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Heilstätten - 2018


Em dado momento do terror alemão O Manicômio (Heilstätten, 2018), que estreou no Brasil no dia 3 de janeiro de 2019, um dos personagens aparentemente mais conscientes da produção diz para um dos jovens que ele representa o que há de pior na juventude e ainda serve de modelo para isso. É uma verdade inconveniente mas que temos que aceitar diante da ascensão dos youtubers e produtores de canais de vídeos, tendo em vista o que boa parte deles traz de útil para a sociedade: quase nada. Milhares de seguidores assistem e acompanham esses jovens que produzem materiais banais, que sugerem brincadeiras perigosas como a de dançar com o carro em movimento ou – para mencionar o mais recente – o de atravessar a rua ou realizar tarefas com os olhos vendados, em alusão a Bird Box. É claro que há exceções como os que produzem vídeo-aulas, tutoriais, fazem resenhas com argumentos e divulgam livros, filmes e jogos…mas a maioria é representada pelas vítimas deste filme de Michael David Pate.


Dentro de um vasto universo de produções ao estilo found footage, com câmeras amadoras e loucos que decidem produzir um documentário em um local assombrado, O Manicômio tem o diferencial de abordar finalmente os youtubers. A câmera, ligada o tempo todo, já é justificada pela obsessão desses jovens pelo registro de todas as suas ações; a maluquice de invadir um ambiente considerado assombrado parte desses desafios fazem entre canais. Se por um lado é possível entender as vítimas e a motivação, por outro fica quase impossível suportá-los em cena, com idiotices constantes, provocações e gírias (a dificuldade de encontrar esse filme legendado traz ainda o martírio de ouvir a dublagem dizer coisas como “top“, “que irado” a cada dois minutos). É muito fácil torcer para que a assombração faça seu trabalho e extermine um a um de maneira dolorosa…

Depois da informação inicial sobre o ambiente que será explorado no longa, no caso, um hospital psiquiátrico que ficou conhecido pelo fato dos nazistas terem usado pacientes tuberculosos para experimentos e o destaque para a vítima 106, – nem se preocupe em prestar atenção, pois todo o relato será novamente lembrado pelos personagens – o espectador acompanha os tais youtubers: Marnie (Sonja Gerhardt) é uma modesta produtora de conteúdo, com pouco mais de 1000 seguidores. Na cena inicial, ela conta que participou de um desafio que testava sua claustrofobia e que agora estaria testando um outro youtuber, obrigando-o a ver um filme de terror. “Cada vez que sentir medo você deve se levantar e fazer uma dancinha ridícula.” Felizmente, isso só é exemplificado uma vez.


Ela fica sabendo que os populares youtubers do canal “Pegadinhas.TV“, os bobocas Finn (Timmi Trinks) e Charly (Emilio Sakraya), uniram-se com outra videoblogger, Betty (Nilam Farooq), para um desafio único: passar 24 horas em um local considerado assombrado. O tal local é – ou deveria ser – o Beelitz Sanatoriums, um gigantesco hospital psiquiátrico que funcionou entre 1900 e 1980, abrigando, inclusive, o próprio Hitler durante a Primeira Guerra Mundial. Pesquisando na internet, descobri que os realizadores não conseguiram autorização para filmar no manicômio retratado no filme porque ele já estava programado para as gravações de A Cura (A cure for wellness), o que obrigou o diretor a ambientar seu longa em outro, o também tétrico Grabowsee Heilstätten.

Marnie ainda fica incomodada por descobrir que seu ex-namorado, Theo (Tim Oliver Schultz), está organizando a brincadeira. Sensitiva e ainda apaixonada, a garota irá para o local, talvez pensando na possibilidade de ganhar novos seguidores. O rapaz chega a dizer que ela é atormentada por ilusões e não claustrofobia, como relatou em seu canal, justificando sua capacidade de ver fantasmas. Assim, o grupo invade o local, atravessando uma mata seca, e espalha câmeras para ajudar na experiência. Qual youtuber sentir medo primeiro deve acender um sinalizador, o que encerra a brincadeira. Em busca de views, eles não apenas se “hospedam“, mas fazem provocações e até mesmo uma improvisada tábua ouija a fim de despertar as entidades que habitam o lugar maldito.


A partir daí, seguem-se alguns episódios já vistos antes: um desaparece, sons estranhos e movimentos assustadores são vistos o tempo todo – principalmente pelo público -, surge um convidado surpresa, e o primeiro corpo. Tentativa de fuga, desespero, e a insistência constante em se separar complementam a experiência que ainda reserva uma cena Bruxa de Blair de despedida da família, vista, desta vez, por uma câmera termográfica. Se apenas um corpo é visto pelo grupo, os mais calejados com o gênero já percebem que existe algo de mais sinistro no enredo de Pate e Ecki Ziedrich, um plot twist que traz duas reações no espectador: uma de satisfação (pela vontade de fazer o mesmo) e o de decepção quando tudo acontece ao estilo vilão de James Bond.

Mesmo com essa tentativa de mudar o rumo da narrativa, o resultado é extremamente decepcionante. Dos efeitos digitais – que já encheram o saco do público (ninguém mais aguentar ver olhos vazados e boca escancarada feitas no computador) à direção mal desenvolvida (as opções de filmagem são sempre as menos atraentes), O Manicômio transparece um amadorismo irritante, com poucas cenas que realmente causam arrepios. A única bem feita é a do rapaz que é encontrado em um corredor e alega que o fantasma está literalmente atrás dele: você chega a pensar que verá uma sombra colada em suas costas, e é acometido por um calafrio momentâneo. Ademais, fica apenas a impressão que o ambiente poderia propiciar uma produção bem mais assustadora e divertida, se o enredo fosse mais interessante (e não tivesse ideias idiotas como a do rapaz que se fere no rosto para fazer uma alusão a Hitler). Aparenta ser simplesmente mais um vídeo desnecessário produzido por um youtuber que quer apenas “likes“, tendo consciência que o que fez não trará nada de novo ao gênero.


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