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Oltre La Morte - 1989


Estamos aqui em plenos anos 80, época em que produtores picaretas italianos rodavam produções paupérrimas nas selvas das Filipinas para baratear custos. Foi nessa situação que levaram para lá o cambaleante Lucio Fulci para rodar “Zombi 3” (na verdade uma obra bagaceira e oportunista em cima do clássico “Zombie” aka “Zombi 2”, que por sua vez já capitalizava em cima do “Dawn of the Dead” aka “Zombie” do George Romero). O que ocorreu é que Fulci largou tudo por problemas de saúde e a obra acabou sendo finalizado pela dupla de incompetentes Bruno Mattei e Claudio Fragasso. Só que Fragasso, que geralmente trabalhava como roteirista de Mattei, parece que se cansou de ver seus (péssimos) roteiros viraram verdadeiras bombas cinematográficas nas mãos do amigo, tanto que resolveu regaçar as mangas e dirigir sua própria bomba cinematográfica.

Só que aqui resolveu apenas dirigir, deixando o roteiro a cargo de nada mais, nada menos do que sua própria esposa Rossella Drudi, que se mostrou tão sem talento quanto seu próprio marido. E assim surge este “Oltre la Morte”, ou se preferir: “After Death”, que obviamente acabou sendo lançado como Zombie 4 (em alguns países foi lançado como “Zombie 3 mesmo”, vai entender). Aqui no Brasil foi lançado há muito tempo em VHS como “A Terceira Porta do Inferno”. Confuso com a dança de títulos? Isso que nem chegamos na trama ainda!

Tudo começa num cenário que parece ser o interior de um castelo onde um bruxo manda sua esposa literalmente para o inferno. Chega ao local um grupo de cientistas munidos de metralhadoras. Eles discutem com o bruxo que teria começado com a epidemia de zumbis que alastra a ilha em que vivem (pelo menos foi o que eu entendi, pois os diálogos são vagos, truncados e confusos), que culmina com a morte do feiticeiro. Não demora e sua esposa retorna de um buraco do chão voando, literalmente, parecendo mais uma criatura que saiu da série “Demons” do Lamberto Bava, que um zumbi dos filmes do Lucio Fulci. A esposa saída do inferno acaba aniquilando o grupo todo.

Corta, passamos para um casal com uma pequena garotinha, fugindo selva a fora, com um punhado de mortos-vivos encapuzados no rastro deles. As criaturas devoram o casal, sobrando apenas à criança que foge com um amuleto pendurado ao pescoço – tal artefato teria o poder de manter fechada a terceira porta do inferno, que parece ser de onde sai essas figuras ridículas.

Corta novamente, agora vemos uma lancha chegando à ilha com um grupo de mercenários que mais parecem figurantes de alguma imitação de terceira de Rambo, na verdade, pelo menos um deles, Jim Moss, realmente estava rodando simultaneamente um filme de ação de terceira: “Strike Comanndo 2”, dirigido por quem? Isto mesmo: Bruno Mattei. Também vale mencionar a presença do veterano Nick Nicholson, um norte-americano que morava nas Filipinas e que fazia bicos em todo tipo de filmes que rolavam por lá, inclusive fez pontas em “Apocalypse Now” do Coppola e “Platton” do Oliver Stone, fora dezenas de produções vagabundas. Nicholson faleceu em 2010.

Junto ao grupo ainda há duas garotas, sendo que uma é justamente a garotinha que tinha escapado com o amuleto selva a fora (como uma criança pequena conseguiu fugir de uma ilha infestada de zumbis é algo que me pergunto até hoje!). Ela é Jenny (Candice Daly, cujo o maior atrativo de sua biografia é o fato de ter morrido misteriosamente, provavelmente por causa do pó), que retorna sabe-se lá o por quê. No fim das contas o grupo acaba se unindo ao galã Chucky (Chuck Peyton, figurinha que tem a história mais engraçada de todas por trás dos bastidores, mas falaremos sobre ele mais adiante), que teve um casal de amigos devorados por zumbis. E todos terão que enfrentar a ameaça que vem do inferno!

Acredite, se esse pequeno resumo lhe parece confuso, pode apostar que se eu me debruçar mais sobre a trama a coisa fica mais complicada ainda, tamanha a falta de lógica e sentido das coisas. Isso sem falar na própria figura dos zumbis: se tem gente que reclama dos zumbis maratonistas do cinema atual o que dizer destes? Eles não só correm, como lutam, se escondem, e tem um que até fala e usa uma metralhadora!

Dizem que uma das peculiaridades da produção foi o fato de Fragasso não falar uma vírgula em inglês, e, como é uma produção com uma variedade de pessoas de nacionalidades diferentes, ele tinha que comandar o set na base da mímica mesmo. O próprio diretor alega que odiou o resultado final. Pelo menos o ritmo é intenso e caótico, e o gore brota aos borbulhões (embora demasiadamente exagerado e mal feito). A trilha sonora se divide entre um tema hard rock chinfrim e uma batucada eletrônica – os responsáveis pela trilha sonora assinam com o singelo nome de Al Festa.

Quanto ao Chuky Peyton, na verdade ele é mais conhecido pelo pseudônimo de Jeff Stryker, um ator de filmes pornôs gays e este “Oltre La Morte” seria uma das poucas produções não hardcore do rapaz. O grande lance é como ele chegou até aqui? Ele teria tido um caso com o diretor de elenco Joe Collins, que o colocou no filme. O mais engraçado é que nos comentários do DVD lançado nos EUA, quando perguntado a Fragasso sobre essa história, o diretor fica visivelmente constrangido e alega que não sabia de nada a respeito!

“Oltre La Morte” vai folgado para a lista de piores filmes do mundo. De qualquer forma ele tem um grande mérito: é tão ruim, tosco, absurdo e ridículo que o resultado chega a ser hipnótico. Simplesmente não se consegue tirar os olhos da tela com medo de perder alguma cena ridícula ou diálogo risível. E, convenhamos, quantos filmes bons que há por aí que não tem esse poder de prender sua atenção? Realmente, coisa de louco!


A Terceira Porta do Inferno (Oltre La Morte / After Death / Zombie 4, Itália/1989) Direção: Claudio Fragasso Com: Jeff Stryker, Candice Daly, Massimo Vanni, Jim Gaines, Don Wilson, Adrianne Joseph, Jim Moss, Nick Nicholson.

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