Il Mulino Delle Donne di Pietra - 1960
O cinema fantástico italiano foi praticamente limado do mapa graças ao governo fascista de Benito Mussolini, que praticamente mandou e desmandou no país da bota entre 1922 até 1945. El Duce proibiu a realização de tais películas, sendo uma das últimas produções do período o filme mudo “Maciste all’Inferno” (1925) de Guido Brignone. O tempo passou, a Segunda Guerra acabou e Mussolini terminou assassinado por membros da resistência italiana.
Em 1957 o seminal “I Vampiri”, lendária produção iniciada por Riccardo Freda e concluída por Mario Bava quebraria o silêncio do cinema fantástico local. Foi em 1960 que Mario Bava estreava oficialmente com sua primeira obra-prima, o clássico “La Maschera Del Demonio”, consolidando as bases para o horror all'italiana que se seguiria. Neste mesmo ano o diretor Georgio Ferroni, mais conhecido na época pelos seus Peplum, ou “sword-and-sandal” (sandálias & espadas) como também é chamado esse subgênero de filme protagonizado por figuras épicas como Hércules, Maciste, Sansão, etc., resolveu também investir no então nascente filão do terror gótico carcamano, surgia assim esse belo “O Moinho das Mulheres de Pedra” (Il Mulino Delle Donne di Pietra).
O canastrão francês Pierre Brice (que estrelava a série de Euro-westerns “Winnetou”) faz Hans, um jovem estudante que vai até os confins da Holanda fazer uma pesquisa sobre o trabalho de um excêntrico artista, o Professor Gregorius Wahl (Herbert A. E. Böhme), que construiu uma espécie de museu com estátuas de mulheres de pedra dentro de um velho moinho (daí o título original) e graças a uma geringonça grandalhona, tais figuras se movimentam numa esteira ao som de uma música.
Ao chegar no moinho, o pobre jovem conhece Elfie Wahl (a bela Scilla Gabel de “A Maior Aventura de Tarzan”), filha do professor que, por portar uma doença misteriosa, vive reclusa dentro do velho moinho. Misteriosa, a beldade logo cai nas graças do rapaz, que não imagina que isso será o início de uma grande dor de cabeça.
Mal sabe ele que a filha do mestre praticamente morre todas as noites e é reanimada graças ao Dr. Lorem Bohlem (Wolfgang Preiss), que nutre uma paixão reprimida pela rapariga, graças a transfusões de sangue tiradas de moças locais raptadas, sem falar que estas quando morrem acabam se tornando nos manequins petrificados graças às mãos do Professor.
Após uma série de incidentes em que resulta em nosso herói sendo dado como louco, restará ao mesmo salvar outra bela moça, Lisotte (Dany Carrel) uma amiga de infância que encontrou naquele fim de mundo, e que também é apaixonada pelo protagonista, das garras do terrível professor.
Prejudicado pelo roteiro inconsistente que parece um arremedo de “Museu de Cera” (1953) de André de Toth e do já citado “I Vampiri”, sem contar algumas semelhanças com o próprio “La Maschera Del Demonio”, e a versão de Roger Corman para “House of Usher” feito também em 1960. Curiosamente alguns elementos aqui explorados se assemelham a obras posteriores como “Danza Macabra” (1964) de Antonio Margheriti e Sergio Corbucci.
“Il Mulino Delle Donne di Pietra” tem a seu favor a bela composição gótica, graças a bela fotografia de Pier Ludovico Pavoni com um bom uso das cores, algumas cenas são de uma beleza rara dignas de uma pintura e não ficam nada a dever ao que de melhor o cinema gótico ofereceu nos anos sessenta (leia-se: Mario Bava, Riccardo Freda, Roger Corman, Terence Fischer, ou seja, não é pouca coisa). Sem falar nas próprias figuras das mulheres de pedra que realmente impressionam e os interiores do moinho, principalmente o estúdio do Professor, com elementos cênicos certos (vemos cruzes jogadas a esmo, mãos de pedra penduradas nas paredes, estátuas por todo lugar) que dão o clima surreal exato.
Giorgi Ferroni, que depois ficaria famoso ao dirigir o clássico spaghetti-western “O Dólar Furado” (1965), e só embarcaria no terror novamente no ótimo filme de vampiros “La Notte dei Diavoli” (1973), seu penúltimo filme, uma pena já que demonstrou que tem cacoete para a coisa, criando um clima interessante e seqüência magníficas (como no final com os rotos dos "bonecos" pegando fogo no incêndio do moinho).
Destaque para a sensual Scilla Gabel, e de Herbert A. E. Böhme como o vilão, sua expressão de loucura no desfecho é daquelas de ficar tatuadas na mente. O resultado final é dar um sorriso nos lábios. Ou seja, mais uma pérola obscura que merece ser conhecida pelos amantes do terror gótico.
O Moinho das Mulheres de Pedra (Il Mulino Delle Donne di Pietra, Itália/França, 1960) Direção: Giorgio Ferroni Com: Pierre Brice, Scilla Gabel, Wolfgang Preiss, Dany Carrel, Herbert A. E. Böhme, Liana Orfei.