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Ultimo Mondo Cannibale (1977)


Com a boa bilheteria de “Il Paese del Sesso Selvaggio” (1972), os inescrupulosos produtores italianos vislumbraram a ideia de uma continuação. Porém o projeto foi por água abaixo quando o diretor Umberto Lenzi cresceu o olho e pediu um aumento no cachê. Então resolveram procurar outro homem para comandar o filme, escolheram um que já tinha dirigido um pouco mais de meia dúzia de filmes, e trabalhado como assistente de direção de mais um punhado, entre eles o clássico “Django” de Sergio Corbucci. Esse diretor era Ruggero Deodato.

Com Deodato a ideia de uma continuação de “Il Paese del Sesso Selvaggio” foi descartada, partindo do zero, resolveram fazer outra aventura na selva, envolvendo um homem em meio a selvagens. Porém, a mudança de diretor fez a diferença, se no filme de 1972 os canibais eram uma tribo coadjuvante, e só mostrava suas peculiaridades gastronômicas na parte final da fita, em “Ultimo Mondo Cannibale”, Deodato bota sua criatividade selvagem para funcionar e mete o pé na jaca. Aqui os nativos são canibais, sem exceção, e o espectador tem que estar preparado, desde o começo, a toda sorte de barbárie.

O filme começa com um texto afirmando que os fatos aqui mostrados foram baseados em fatos reais, pura balela de produções típicas da época. Depois temos Robert Harper (Massimo Foschi), um magnata do ramo petrolífero e seu ajudante Rolf (Ivan Rassimov, ele mesmo, o protagonista de “Il Paese del Sesso Selvaggio”), a dupla, acompanhado por um casal como guia, sobrevoam as floretas da ilha de Mindanao, nas Filipinas, em busca de lugares para perfuração de petróleo (ou outro motivo qualquer, afinal isso não faz a menor diferença aqui).

O pequeno grupo para num acampamento abandonado, sem sinal de vida do grupo anterior. Para melhorar a situação, o avião apresenta problemas. Não demora muito para nossos heróis perceberem que não estão sozinhos na selva. Apenas só depois que o guia morre numa armadilha mortal, e de testemunharem a companheira do guia virar churrasco de canibais, é que a dupla Robert e Rolf decidem fugir numa jangada improvisada. Obviamente que a jangada se desmancha na água e os dois se perdem um do outro.

Robert, agora sozinho, perambulando pela selva vira presa fácil dos canibais que o aprisionam. Prisioneiro dessa tribo, que vivem de forma primitiva, praticamente na idade da pedra, ele assiste e sofre com rituais estranhos. Despido de suas roupas, e aprisionado numa caverna, onde recebe entranhas para comer e chuva de urina das crianças da tribo. Nosso protagonista acaba fugindo, levando com ele a garota bela da tribo (a icônica Me Me Lai, também de“Il Paese del Sesso Selvaggio”). A relação entre fugitivo e sua cativa começa tenso, mas vai aliviando até a moça selvagem cair de amores por ele.

Mas não se desesperem, quando você pensa que o filme vai desbancar para o água com açúcar, Robert reencontra Rolf, que está uma ferida aberta na perna e se alimenta basicamente de morcegos assados. E claro, nossos protagonistas reencontrarão a tribo, ávida para transformá-los em alimentos. Porém Robert terá que improvisar uma cartada final se quiser sair vivo do embate.

Se Umberto Lenzi foi criador do subgênero filmes de canibais, Deodato foi o que marcou, com toda a fúria e truculência, esse tipo de cinema. Em “Ultimo Mondo Cannibale” temos uma mostra da quintessência do cinema canibal: torturas, violações, nudez (fico imaginando como deve ter sido difícil as filmagens para Massimo Foschi, que passa quase todo o filme completamente nu no meio do mato), as polêmicas matanças de animais, vísceras e churrascos humanos. Aqui temos até uma cena em que uma nativa dá a luz à beira de um rio, vendo que a criança é menina, a mãe simplesmente corta o cordão umbilical com os dentes e atira o bebê para a água, para a felicidade de um crocodilo que estava a espreita nas redondezas.

Deodato realizaria depois, em 1980, a obra Magnum opus do canibalismo, o ainda mais infame, brutal, violento, sujo e ofensivo “Cannibal Holocaust”. Na verdade esses dois filmes, segundo o próprio diretor, fariam parte de uma trilogia sobre a selva, que acabaria com “Inferno in Diretta” aka “Cut and Run”, em que se troca canibais por narcotraficantes, embora seja em tese um filme de ação, tem mais violência e barbáries que noventa por cento da produção de filmes de terror atual.

No Brasil, “Ultimo Mondo Cannibale” foi lançado com títulos diversos em vhs. Saiu como “O Último Mundo Canibal”, “Mundo canibal” (mesmo título do dvd de “Il Paese del Sesso Selvaggio”) e até como “Fases da Morte 8 - O Último Mundo dos Canibais” (na verdade era uma série de filmes que vinha como “Fases da Morte”, entre os títulos relançados nesta coleção temos o “The Beyond” do Lucio Fulci e o “Let Sleeping Corpses Lie” de Jorge Grau). Por enquanto essa iniciação de Deodato nos filmes de canibais continua inédito em formato digital por aqui. Na gringa saiu com títulos diversos, até foi relançado como “Jungle Holocaust”, querendo embarcar na carona do seu sucessor “Cannibal Holocaust”.

Embora menos gráfico, niilista e balado quanto seu sucessor, o “Cannibal Holocaust”, “Ultimo Mondo Cannibale” tem seus cultuadores ao redor do mundo, como nosso ícone do cinema independente Petter Baierstorf, que batizou sua produtora de Canibal Filmes em homenagem a essa obra. A lendária banda de goregrind norte-americaba Impetigo chegou a nomear seu álbum de estreia com o mesmo título do filme.

“Ultimo Mondo Cannibale” é uma obra importante dentro do lado mais grotesco e sensacionalista do exploitation. A marca deixada por Deodato foi tão poderosa que o próprio Lenzi acabaria copiando os filmes de Ruggero. Definitivamente um filme para ânimos fortes.

Ultimo Mondo Cannibale (1977) Direção: Ruggero Deodato Com: Massimo Foschi, Me Me Lai, Ivan Rassimov, Sheik Razak Shikur, Judy Rosly.

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