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Cannibal Holocaust - 1980


Eis a magum opus do famigerado subgênero dos filmes de canibais. O mais violento e insolente de todos, que ainda por cima foi precursor do subgênero found footage, e ainda acusado de snuff movie! O mítico Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust) do não menos infame diretor Ruggero Deodato, que já tinha dado mostras de sua criatividade insana em Ultimo Mondo Cannibale!, só que aqui ele foi mais longe! O notório Professor Harold Monroe (Robert Kerman, que também apareceria em Cannibal Ferox, e trabalhou em inúmeros pornôs, sobre o sugestivo pseudônimo de R. Bolla!), vai até a selva Amazônica, em busca de uma expedição perdida de jovens documentaristas.

Depois algumas aventuras, o Professor descobre que os jovens foram brutalmente assassinados e devorados por canibais. Nosso pedagogo consegue entrar em contato com a tribo que possuem os rolos de filmes. Claro que para isso terá que participar do jantar tribal, e provar um sangrento fígado humano cru. Tudo pela ciência. De volta a civilização, Monroe e uma equipe de TV vão analisar o que obrou dos negativos. Mostrando a odisseia de quatro jovens até os confins da selva.

A expedição é formada pelo líder egocêntrico do grupo Alan Yates (Carl Gabriel Yorke), sua namorada Faye Daniels (Francesca Ciardi), os escrotos Jack Anders (Perry Pirkanen, que no apareceria em outros dois filmes da época: Cannibal Ferox de Umberto Lenzu e Pavor na Cidade dos Zumbis de Lucio Fulgi, onde faz uma ponta como coveiro) e Mark Tomaso (Luca Barbareschi). Através dos rolos de filmes remanescentes, o Professor Monroe e a equipe de TV vão descobrindo o quanto degradante era o comportamento dos jovens. Com prazer sádico eles vão deixando um rastro de desgraçadas, como matar animais, violentar nativas, chegam ao cúmulo de tocar fogo numa cabana com vários índios, só para vê-los morrerem queimados. Esses jovens norte-americanos se mostram tão inumanos e cretinos, que o espectador torce para que os canibais deem cabo deles da pior forma possível.

Dividido em duas partes, a viagem do Professor atrás da expedição e depois a exibição dos rolos de filme encontrados, Cannibal Holocaust é uma obra praticamente sem heróis, completamente niilista e brutal. Se na primeira metade já se mostra violenta e ofensiva, é no seu segundo tempo que o filme acelera ladeira abaixo, num frenesi de violência que criou cenas lendárias como a morte e o estripamento de uma tartaruga (dizem que o ator Perry Pirkanen, que em cena chega a brincar com a cabeça decepada da tartaruga, chorou após concluir a tomada), e claro, a lendária indígena empalada. Dos animais mortos no filme, além da tartaruga, há um quati, uma cobra, uma tarântula, um jovem porco, e dois macacos. A matança de animais é um dos motivos de ojeriza a obra que perdura até hoje.

A segunda parte foi filmada com câmara na mão em primeira pessoa, quase vinte anos antes de A Bruxa de Blair. Uma historia que virou folclore: na época se divulgou que os atores teriam morrido realmente, inclusive o elenco teria assinado um contrato para dar um chá de sumiço por um ano! Quando estreou na Itália, em Milão, mais especificamente, a obra foi logo apreendida e o diretor Ruggero Deodato preso. Os atores tiveram que comparecer no tribunal para provarem que estavam vivos e sãos. É ou não é um golpe de marketing genial? Mesmo assim a áurea de maldita de mortes rondava o filme, principalmente a da indígena empalada. P que fez o filme ganhar fama como um snuff movie (aquelas filmagens em que pessoas seriam supostamente assassinadas diante das câmeras).Mais tarde Deodato explicaria o truque: a moça estaria sentada num banquinho de bicicleta colocada no topo da estaca e na boca colocaria outro pedaço de madeira, que seria a suposta ponta dessa mesma estaca, e a menina sentada ficaria com sangue falso pelo corpo, um efeito, segundo palavras do próprio diretor, que não custou dez dólares.

Um destaque vai para a famosa trilha de Riz Ortolani, com momentos ‘melosos’ que contrasta perfeitamente com a brutalidade das cenas, e essa era a intenção mesmo de Deodato, criar esse conflito entre imagem e som.

A ideia básica para o filme, segundo Deodato, surgiu quando viu sua filha pequena assistir um telejornal sensacionalista, então ele resolveu fazer seu filme crítico a violência e ao sensacionalismo dos noticiários. Ironicamente e paradoxalmente, Cannibal Holocaust abusa da violência e do sensacionalismo como poucos!

É curioso notar que os filmes de canibais derivaram de outro subgênero, os filmes ‘mondos’, documentários sensacionalistas sobre o lado bizarro e exótico de várias culturas, principalmente as mais primitivas, todas impulsionada por Mondo Cane (1962) de Paolo Cavara, Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi. Sendo assim é curioso notar que Cannibal Holocaust, admitam ou não, foi concebido para ser o filme mais grosseiro e violento filme de canibais jamais feito, justo ele, use recursos documentais em sua narrativa, praticamente como volta às origens. Coincidentemente Riz Ortolani também foi responsável pela trilha de Mondo Cane, chegando a concorrer ao Oscar de melhor canção!

Com o título inicial de Green Inferno, Cannibal Holocaust teve seu título alterado em última hora, pelos produtores acharem que a palavra ‘Holocaust’ chocaria mais. Mais de duas décadas depois, Eli Roth utilizaria o título de trabalho para fazer sua homenagem ao ciclo de filmes de canibais, pena que seu trabalho ficou uma bomba. Este seria o segundo da “trilogia de canibais” de Deodato, que começou com O Último Mundo dos Canibais (1977) e terminou com Inferno in Diretta/Cut and Run (1985), que apesar de não ter canibais, é um filme brutal que se passa também na selva. Nunca teve uma continuação oficial, embora pulule por aí alguns Cannibal Holocaust II, todos muito fracos e horríveis.

Claro que as tribos retratadas são fictícias, assim como seus rituais, mas quem vai ver um filme desses não vai esperando uma aula de antropologia, não é mesmo?

Grande precursor do found footage, enfileira as lendas sobre snuffs, a ponto do próprio ator Carl Gabriel Yorke, afirmar que no primeiro dia de filmagem achava que tinha se metido numa barca furada, que participaria de um desses filmes malditos com simulações de assassinatos. O filme foi filmado boa parte com câmera na mão, o diretor chegou a arranhar alguns fotogramas com a unha para parecer uma filmagem deteriorada.

Cannibal Holocaust é uma obra que nasceu para ser maldita (o texto introdutório, dizendo o quanto o filme é irresponsável é um primor de cinismo). Proibido em diversos países quando do seu lançamento, Cannibal Holocaust já ganhou os mais diversos adjetivos: polêmico, ofensivo, misantrópico, cruel, entre tantos outros, ele é tudo isso, e paradoxalmente, um filme que deve ser visto.

Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust, Itália/1980) Direção: Ruggero Deodato Com: Robert Kerman, Carl Gabriel Yorke, Francesca Ciardi, Perry Pirkanen, Luca Barbareschi.

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