Overlord - 2018
A rima entre nazismo e ocultismo é extremamente rica para o gênero fantástico. Todas as histórias macabras que sugerem experimentos bizarros dos alemães sob o comando de Hitler na Segunda Guerra Mundial e o seu envolvimento com o sobrenatural na busca pela perfeição de seus soldados renderam filmes divertidos, como os da franquia Indiana Jones, Zumbis na Neve e até os questionáveis O Lago dos Zumbis e Deu a Louca nos Nazis, além de games como Wolfenstein. A lista é imensa, mas o que melhor dialoga com Operação Overlord é, sem dúvida, O Exército das Trevas, de Richard Raaphorst, que trazia algumas semelhanças em seu enredo, ainda que a diferença entre qualidade e realização seja indiscutível.
Em 5 de junho de 1944, um dia antes das tropas aliadas invadirem a França pela Normandia, o tal Dia D, milhares de paraquedistas saltaram em solo francês para destruir os meios de comunicação dos alemães. No longa, um grupo de soldados está prestes a se lançar às proximidades de um vilarejo, onde, segundo seu comandante, haveria um rádio-transmissor escondido na torre de uma fortificada igreja. A tensão e o medo viajam explicitamente com a equipe, no interior de um avião, entre rajadas de tiros, explosões e a iminente ameaça de queda a qualquer momento, em uma sequência criativamente bem filmada. Quando são atingidos, muitos se perdem no fogo da aeronave, enquanto acompanhamos a luta pela sobrevivência de Boyce (Adepo), do experiente Ford (Wyatt Russell), Tibbet (John Magaro) e Chase (Iain De Caestecker). O terror continua na chegada ao solo, com a assustadora perspectiva de encontrar inimigos a qualquer momento, tendo o cuidado de se desviar das minas terrestres, com a belíssima fotografia de Laurie Rose e Fabian Wagner, acentuando os corpos de paraquedistas presos em árvores no aspecto de um vale dos enforcados.
Quando encontram a bela francesa Chloe (Mathilde Ollivier) e decidem se abrigar em sua morada, num ambiente hostil de um vilarejo gótico, onde cruzes são abandonadas entre os corpos, o medo continua a envolver os personagens e o espectador com a respiração cavernosa de sua moribunda tia, isolada em um quarto, em uma referência bem digerida à porta de Regan McNeil (Linda Blair) no clássico O Exorcista (73). Enquanto planejam meios de chegar à igreja, numa perspectiva desanimadora pelo excesso de soldados alemães nas redondezas, a garota recebe a visita do tenente Wafner (Pilou Asbæk), um abusivo e violento soldado que faz uso de sua patente para se aproveitar das moradoras. Boyce conquista a admiração do público com a sua inexperiente capacidade de matar, e a ingenuidade em ajudar as pessoas a qualquer custo, por mais arriscado e penoso que seja o percurso, incluindo a própria Chloe e seu irmão, um menino que traz as situações mais divertidas e assustadoras do longa. Assim como os demais, à exceção dos soldados, Boyce somente sabe que alguns moradores da comunidade estão sendo raptados e conduzidos à igreja, onde estariam voltando doentes ou diferentes.
Embora o trailer estrague algumas das surpresas do filme, seria melhor nem vê-lo para uma diversão ainda maior, o enredo de Billy Ray e Mark L. Smith consegue buscar diferenciais em suas decisões. A melhor delas envolve o heroísmo inconsequente do protagonista, em suas constantes ousadias, que não funcionariam, obviamente, em um contexto real. Com sua simplicidade e sorte, além de contar com a boa atuação de Jovan Adepo, ele vai além do que se espera, transformando-se no herói improvável em boa parte do filme de Julius Avery. Além dele, também merece destaque a vilanice de Wafner, bem caracterizado pelo ator dinamarquês Pilou Asbæk, cuja imponência transmite os principais sentimentos de repulsa e indignação.
Com momentos de tensão e mistério, pelo ambiente assustador, e momentos oportunos de humor, Operação Overlord ainda tem zumbis poderosos, num visual e movimentação bem interessantes, remetendo ao melhor de Stuart Gordon. O pescoço quebrado de um deles foi o que mais despertou a agonia do público presente na Mostra SP, algo que fazia tempo que não se via no cinema. Com uma ótima trilha sonora, já evidenciada no trailer – que insisto, veja depois de assistir ao filme -, o longa é o presente de horror que os fãs estavam esperando, numa época em que os destaques envolvem o pós-horror e o satanismo. Confira no cinema e tenha arrepios divertidos”.
Em tempo, a produção é de J.J.Abrams. Durante um tempo, houve alguns boatos de que esse filme faria parte da franquia Cloverfield. Felizmente, não há indícios disso.