigo de colégio e produziu Poluição dos Mares e Oceanos. Gurcius Gewdner também trabalhou editando filmes de outros diretores como Ivan Cardoso e Peter Baiestorf. Tem como seus maiores destaques trabalhos como Nosferatum (2003), Mamilos em Chamas (2008) e Freddy Breck Ballet (2010), mas se você acha que esta cabeça atormentada já produziu de tudo está muito enganado...
Pazucus: A Ilha do Desarrego está aí para provar o contrário.
Rodado em Florianópolis, a um custo estimado em R$ 15 mil, Pazucus: A Ilha do Desarrego (conhecido no exterior como Pazucus: Island of Vomit and Despair) já chegou chutando a banca e celebrando a loucura e a irreverência coloridamente presente em seus trabalhos. A trama soa como uma “soap opera” escatológica dirigida por Buñuel. Carlos (interpretado magistralmente pelo ator Marcel Mars) é um pobre coitado assombrado pelas próprias fezes que, por causa da pressão cotidiana de uma constipação eterna, formam uma sociedade secreta intitulada "Termas de Pazucus" que tem como meta a dominação do nosso mundo. Somente uma pessoa está entre a salvação de Carlos e a dominação do mundo pelos cocôs-apocalípticos: seu nome é Dr. Roberto (também interpretado por Marcel Mars). O único problema é que a mente do médico foi destroçada por dias a fio de ligações e choros histéricos de Carlos e, para se livrar de uma crise de insanidade permanente, decide matar seu paciente e todos que cruzarem o seu caminho...
A loucura dançante e colorida de Gurcius não para por aí. Temos também uma rave de hipsters e cocôs assassinos feitos de lixo e papelão (trazendo figuras conhecidas como Magnum Borini, Pomba Cláudia, Flavio C. von Sperling, Ljana Carrion e Daniel Villaverde), o casal Omar (interpretado pelo próprio Gurcius) e Oréstia (Priscilla Menezes) que busca uma gloriosa redenção através da propagação de morte e lixo (uma clara homenagem ao cultuado horror ecológico do diretor australiano Collin Eggleston, Long Weekend - 1978) e como destaque a atuação assombrosa de Lígia Marina (Arrastradas, Ultima Puella e A Percepção do Medo) como a deusa apocalíptica da ilha de Pazucus.
Este tsunami sensorial teve início com o curta/prequel “Bom dia, Carlos” (que por sua vez era um segmento do longa-metragem A Percepção do Medo, de Armando Fonseca e Kapel Furman). Transformado numa grande experimentação estética, Pazucus ergueu-se como uma fera descontrolada e completamente fora do convencional. O tempo e o espaço não funcionam naturalmente no universo de Pazucus e torna-se absolutamente normal encontrar gigantescos cocôs-gansters, coalas e demônios-da-tasmânia (filmados no exterior enquanto o diretor fazia uma visita à irmã) nesta história. Também temos a morte de inocentes como o tubarão-praieiro (Hector B. Braga), o cão de pelúcia Travis e o pobre patinho sem nome...
De acordo com o próprio Gurcius “este longa é um misto de filme experimental com pop alucinado. Um filme de monstros feitos de gosma e lixo, saídos de algum buraco maligno entre a Vila Sésamo, os filmes B dos anos 50 e os filmes gore dos anos 80. É também onde declaro minha total e completa devoção a um de meus filmes preferidos como Creature From The Haunted Sea, do Roger Corman. O terror no Brasil tem várias caras, que felizmente são bem diferentes entre si. Eu gosto do experimental escatológico. Minha missão é tentar fazer os filmes com liberdade. Liberdade na maneira de filmar e de conduzir a narrativa, sem me preocupar com o que as pessoas vão pensar até que chegue o momento de exibir. Esse é o momento onde eu penso sobre o tipo de filme que eu fiz e que caminho ele vai seguir. E ali, eu tento provar que esses filmes deveriam ter mais espaço e ser melhor interpretados por festivais, críticos e editais, porque publico... isso eles têm de sobra”.
Finalizando, chegamos a uma questão pertinente. O filme é bom ou ruim?
Talvez nunca saibamos. Qual a nossa percepção perto da mente amplificada daquele que, possivelmente, não é composto de carbono-14 e sim de pigmentos irradiados, poletileno teratalato, celulose concentrada e poliestireno...