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Paura nella Città dei Morti Viventi (1980)


Com o sucesso avassalador de “Zombie” (1979), o mestre Lucio Fulci entrou de cabeça no cinema gore, cheio de zumbis decompostos e vermes melequentos. Sua próxima empreitada no terreno se chamaria “Pavor na Cidade dos Zumbis” (Paura nella Città dei Morti Viventi), e seria o primeiro de uma série de três filmes que ficaria conhecido como “trilogia da morte” ou “trilogia do inferno”, que completaria com “Terror nas Trevas” e “A Casa do Cemitério” (ambos de 1981), todos os três estrelados pela atriz inglesa Catriona MacColl.

Vagamente inspirado na história “The Dunwich Horror” de H. P. Lovecraft, não creditado. O filme abre com o suicídio do padre Thomas (Fabrizio Jovine), que se enforca no terreno do cemitério de Dunwich. Enquanto isso, longe dali, em Nova York, a morte do sacerdote é vista numa sessão espírita pela vidente Mary Woodhouse (Catriona MacColl), que aparentemente morre diante de tal visão.

A notícia da morte durante uma sessão espírita, atraí a atenção do jornalista Peter Bell (Christopher George), que sem apoio da polícia, resolve investigar a história por conta própria. O que acaba levando-o até o cemitério onde o corpo da vidente esta para ser enterrado. O que é um golpe de sorte, pois a moça não estava morta, mas em estado cataléptico. O repórter tira a vidente do caixão, numa cena agonizante, que seria citado em Kill Bill Vol. 2 do Tarantino. A dupla agora resolve pegar a estrada e ir até a cidade de Dunwich, pois o suicídio do padre parece ter aberto os portões que ligam o nosso mundo diretamente com o inferno!

Paralelo a isso vemos a cidade de Dunwich ser tomada por acontecimentos sobrenaturais. O fantasma do padre enforcado ronda a cidade, e sua aparição vai transformando algumas pessoas em zumbis. Na cena mais clássica do filme, uma garota (interpretada por Daniela Doria) acaba chorando sangue, numa sequência que impressiona até hoje, e vomitando suas tripas. Logo após a moça possuída arranca um escalpo, com direito c a pedaços do cérebro, de seu namorado (o futuro diretor Michele Soavi). O choro de sangue é um efeito tão legal, que acabam repetindo no final com a protagonista Catriona MacColl.

Ainda temos o louco da cidade, Bob (Giovanni Lombardo Radice), que parece que está no filme só para levar a culpa dos acontecimentos e ter um fim extremamente violento e gráfico, tendo sua cabeça atravessada por uma broca! Em mais um efeito nauseante e convincente. Aliás, a entrada em cena de Bob no filme é um primor de como construir um clima, usando o cenário de uma casa velha, um vento insistente, somado a expressão de louco do ator e pronto!

Na cidade sobrará um psicanalista (Carlo De Mejo), sua cliente (Janet Agren) e um garoto (Luca Venantini) cuja família foi massacra pela sua irmã, transformada em zumbi. Esses remanescentes irão se unir ao casal de viajantes, Peter e Mary, e tentarem deter o apocalipse desencadeado pela morte do padre. Vale lembrar que a cidade de Dunwich na verdade foi construída sobre os escombros de outra cidade, Salem, e teria sido amaldiçoada pelas constantes execuções de bruxas ao longo da história.

O roteiro, escrito a quatro mãos por Lucio Fulci e Dardano Sacchetti, é completamente maluco, e cada vez que o filme avança vai ficando cada vez mais surreal e sem sentido, até chegarmos a um enigmático final em aberto. Na verdade parece que Fulci abandonou a simplicidade narrativa de “Zombie” e partiu para o vale tudo sensorial, que ele elevaria ainda mais ao extremo, no seu filme posterior “Terror nas Sombras”, na verdade um remake mais caprichado desse “Pavor na Cidade dos Zumbis”.

Deixando a lógica de lado, a única saída do espectador é se entregar a criatividade selvagem de Fulci, que nos presenteia com uma sucessão de cenas gores, incluindo chuva de vermes sobre os atores (foi usado em torno de dez quilos de larvas vivas para a cena!), sangue que escorre sobre paredes, entre outras coisas. O clima rústico e o visual sujo são atrativos a mais.

Embora o diretor acabasse se superando no seu filme posterior, e o próprio “Pavor na Cidade dos Zumbis” ainda tenha muitos detratores, é um trabalho visceral ainda mais em tempos de filmes de terror tão pasteurizados. É bom ver um exemplar que te tire de zona de conforto, mesmo que pareça que não vá te levar ha lugar algum. A parte final, com nossos protagonistas adentrando as catacumbas de onde estariam os restos do padre, e param numa série de cavernas assombradas por zumbis e decoradas por caveiras e ossos, é uma boa visão do inferno estilizado de Fulci.

Enfim, um filme maluco e irregular, e ainda assim um ótimo exemplar do gênero, violento e climático, com um punhado de cenas marcantes e inesquecíveis. Um clássico que merece ser reavaliado.


Pavor na Cidade dos Zumbis (Paura nella Città dei Morti Viventi, Itália/1980) Direção: Lucio Fulci Com: Christopher George, Catriona MacColl, Carlo De Mejo, Giovanni Lombardo Radice, Janet Agren, Fabrizio Jovine, Daniela Doria, Michele Soavi, Luca Venantini.

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