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Incubo Sulla Città Contaminata - 1980


Uma coisa se tem que concordar com o cineasta Eli Roth (“O Albergue”, “Green Inferno”), “Incubo Sulla Città Contaminata”, realizado no hoje longínquo ano de 1980 pelo prolífico Umberto Lenzi, é o pai dos filmes de zumbis modernos, antecipando a onda de zumbis infectados e maratonistas que viríamos em “Madrugada dos Mortos” de Zack Snyder e “Extermínio” de Danny Boyle.

A tradução do título italiano é “Pesadelo na Cidade Contaminada”, internacionalmente o filme ganhou títulos como “Nightmare City” (Cidade do Pesadelo), “City of the Walking Dead” (Cidade dos Mortos Andantes, o que é curioso, como apontou o Eli Roth, já que é o primeiro filme como zumbis corredores), entre inúmeros outros, mas o que chama atenção nos títulos citado é o destaque para a cidade, sendo que ela no filme nem é identificada.

Na primeira cena soubemos, através de um telejornal, de um vazamento de radioatividade de uma usina nuclear. Corta e temos então nosso protagonista, o repórter televisivo Dean Miller (o mexicano Hugo Stiglitz), que acorda atrasado para ir ao aeroporto, cobrir a chegada de um renomado cientista. O jornalista, acompanhado de seu cameraman, chega ao aeroporto e testemunha o pouso de um avião de origem desconhecida. Da aeronave literalmente pulam para fora os tripulantes, um bando de pessoas contaminadas, sedentas por sangue, que usando de facas e dentes, atacam quem estiver pela frente.

Não passou nem dez minutos de filme e o roteiro praticamente termina aqui, o resto são os “zumbis atômicos” atacando, espalham o terror, o caos e a violência pela cidade. Assim mesmo, sem grandes enrolações. Os infectados se mostram imbatíveis à tiros e facadas, com a exceção de praxe: é preciso destruir os cérebros das criaturas.

O exército, comandado pelo General Murchison (o norte-americano Mel Ferrer, precisando pagar o aluguel), tenta controlar a situação, mas como de praxe, se mostra atrapalhado e ineficiente. Dean Miller resgata sua esposa, a Dra. Anna (Laura Trotter), do hospital, os dois tentam fugir da cidade tomada por esses monstros infectados.

A primeira coisa que chama a atenção no filme é a maquiagem toscona. O que identifica os infectados são feridas no rosto e no corpo. Alguns, com o que supostamente era para parecer um rosto ‘queimado’, parecem mais uma cabeça de almôndega, uma legítima maquiagem “à bolonhesa”? Detalhe interessante: entre esse infectados estão os irmãos dublês Roberto e Ottaviano Dell’Acqua, que já tinham feitos papéis de zumbis no clássico “Zombie” do Fulci.

O filme vai acumulando situações, onde os infectados atacam em diversos lugares, como num estúdio de TV, invadindo um palco com dançarinas com collants. Há uma longa e ótima sequência no hospital local sem iluminação. E o clímax se dá num parque de diversões abandonado, onde Dean e sua esposa fogem de infectados, escalando uma montanha-russa desativada. O impressionante é que pelo baixo orçamento do filme se vê que não há efeitos de trucagens, Lenzi sadicamente mandou os atores subirem realmente a montanha-russa.

O grande porém fica por conta da conclusão broxante e preguiçosa, parecendo que os roteiristas não sabiam como finalizar e resolveram acabar com o pior fim possível. Mas até chegarmos lá, o filme já deu sua cota de divertimento. Outra coisa que fica deslocada são algumas falas pseudofilosóficas, por conta da doutora Anna, que tenta dar um verniz social à situação, que contrasta com a bagacerice geral.

Numa escala evolutiva, os infectados de Lenzi se mostram muito mais avançados que os zumbis de Romero. Além de mais rápidos e desenvoltos fisicamente. Eles se mostram hábeis em usar ferramentas e amas, como facas, machados, foice e metralhadoras. Além de atinarem a cortarem os fios telefônicos e rasgares as roupas das mulheres, deixando os seios das moças à mostra, antes de matá-las para beberem o sangue.

O mexicano de nome alemão Hugo Stiglitz - que seria homenageado por Tarantino em “Bastardos Inglórios”, batizando um dos personagens com seu nome – está perfeito em sua inexpressividade, incrível como ele passa pelos maiores confusões, sem alterar a expressão, no melhor estilo Chuck Norris de escola dramática. Para o papel principal tinham cogitado Franco Nero ou Fabio Testi, mas os produtores optaram por Hugo para atrair as platéias mexicanas. Ou você acha que era por acaso que as produções italianas tinham elenco internacional? Não é a toa que muitas vezes temos no mesmo filme atores argentinos, uruguaios, brasileiros. Tudo para chamar a atenção da platéia internacional.

No elenco temos, além de Mel Ferrer, outro veterano, o eterno vilão de faroestes italianos, o espanhol Eduardo Fajardo (“Django”, “A Vingança de Ringo”), como um cirurgião que dá cabo de um infectado lhe atirando um bisturi no melhor estilo estrela ninja. Temos ainda o espanhol Francisco Rabal, que já trabalhou com Luis Buñuel (“Nazarin”, “Viridiana”) e Willim Friedkin (“Comboio do Medo”). A trilha minimalista de Stelvio Cipriani é muito funcional.

Umberto Lenzi, falecido no ano passado, foi um diretor muito prolífico, que passeou por diversos gêneros do cinema popular italiano, filmes de guerra, policiais, giallo, terror, comédias e praticamente criou os filmes de canibais (com “Il Paese del Sesso Selvaggio”, 1972). “Incubo Sulla Città Contaminata” foi sua contribuição ao chamado zombies spaghettis, o famigerado ciclo de zumbis italianos.

Lançado no Brasil pela Versátil, no Box Zumbis no Cinema Volume 3, numa restauração razoável, há alguns probleminhas como a cor em algumas cenas, o que atribuem ao original deteriorado, e um depoimento de Eli Roth.

Bagaceiro, movimentado e divertido, “Incubo Sulla Città Contaminata” é um exemplar imperdível pra fãs do gênero.

Cidade Maldita (Incubo Sulla Città Contaminata, Itália/Espanha/México, 1980) Direção: Umberto Lenzi Com: Hugo Stiglitz, Laura Trotter, Maria Rosario Omaggio, Francisco Rabal, Sonia Viviani, Eduardo Fajardo, Mel Ferrer.

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