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Sleepless (aka Non Ho Sonno - 2001)


A câmera transita discretamente por um longo tapete vermelho durante alguns minutos, observando os pés dos funcionários de limpeza, bailarinas e do público que aguardava o próximo ato da apresentação do Lago dos Cisnes. Ela se afasta do seu caminho, intrigada pelo som de um sufocamento e uma sombra misteriosa, estacionando numa sangrenta degola, com a cabeça surgindo em destaque em companhia de um líquido viscoso em erupção pela boca. Essa belíssima cena de assassinato é um dos grandes momentos do último longa-metragem de qualidade confeccionado pelo diretor italiano Dario Argento, prestes a invadir um ciclo de produções equivocadas.


Essa composição sangrenta também é o último crime do que a polícia anuncia como "os assassinatos do anão", um serial killer que deixou uma trilha de sangue em 1983, inspirado nos versos infantis e rimados do poema Animal Farm, concebido, curiosamente, por Asia Argento, numa referência à obra de George Orwell. Segundo os arquivos da época, o assassino diminuto teria se matado com um tiro na cabeça, desfigurando-o completamente. Inexplicavelmente, ele parece ter retornado dos mortos para encerrar sua rima macabra ou está servindo de inspiração para um imitador, pois uma série de assassinatos teve início com uma perseguição pelos vagões de um trem deserto e a morte da prostituta Ângela.

Um mistério que só pode ser solucionado pelo experiente inspetor Ulisse Moretti (Max von Sydow, de O Exorcista), que sofre de insônia (daí o título original), tem problemas de memória e vive em companhia de seu papagaio Marcello. Ele se apóia no esforço de uma testemunha do passado, o jovem Giacomo (Stefano Dionisi), que viu a mãe ser brutalmente morta, com violentos golpes de clarinete na boca, com a câmera ousada exibindo os golpes que rasgam a sua boca. A cada novo assassinato a figura de um animal é deixada como assinatura no local, entre o resto de uma cabeça esmagada sobre o azulejo e o sangue em vermelho intenso, contrariando o significado do termo "giallo".


Argento acerta na escolha do elenco e na trilha saudosista da banda Goblin, embora tenha errado na época do lançamento de Sleepless. O subgênero, criado por Mario Bava, possui algumas características eficientes nas décadas de 70 e 80, como versões para a TV das obras de Agatha Christie, mas já está bastante desgastado, restando apenas clichês para um público acostumado a cortes rápidos e assassinos mascarados. A atmosfera de mistério e violência, como um desafio proposto ao espectador, ainda é divertido para os fãs do cineasta, porém causou estranhamento no público atual, culminando num desastre na bilheteria e muitas críticas negativas.

No Brasil, lançado em DVD pela Califórnia Filmes, com o título em inglês, o filme divide opiniões entre apreciadores e aqueles que não viram uma evolução na proposta do diretor. Pode não ser inovador, mas é o que cinema precisa para resgatar o bom estilo de outrora, sem a influência dos efeitos especiais em computador ou a edição no ritmo de um clipe. Pena que depois Dario Argento entraria numa fase de desgaste evidente, sem a ousadia e a criatividade de seus gialli ou dos dois filmes da trilogia das mães.


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