Zombieland: Double Tap - 2019
É sempre complicado brincar com os mortos. Se a gênese do estilo, desenvolvida por George A. Romero, trazia-os de volta à vida para se alimentar dos vivos em produções frias, sangrentas e claustrofóbicas, quando a paródia passou a dialogar com o gênero, havia a preocupação de que o humor poderia atrapalhar o desenvolvimento da fórmula. Entre exemplos que não acrescentam nada à mistura, pode-se dizer que Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) e Zumbilândia (Zombieland, 2009) até que souberam respeitar o que havia sido feito até então e principalmente os próprios mortos-vivos. E, no caso deste segundo, a boa aceitação se deve à narrativa metalinguística (que se auto-parodia) e ao bom elenco, agora reconhecido por indicações ao Oscar e premiações diversas. Sabendo dos perigos que existem na tentativa de continuar o que deu certo, será que o público estaria disposto a retornar para Zumbilândia?
Quando foi lançado em 2009, já havia ideias para uma continuação. Todos os envolvidos se manifestaram em entrevistas sobre essa possibilidade, incluindo Woody Harrelson, que nunca foi muito fã de sequências. Contudo, Ruben Fleischer acabou se envolvendo em outros projetos como séries de TV (episódios de Santa Clarita Diet, comédia com zumbis, está entre eles), curtas e filmes menores até fazer Venom, 2017; e Rhett Reese criou o seriado The Joe Schmo Show e trabalhou no roteiro de G.I. Joe: Retaliação (2013), Deadpool 1 e 2 (2016 e 2018) e o sci-fi Vida. Enquanto havia relatos nos bastidores sobre uma série de TV com outros personagens no mesmo universo, com o aniversário de dez anos do original, voltou-se a intenção de uma retomada, com todo o elenco demonstrando disposição para um novo filme.
Assim, Zumbilândia: Atire Duas Vezes, subtítulo em referência a segunda regra de Columbus (Jesse Eisenberg), desenvolveu-se sem buscar repetir o modelo de 2009, mas mantendo o mesmo tom irônico e diálogos teatralmente cômicos. Ele começa com o grupo, composto novamente por Tallahassee (Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) chegando à Casa Branca, para uma infinidades de gags envolvendo os antigos presidentes e a história americana. Enquanto Columbus pensa em oficializar a relação com Wichita, temerosa por não haver um futuro concreto, Little Rock começa a se sentir incomodada por não encontrar jovens com quem possa se relacionar. As duas, então, decidem abandonar os rapazes para refletir e buscar novos horizontes, deixando-os sem saber se devem ir atrás ou continuar onde estão.
Nesse cenário de DR e auto-reflexão, Columbus e Tal conhecem a burrinha Madison (Zoey Deutch), um dos bons acréscimo ao filme. O trio, contando com o retorno de Wichita, sairá em jornada para resgatar Little Rock, atualmente envolvida com o hippie Berkeley (Avan Jogia), que canta músicas do Bob Dylan como se fossem composições próprias, e convence a jovem a segui-lo até o lar de Elvis Presley. Essa jornada trará o encontro com outros personagens como Nevada (Rosario Dawson), Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch), além da necessidade de enfrentar zumbis (sim, eles estão no filme) para proteger uma comunidade que é contrária ao uso de armas de fogo.
O que incomodava já no trailer de Zumbilândia 2 era exatamente a ausência de zumbis. Se a química do elenco já soa natural, tendo em vista o primeiro, percebe-se que a intenção principal é trabalhar exatamente a interação entre eles, como uma verdadeira família, fazendo uso das criaturas apenas como coadjuvantes e elementos do cenário. E até chega a ser divertido observar a classificação para os tipos de mortos-vivos, feita por Columbus, a partir de suas características (o melhor é, sem dúvida, o zumbi Homer), além da apresentação de um novo grupo, praticamente indestrutível. E eles aparecem em momentos importantes do longa, como mediadores de conflitos e na batalha final.
Mesmo com alguns momentos divertidos, como toda a sequência que acontece num bar que preserva a memória de Elvis, nada consegue superar a participação especial nos dois créditos finais. Deve-se recomendar que o público não deixe o cinema, e aproveite a boa trilha, incluindo a clássica Burning Love, cantada pelo próprio Woody Harrelson, enquanto aguarda as cenas finais – a cereja do bolo – do longa de Ruben Fleischer, que não compromete o trabalho, mesmo com os já cansados slow motions em alguns momentos.
O futuro da franquia Zumbilândia ainda é incerto. Daí pode vir um terceiro filme ou até mesmo um derivado para a TV, com um elenco alternativo; ou até mesmo um prelúdio, com o grupo que trazia uma versão de Columbus, com mandamentos (e que chupou a ideia de Todo Mundo Quase Morto). Mas que não tenhamos que esperar mais outros dez anos para vê-los em ação, contra zumbis distintos e eles mesmos.