The Abominable Snowman (O Monstro do Himalaia, 1957)
Um filme da década de 50 do século passado, da produtora inglesa “Hammer”, com fotografia em preto e branco, estrelado por Peter Cushing e com uma história explorando o lendário “abominável homem das neves”, assunto que inspirou a realização de vários filmes especulando sua misteriosa existência. Esse conjunto de fatores é mais do que suficiente para a garantia de diversão em mais uma preciosidade do cinema fantástico bagaceiro.
“O Monstro do Himalaia” tem direção de Val Guest, o mesmo de “O Dia Em Que a Terra se Incendiou” (61) e “Quando os Dinossauros Dominavam a Terra” (70), e roteiro de Nigel Kneale, o criador do universo ficcional de “The Quatermass Experiment”. É o primeiro de muitos filmes do “Cavalheiro do Horror” Peter Cushing (1913 / 1994) para o cultuado estúdio “Hammer”. Ele que ficou eternizado no cinema fantástico por sua imensa contribuição ao gênero com participações em dezenas de filmes de horror e ficção científica, interpretando papéis marcantes e se especializando em “caçador de vampiros” e “cientistas loucos”.
O cientista botânico Dr. John Rollason (Cushing) está hospedado num monastério situado na base das montanhas geladas do Himalaia, uma região inóspita onde se encontram as montanhas mais altas do mundo, abrangendo lugares como o Tibete (na China) e o Nepal. Junto com sua esposa Helen (Maureen Connell) e o assistente Sr. Peter Fox (Richard Wattis), eles estudam ervas raras que sobrevivem nesse ambiente hostil de frio intenso. Porém, o Dr. Rollason também tem outro objetivo maior, que é fazer parte de uma expedição rumo ao topo da montanha para tentar encontrar o lendário Yeti, ou “Homem das Neves”, uma criatura primitiva enorme com pegadas de 40 cm e altura de 3 m, que poderia ser o elo evolutivo entre o macaco e o homem, e cuja lenda de sua existência fascina o mundo, tendo um equivalente paralelo nas florestas dos Estados Unidos, chamado de Sasquatch ou “Pé Grande”.
A expedição é liderada pelo explorador Tom Friend (Forrest Tucker), e fazem parte outros três homens, o caçador Edward Shelley (Robert Brown), o fotógrafo Andrew McNee (Michael Brill) e o guia local Kusang (Wolfe Morris). Mesmo com a oposição da esposa Helen, que teme os perigos da empreitada, e do mestre espiritual do monastério, Lhama (Arnold Marle), que tem motivos misteriosos para manter os exploradores afastados da região, o Dr. Rollason decide acompanhar a expedição. Descobrindo mais tarde as reais intenções comerciais de Tom Friend em contraste com seus objetivos científicos, e desvendando o mistério que envolve os imensos antropóides que se escondem nas mais remotas e geladas regiões do planeta.
A narrativa é lenta em boa parte do filme, mas em compensação temos a bem sucedida intenção dos realizadores em manter em segredo as enormes criaturas peludas, expondo-as sutilmente apenas no desfecho, instigando a imaginação do espectador. Mesmo que tal intenção também possa ser algo inevitável devido às deficiências orçamentárias da produção, que não permitiria uma grande exposição do “monstro do Himalaia”. Também é bastante louvável o roteiro especular que as misteriosas criaturas que são o foco da expedição, não sejam necessariamente primitivas, e que poderiam ter evoluído em paralelo com a raça humana, desenvolvendo inteligência e preferindo viver em isolamento com receio do poder de autodestruição da humanidade.
O filme é uma refilmagem de “The Creature” (1955), episódio de TV da série “BBC Sunday-Night Theatre”, também com Peter Cushing fazendo o mesmo papel do Dr. John Rollason. Além dele, outros dois atores reprisaram seus personagens, Wolfe Morris como o guia da expedição e Arnold Marle como o líder espiritual do mosteiro. Em 1954 foi lançado “O Terror do Himalaia” (The Snow Creature), que é considerado o primeiro filme a abordar a lenda do “Yeti”. Produzindo nos Estados Unidos com baixo orçamento e em preto e branco, tem direção de W. Lee Wilder.
“O Monstro do Himalaia” ainda faz parte da fase em preto e branco da “Hammer”. Porém, no mesmo ano de 1957 já começaria a produção dos filmes em cores como “A Maldição de Frankenstein”, também com Peter Cushing no papel do “cientista louco”, só que dessa vez ao lado de Christopher Lee como o monstro, outro ator que se transformou em ícone no gênero e que fez inúmeras parcerias com Cushing. Os filmes coloridos da “Hammer” ajudaram o estúdio a torna-se cultuado, ao mostrar o vermelho vivo do sangue e revitalizando os monstros clássicos da produtora americana “Universal”.
O ator americano Forrest Tucker (1919 / 1986), que tem um dos papéis principais no filme, tanto que seu nome aparece em destaque nos cartazes de divulgação, é mais conhecido pelos inúmeros filmes de western. Mas, ele também participou de outros dois filmes ingleses bagaceiros de ficção científica e horror, “The Trollenberg Terror” e “O Monstro Cósmico” (The Strange World of Planet X), ambos de 1958.
Curiosidades:
Na divertida animação “Monstros S.A.” (2001), cuja história apresenta monstros diversos que vivem num universo paralelo interligado ao nosso através de portas dimensionais, o “abominável homem das neves” é um monstro banido desse mundo oculto. Ele foi obrigado a viver no nosso, isolado nas terras geladas do Himalaia e longe da humanidade. E, inevitavelmente ele despertaria uma lenda sobre sua misteriosa existência.
“Quando a humanidade lançar a bomba atômica, também nossos descendentes viverão no gelo”. Essas palavras do explorador Tom Friend evidenciam o medo naquela época conturbada da catástrofe nuclear, um temor fortemente presente durante a paranoia da guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, sendo um assunto abordado à exaustão numa infinidade de filmes, principalmente nas décadas de 1950 e 60.
O roteiro de “O Monstro do Himalaia” procurou especular o “abominável homem das neves” como um ser inteligente e não primitivo. Porém, curiosamente, apenas dois anos depois do lançamento do filme, em 2 de Fevereiro de 1959 ocorreu um massacre de nove estudantes esquiadores que viajavam pelo Norte dos Montes Urais, uma cordilheira de montanhas geladas e inóspitas na Rússia, região que divide a Europa da Ásia. Os cadáveres dos jovens foram encontrados mutilados e semi nus, e a autoria dos assassinatos tornou-se um grande mistério conhecido como “Incidente do Passo Dyatlov”, que era o nome do líder da expedição de esquiadores mortos. Existe também a especulação sobre uma investigação da polícia secreta russa KGB, escondendo informações que ajudariam a desvendar o mistério. Para muitos jornalistas investigativos e habitantes de aldeias locais, o responsável pelas mortes sangrentas é um “Yeti”, demonstrando que a criatura seria primitiva e violenta.
(RR – 20/05 e 17/07/15)
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