top of page

Emanuelle in America - 1977


Quem espera aqui a Emmanuelle de Sylvia Kristel, uma burguesa que praticava o amor livre para espantar o tédio, ou então seus subprodutos anêmicos que passavam no Cine prive da Rede Bandeirantes há mais de uma década atrás, vai quebrar a cara. Pois estamos nos pântanos do exploitation italiano da década de 1970, onde tudo era possível e poderia acontecer. Prepare-se aqui para cenas de sexo explícito, bestialidade e violência, num filme extremo, ultrajante e ofensivo.

Aproveitando o sucesso do filme “Emmanuelle” (1974), o cinema italiano logo deu sua resposta, convocando a atriz Laura Gemser (que já tinha trabalhado em “Emmanuelle 2 – A Antivirgem” - 1975, continuação do original), uma modelo descendente de africanos e javaneses, de beleza exótica, criando a Black Emanuelle (assim mesmo, com apenas um “m” depois do “E”), uma repórter que corre o mundo atrás de matérias exóticas, e claro, muita sacanagem. A estréia da personagem se deu em “Emanuelle Nera” (1975) de Bitto Albertini. Laura Gemser seguiria a franquia da personagem em mais sete filmes, até encerrar os trabalhos com “Emanuelle – A Detenta” (1983), do deliciosamente incompetente Bruno Mattei.

A série da Emanuelle Nera / Black Emanuelle só se tornaria relevante quando a cadeira de direção acabasse sendo assumida por Joe D’Amato, expandindo assim as fronteiras de exploração da série, saindo do erotismo soft para elementos mais fortes, incluindo violência explícita. Com “Emanuelle in America” (o terceiro da série e o segundo dirigido por D’Amato) temos um elemento a mais, a lenda dos filmes snuff (supostos filmes que contém assassinatos reais, feitos para deleite de sádicos em sessões privativas), realizado em 1977 antecipando em três anos “Cannibal Holocaust”, obra-prima de Ruggero Deodato que elevou o sensacionalismo a picos estratosféricos.

“Emanuelle in America” não tem uma trama exatamente definida, é praticamente uma colcha de retalhos de situações episódicas. Inicialmente encontraremos Emmanuelle em sua rotina de fotografar modelos nuas, na volta para casa ela é ameaçada de morte pelo namorado de uma de suas modelos, o lunático acusa nossa heroína de estar degenerando o mundo com suas publicações eróticas. Depois de se livrar do rapaz, ela se diverte com seu namorado Bill (Ricardo Salvino).

Depois a nossa repórter vai investigar um gangster traficante de armas (Lars Bloch), para se infiltrar na casa do mafioso, e tirar foto com sua microcâmara embutida em bijuterias, ela consegue entrar para o harém particular do bandido, onde cada moça é identificada pelo seu signo. Emanuelle, depois de seduzir um dos capatazes, acaba sendo recepcionada pelas outras garotas em um banho coletivo numa piscina, obviamente com todas nuas, aliás, uma das cenas mais famosas do filme. E na casa do mafioso que temos também a célebre cena de uma moça masturbando um cavalo, para deleite de espectadores. Passado essa fase, nossa protagonista vai até Viena, ficar hospedada na casa de um duque (Gabrielle Tinti, marido de Laura Gemser na vida real) e sua esposa, a bela duquesa Laura (Paola Senatore de “Mangiati Vivi!”, “Salon Kitty” e muitos outros). Depois de assistir uma discussão conjugal, em que nossa heroína ameniza com sua sensualidade, temos uma orgia no castelo, com direito a cenas de sexo oral explícito.

O título do filme não faz sentido algum, já que a moça não para quieta um momento e vai ao mundo constantemente, em Veneza ela descobre que há um clube para mulheres solitárias numa ilha do Caribe, onde podem escolher homens como acompanhantes. Obviamente é a próxima parada da personagem, e é nesta ilha, depois de Emanuelle servir de voyeur para cenas de sexo explícito que ela descobre um casal assistindo um snuff. Então assistimos cenas de mulheres sendo brutalmente violentadas e torturadas, tais cenas foram filmadas com película detonada em cenários sujos, dignos de um pesadelo. Para se aprofundar nessa história nossa heroína vai até Washington, atrás de um senador (Roger Browne) que seria a conexão para o mercado de snuff.

E assim, de suruba em suruba, Emanuelle passa por diversas aventuras. As cenas de snuff, embora poucas acontecem apenas na parte final, e valem o ingresso, são extremamente bem feitas e perturbadoras, difere do clima lascivo do resto da obra. Se alguém por ventura começasse a assistir ao filme e lá pelas tantas caísse no sono e acordasse nas cenas de tortura, provavelmente pensaria que estava assistindo outro filme. Com direito a mutilação de mamilos, um gancho enfiado em uma vagina, uma mulher tendo a boca rasgada por um cabo. O roteiro episódico constrói um filme desconjuntado, começa sensual, depois cai na violência extrema e termina com uma piada metalinguística. Esse defeito dá a obra um ar de picaretagem irresistível.

Dizem que na época havia um boato de que as cenas de snuff seriam reais, conseguidas com traficantes colombianos ou com a máfia russa, quando na verdade os efeitos ficaram a cargo de Gianetto de Rossi, o predileto de Lucio Fulci. D’Amato chegou a arranhar a película com a unha para parecer um filme 8mm batido, Deodato usaria o mesmo truque posteriormente em Cannibal Holocaust.

Ainda sobre a filmagem do snuff, posteriormente uma das atrizes em cena alegou que ficou traumatizada nas filmagens, processando D’Amato e sua equipe. Por isso o diretor acabou tendo seu passaporte revogado por cinco anos.

“Emanuelle in America”, graças a sua brutalidade, acabou caindo nos famigerados "Videos Nasties”, a lista de VHS banidos na Inglaterra no começo da década de 80, uma espécie de Index Librorum Prohibitorum do cinema exploitation. Obviamente o filme sofreu vários cortes ao longo dos tempos. No Brasil saiu em VHS na década de 80 como “Emanuelle na América”, pelo selo Videocast, a fita já era rara na época, hoje é praticamente um Santo Graal. A versão integral só veria a luz do dia em 2003, com todos os seus ultrajes, pelo selo Blue Underground. “Emanuelle in America”, junto com “Cannibal Holocaust” estão entre os principais divulgadores da lenda de snuff. A obra de D’Amato acabaria influenciando inclusive Hollywood, no insosso “8mm” (1999) de Joel Schumacher.

Vale lembrar que no mesmo ano D’Amato cometeria “Emanuelle and the Last Cannibals”, reaproveitando não só a fórmula de erotismo mais violência, mas embarcando no filão dos filmes de canibais, em voga na época.

Com uma ótima trilha sonora de Nico Fidenco e uma boa fotografia sobre a batuta do próprio Joe D’Amato (ele assinava a fotografia de seus próprios filmes usando seu nome de batismo: Aristides Massasseri). Por tudo isso “Emanuelle in America” é um ótimo exemplar do cinema exploitation, do que há de mais infame nele. Emanuelle in America (Itália / 1977) Direção: Joe D’Amato Com: Laura Gemser, Gabriele Tinti, Paola Senatore, Roger Browne, Riccardo Salvino, Lars Bloch, Maria Piera Regoli.

Textos Atualizados
Recentes
Arquivos
Tags
Siga-nos
  • Facebook - White Circle
  • Twitter - White Circle
  • Tumblr - White Circle
bottom of page