Crawl - 2019
O embate Homem Vs Natureza está ganhando um novo capítulo com a estreia nos cinemas de Predadores Assassinos (Crawl, 2019), de Alexandre Aja, com produção de Sam Raimi. Trata-se de mais uma produção dirigida por aquele que deixou transparecer uma promessa ao ter confeccionado em 2003 o fantástico Alta Tensão (High Tension) e posteriormente o remake de Quadrilha de Sádicos, Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006). Aja ainda faria mais duas refilmagens, Espelhos do Medo (Mirrors, 2008) e Piranha 3D (2010), a adaptação Amaldiçoado (Horns, 2014) e o thriller A Nona Vida de Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax, 2016), antes de retornar ao terror aquático. Pode-se elogiar esse novo trabalho do cineasta francês pelos aspectos técnicos e bom elenco, mas ele somente amplia a distância de seu período inicial, quando ele fazia parte de qualquer lista french extremity.
Deixando de lado as piranhas voadoras, corpos de jovens destroçados e o sangue em profusão, Predadores Assassinos tem como vilões grandes jacarés, com inspiração em um acontecimento curioso ocorrido durante o furacão Florence em setembro de 2018. Devido à força devastadora do fenômeno, jacarés foram vistos em lugares inusitados como bairros residenciais na Carolina do Sul. O roteiro de Michael e Shawn Rasmussen apresenta uma situação complicada envolvendo uma jovem e seu pai, presos no porão, com a chegada de um furacão, tendo na vizinhança uma fazenda de criação desses animais. É claro que para ampliar a sensação ameaçadora os realizadores trazem exemplares imensos e extremamente vorazes, fazendo uso de uma insistente sensação de claustrofobia.
Mas, até chegar a esse ponto, há muitos clichês pelo caminho. Durante mais um treino de natação, Haley (Kaya Scodelario, da franquia Maze Runner e de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal) recebe um telefonema da irmã Beth (Morfydd Clark), informando sobre a aproximação de um furacão de categoria 5 à Flórida. Preocupada com o pai, Dave (Barry Pepper, também de Maze Runner), que não atende as ligações, ela ignora todo serviço de evacuação do local, inclusive do ex-namorado da irmã, para ir ao encontro do pai em sua antiga morada, com a companhia do cachorro Sugar.
Depois de investigar o ambiente, que traz um jumpscare com uma árvore que invade a casa, Haley desce ao porão, somente para ser encurralada pelos animais, juntamente com o pai ferido. Ela, então, precisará usar seu instinto de sobrevivência, as lições de seu pai sobre persistência e as técnicas de natação providenciais para tentar sair dali antes que a casa seja inundada. Enquanto busca meios de enfrentar os animais pelos cantos do ambiente úmido e apertado, algumas pessoas aparecerão nas redondezas para roubar mercados ou até mesmo para procurá-la, sabendo de sua atitude insana, apenas para aumentar o número de vítimas.
Como se nota pelo breve enredo, é preciso um pouco de boa vontade para aceitar essas licenças narrativas: a coincidência dela ser uma exímia nadadora, dos animais serem muito grandes para atravessar as barreiras do porão, dos policiais se aproximarem para ajudar, entre tantas outras. Aja ignora as obviedades do roteiro e ainda acrescenta irritantes flashbacks, mostrando Haley criança em seus primeiros desafios como nadadora. Também pede a paciência do espectador pelo fato dos jacarés não serem tão ágeis com ela como são com as demais vítimas, devoradas rapidamente, sem permitir qualquer tentativa de enfrentamento.
Mesmo com tantas facilitações, ainda assim Predadores Assassinos se torna um interessante entretenimento. Os efeitos são convincentes, assim como a boa atuação do elenco, e as diversas situações envolvendo a protagonista, com destaque para a cena do banheiro e a da travessia em direção ao barco, evitando movimentos bruscos que possam atrair as criaturas. Cenas de tensão e ataques violentos também contribuem para que o espectador se agarre ao assento, na torcida pela sobrevivência de todos, principalmente do cãozinho Sugar.
Predadores Assassinos está realmente bem distante da fase áurea do diretor, assim como de uma comparação com a franquia Sharknado, mas comprova que ele realmente se sente à vontade com o sangue que se mistura com a água. Se não fosse tão óbvio e repleto de lugares comuns, seria mais bem conceituado. Resta apenas a diversão rasteira.