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Reazione a Catena - 1971


Uma viagem de ácido feito por um diretor que não conhecia ácido”, descrição do roteirista Franco Barberi sobre “Banho de Sangue” (Reazione a Catena), o lendário giallo do Mestre Mario Bava que acabou influenciando os slashers movies.

Mario Bava foi um artista inquieto, sempre com um olhar pra frente. Praticamente inaugurou o cinema de horror italiano do pós-guerra, quando co-dirigiu com Riccardo Freda “I Vampiri” (1957), depois criaria e formataria o subgênero conhecido como giallo em filmes como “La Ragazza che Sapeva Troppo” (1963), “ I Tre Volti della Paura” e “ 6 Donne per l'Assassino” (1964). E quando o mesmo giallo já se estava se tornando popular, com seus assassinos de luvas pretas e lâminas reluzentes, Bava resolve mudar um pouco a fórmula e acabou ajudando a criar os slashers. “Reazione a Catena” junto com “Torso”, de Sergio Martino, são os gialli que mais se aproximam do filão que popularizou Jason Vorhess, Michael Myers, entre outros.

“Reazione a Catena” começa com uma idosa sendo enforcada, simulando um suicídio, quando para o espectador já sabe que se trata de um assassinato graças às luvas pretas do assassino. Logo a câmera mostra a cara do assassino, mal dá tempo do espectador pensar “que raio de giallo é esse que mostra o assassino já de cara?”, quando o próprio assassino acaba sendo morto a facadas por um terceiro personagem misterioso! Logo descobrimos que a idosa em questão era uma condessa, dona de uma area a beira-mar e que seu assassino, que também foi assassinado, era seu marido e cujo cadáver acaba desaparecido.

Somos apresentados então aos moradores da região: o peculiar casal formado pelo entomólogo Paolo (Leopoldo Trieste) e sua esposa, a cartomante Anna (Laura Betti), o rústico pescador Simon (Claudio Camaso), sem falar no advogado Frank (Chris Avram), chegam ao local ainda o casal Albert (Luigi Pistilli) e Renata (Claudine Auger que tinha acabado de realizar o clássico giallo “La Tarantola dal Ventre Nero”), esta última é enteada da condessa, filha do homem assassinado, que está de olho nas terras e no dinheiro da família. Também entram em cena dois casais de adolescentes que não tem outra função a não ser serem mortos brutalmente, aumentando assim a contagem de cadáveres.

Com exceção dos adolescentes, que mal duram em cena para logo serem liquidados, todos os outros personagens tem alguma intenção quanto às terras da condessa, criando uma ciranda de crimes. Praticamente não há heróis aqui, o niilismo do roteiro no mostra um bando de crápulas, e o roteiro vai ficando cada vez mais complicado na medida em que os cadáveres vão se amontoando. Até chegarmos ao final inesperado, completamente maluco e de um humor negro a toda prova. Com efeitos de maquiagem de Carlo Rambaldi (“Alien – O Oitavo passageiro”, “E.T. – o extra-Terrestre”, etc), “Reazione a Catena” é um desfile de assassinatos. Algumas cenas são memoráveis, como a do cadáver com uma pequena lula grudada na cara.

Originalmente lançado como “Reazione a Catena”, o filme teve vários relançamentos com títulos diversos, na Itália chegou a receber o subtítulo de “Ecologia del Delitto”, nos EUA foi batizado com diversos títulos: “Bay of Blood”, “Carnage”, “Twitch of the Death Nerve” e até “Last House on the Left Part -II”, que além de não ter nada a ver com o imundo clássico de Wes Craven, o filme de Bava foi lançado um ano antes! No Brasil chegou aos cinemas com o ridículo título de “O Sexo na Sua Forma Mais Violenta”, depois foi lançado duas vezes em VHS com os respectivos títulos: “Banho de Sangue” e “Mansão da Morte”. Por último, saiu por aqui em DVD, no Box “Obras-Primas do terror Volume 3” da Versátil como “Banho de Sangue” mesmo.

A franquia “Sexta-Feira 13”, a grande propulsora do filão dos slashers dos anos 80, assumidamente bebeu direto da fonte dessa obra de Bava, não só no cenário bucólico, mas chegando ao cúmulo de copiar suas mortes, a mais evidente a do casal trespassado por uma lança no filme de Bava, e que foi xerocado em Sexta-Feira 13 parte 2.

Feito com um orçamento parco, os cenários de interiores que vimos no filme são na maioria das vezes interiores de uma das casas de Bava ou a casa de um dos produtores. Como a região onde o filme foi filmado não era arborizado o suficiente para dar o clima bucólico exigido pelo script, pessoas, entre elas o próprio Bava, ficavam escondidas sacudindo ramos de folhas, para dar a impressão de galhos de árvores balançadas pelo vento, o que ocasionava risos no elenco e na equipe técnica. O filme teria nascido da vontade da atriz Laura Betti em trabalhar novamente com Bava. Os dois tinham realizado anteriormente “O Alerta Vermelho da Loucura” (Il Rosso Segno della Follia, 1970).

Uma das lendas que correm é que o diretor Dario Argento, quando viu “Reazione a Catena” num cinema em Roma adorou tanto o filme que, com a ajuda do projecionista, que era seu amigo, roubaram do cinema os rolos do filme. O diretor de Suspiria alega que tem essa cópia até hoje.

Brutal e niilista, ainda que um tanto confuso, “Reazione a Catena” foi (mais) uma obra seminal do incansável Mario Bava.


Banho de Sangue (Reazione a Catena, Itália, 1971) Direção: Mario Bava Com: Claudine Auger, Luigi Pistilli, Claudio Camaso, Anna Maria Rosati, Chris Avram, Leopoldo Trieste, Laura Betti.

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