top of page

Pensione Paura - 1977


Pelo título (“Pensão do Medo” em bom português) logo vem à mente um horror à italiana ou um giallo sangrento, nem uma coisa e nem outra (embora contenha elementos do segundo), na verdade “Pensione Paura” é um belo drama sobre o batido tema da perda da inocência, ou algo que o valha. Bom, sendo assim você logo deve pensar num filme sensível e lacrimejante, certo?


Errado! O filme contém sacanagem e alguns momentos sangrentos suficientes para satisfazer seu paladar sádico.


Estamos no fim da Segunda Guerra Mundial em algum lugar cravado no interior da Itália lá encontramos a jovem Rosa (Leonora Fani) que mora com a mãe Julia (Lidia Biondi) dona de uma pensão. Com a escola fechada por medo dos bombardeios a jovem se vê obrigada a ajudar a mãe na manutenção do estabelecimento por tempo integral, a garota também arranja tempo para escrever cartas para seu pai que foi para a guerra e ainda não regressou. A espera do soldado se mostra uma obsessão para ela. Como os tempos são duros as duas têm que se virar em época de racionamento e aturar a pouca, e asquerosa, clientela, onde os hóspedes insistem em assediar Rosa, entre eles Rodolfo (Luc Merenda, fazendo o tipo latin lover, canalha e canastrão com direito a bigodinho!), um escroque que vive com uma mulher mais velha (Jole Fierro) e que persegue nossa protagonista pelos corredores da pensão constantemente na pretensão de seduzi-la. Há ainda outros hóspedes peculiares como o velho tarado que perdeu a família num bombardeio, ou o gordo que passa o filme inteiro bêbado farreando com duas irmãs voluptuosas. Fora que mãe e filha ainda tem que esconder num quarto um desertor, que é também amante de Julia (Francisco Rabal).

Seguindo a lei de Murphy, aquela em que nada é tão ruim que não possa piorar, a mãe de Rosa morre num acidente: quebrando o pescoço numa queda. Sozinha e tendo de administrar o negócio familiar, e se desvencilhar das investidas dos tarados. Ela recebe como hóspedes duas figuras com pintas de mafiosos e descobre uma maracutaia deles com Rodolfo, que pretende roubar as jóias de sua senhora e fugir para a Suíça. Mas as coisas degringolam de vez quando Rodolfo finalmente estupra Rosa, com a ajuda da namorada, e no meio da noite o casal é brutalmente assassinados por uma figura misteriosa de capa e chapéu (o elemento Giallo!). Isso acaba desembocando em situações de tensão que concluíra com uma matança.


Embora o diretor tenha alguns créditos na tv e outros tantos como ator, ele efetivamente só dirigiu dois longas: o clássico Giallo gótico e delirante !Il Profumo della Signora in Nero” de 1974 (em que ele faz até uma citação aqui, quando numa cena a protagonista coloca um vestido preto de bolinhas brancas igual a da protagonista do filme anterior) e este “Pensione Paura” (depois no cinema ele faria apenas um segmento no filme episódico SEMPRE AOS DOMINGOS "La domenica Specialmente", 1991)), uma co-produção entre Itália e Espanha (aonde chegou a ser lançado com o péssimo título de La Violácion de la SRta. Júlia). Do seu filme anterior Berilli trouxe a ótima fotografia e a composição de belas imagens, assim como o ritmo lento e sem pressa de contar a história. Ele apresenta os personagens e o drama pessoal da protagonista, como que nos arrastando lentamente para dentro de um pesadelo cada vez mais louco e surreal (destaque para os vários momentos noturnos em que vemos a fachada da pensão com sua iluminação apenas através da porta e suas janelas logo acima, formando como que um rosto).

Uma curiosidade é a presença de freiras como figurantes em algumas sequências na primeira metade do filme, principalmente na cena do cemitério, em que nossa órfã está no tumulo da mãe, e uma freira passa impassível, é como se o diretor mostrasse que os religiosos estão indiferentes à dor de Rosa, e qualquer dúvida a esse respeito é evaporada quando ela visita o padre local (que fornecia os ovos de sua granja para a pensão) e o mesmo se recusa a vender seus produtos fiado, mesmo sabendo de todo drama da jovem que administra uma pensão sozinha.

Vale destacar a atuação de Leonora Fani, que embora tivesse já seus 23 anos na época, convence como uma jovem adolescente que tem que tomar responsabilidades prematuramente ao mesmo tempo em que sonha com o retorno do pai, além de nos brindar com várias cenas de nudez, incluindo a impactante cena em que é estuprada por Rodolfo, sequência que impressiona pela crueza.

Sem ser efetivamente um giallo, e sim um filme que se desenvolve como drama assumindo um ar de mistério, suspense e violência apenas na sua meia hora final, “Pensione Paura” é uma bela jóia obscura que merece ser descoberta. Uma obra que pode ser interpretada como a pureza da adolescência em frente ao mundo corrupto dos adultos, tal quais os contos de fadas (não é a toa que lá pelas tantas uma personagem chega a comparar Rosa com chapeuzinho vermelho), ou até mesmo uma simples viagem de uma pessoa até sua insanidade. De qualquer forma um ótimo filme.

Pensione Paura (Itália / Espanha, 1977) Direção: Francesco Barilli Com: Leonora Fani, Luc Merenda, Francisco Rabal, Jose Fierro, José María Prada, Lidia Biondi.

Textos Atualizados
Recentes
Arquivos
Tags
Siga-nos
  • Facebook - White Circle
  • Twitter - White Circle
  • Tumblr - White Circle
bottom of page