Blood Murder (2000)
Depois que a gasolina de seu carro acaba, em uma estrada escura e deserta, o genial motorista decide deixar sua esposa grávida sozinha (!!!) e sai em busca de um posto. Caminha durante algum tempo até encontrar um homem próximo a uma camionete: o que parece ser a ajuda que precisa acaba se transformando em sangue quando o dono do veículo se revela como o famoso (!!!) Trevor Moorehouse, alguém que na infância morreu vítima de uma brincadeira chamada “Blood Murder”, e agora se vinga dos monitores do acampamento “Placid Pines” (!!!), usando uma máscara de hóquei (!!!) e uma motoserra (!!!).
Seria uma homenagem aos slashers “Sexta-Feira 13”, “Acampamento Sinistro” e “Massacre da Serra Elétrica”? Ou uma tentativa picareta de fazer uso de franquias conhecidas para chamar a atenção do público para um filme que não teria a menor chance de fazer sucesso se não fosse a cara-de-pau de seus realizadores?
A “ideia criativa” surgiu da mente do roteirista John R. Stevenson, que conseguiu convencer três produtores a investir nesse projeto com a perspectiva de resgatar os anos oitenta e, ao mesmo tempo, dar um tom de modernidade incluindo notebooks e e-mails. Pensaram que poderiam divertir o público usando a máscara de hóquei de Jason, a motoserra de Leatherface, e nomes que remetem a diretores, atores e personagens, como Drew, Julie, Tobe, Jamie e até mesmo Jason – este, com a função única de (ironia on) criar diálogos super engraçados (ironia off): “Onde está Jason?” “Eu tenho certeza que Jason está por trás disso.” “Eu acho que Jason deveria ser enterrado num cemitério indígena”.
Ledo engano. Trata-se de uma bobagem levada a sério demais que acaba sendo traída exatamente por seu propósito de realizar “homenagens” sem fundamentos, soando como picaretagem das mais banais.
Com o assassinato do rapaz no começo do filme (totalmente offscreen), o roteiro nem tenta explicar o que aconteceu com a mulher que ficou sozinha no carro, mas o bebê que ela está esperando terá uma importância no decorrer da produção. Logo, somos apresentados a um grupo de jovens monitores que chegam ao acampamento “Placid Pines” (um genérico de “Crystal Lake”...uau! Que engraçado!) com a missão de prepará-lo para as crianças que virão para as férias. Julie 'Jewels' McConnell (nem é preciso citar os atores, pois todos são desconhecidos. A maioria só fez esse filme e sumiu do mapa, enquanto outros continuam “estrelando” produções trashes como “Decadent Evil II”...), com seu visual oitentista, é a boazinha do grupo. Mantém contato com seu pai via notebook e namora com Jason Hathaway, um galinha que logo se engraçará com outra monitora. Aliás, o recurso de colocar a voz do personagem emitente no processo de leitura de e-mails e cartas soa pobre e extremamente irritante. Além de Julie e Jason, o grupo também é composto pelo engraçadinho Tobe, e por vários convidados a futuros cadáveres (Whitney, Dean, Brad, Doug e Drew), além do chefe dos monitores, Patrick.
Com a chegada da noite, em volta de uma fogueira, os jovens citam a lenda local, Trevor Moorehouse, e resolvem brincar de “Blood Murder”, um espécie de “esconde-esconde” ou “pic-esconde”, onde uma pessoa deve procurar os amigos escondidos na floresta e gritar o nome do jogo sempre que achar alguém. No entanto, a brincadeira sempre termina com o grupo pregando uma peça em um dos participantes, fazendo uso de uma máscara de hóquei e simulando um assassinato, o que gera as primeiras brigas que poderão servir de motivo para possíveis suspeitos.
E assim, o grupo vai sendo exterminado um-a-um, quase sempre offscreen ou sem sangue algum (contrariando o título original “Blood Murder”), por um serial killer magrela que usa uma máscara de hóquei e corre atrás de suas vítimas como se competisse numa São Silvestre. Fica a dúvida: será Trevor Moorehouse? Será Nelson Hammond? (nome dito por um velho que mora na região e tem a função única de alertar os jovens sobre os assassinatos que ocorrerão). Ou algum monitor com tendência homicida? A resposta virá na sequência final, quando o diretor tentará enganar o público com um flashback falso para dar uma “reviravolta” na revelação do assassino.
“Blood Murder” é muito ruim. Mal dirigido, cheio de furos e erros (numa cena, uma jovem está tomando sol próximo ao lago, quando a cena corta para um personagem numa canoa, onde pode ser visto claramente a chuva caindo sobre a água. Quando volta para a garota, está sol novamente), com uma trilha pessimamente escolhida, e extremamente cansativo e sonolento, apesar de ter apenas 88 minutos.
As mortes, quase sempre “offscreen”, são malfeitas, sem uma dose de violência sequer, além de mal atuadas, deixando a sensação de que tudo não se passa de uma brincadeira apenas e que ninguém está morrendo “de verdade”. Além de não terem a menor originalidade, já que várias se repetem, mudando apenas os personagens e o local.
Não foi lançado em DVD no Brasil, mas está sendo exibido pelo canal Telecine Premium, como “O Massacre”. Na Inglaterra, numa tentativa de resgatar a atenção do público americano, foi lançada com o título “Scream Bloody Murder” (numa tentativa de relacionar a produção a um filme homônimo de 1973, de Marc B. Ray). Teve uma sequência, chamada “Blood Murder 2: Closing Camp” e um spinoff, “The Graveyard”, também com ambientação em “Placid Pines”.
Entre as curiosidades, vale dizer que os créditos finais do longa estão cheio de erros, com palavras escritas erradas, nomes não creditados, trilha sonora incorreta, etc. Deve ser mais uma brincadeira do fraco diretor Ralph E.Portillo (de outra pérola, “O Escolhido”), que deve ser evitado ao máximo. Se você encontrá-lo entre os responsáveis por qualquer produção que queira assistir, não se esqueça de gritar “Blood Murder” antes de mudar de canal ou tirar o filme do aparelho de DVD.