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Dracula: Prince of Darkness - 1966


Obviamente que depois do sucesso do clássico O Vampiro da Noite (1958), a produtora Hammer estava ansiosa para rodar a sequência deste, só que esbarrava num obstáculo: a recusa de Christopher Lee, agora transformado em astro, de repetir o papel que o alçou a fama. Levou oito anos até convencerem Lee de voltar a usar os caninos e a capa do conde em Drácula, O Príncipe das Trevas.


Nesse meio tempo a Hammer chegou a rodar o ótimo As Noivas do Vampiro, que a princípio seria a continuação de O Vampiro da Noite, porém o filme acabou ficando sem Drácula, reaproveitando apenas o Van Helsing de Peter Cushing. O que era uma sequência, hoje é visto como um spin-off, um apêndice da série.


Christopher Lee finalmente retorna em O Príncipe das Trevas, porém sem Van Helsing, desta vez substituído pelo padre Sandor, um clérigo pouco ortodoxo interpretado por Andrew Kier. Na verdade Van Helsing estava nos planos originais, mas a esposa de Peter Cushing acabou adoecendo gravemente e ele caiu fora do projeto. Violet Helene Beck, ou apenas Helen, como era conhecida a mulher do ator, nunca mais se recuperou, vindo a falecer em 1971, quando Cushing estava pronto para rodar O Sangue no Sarcófago da Múmia, e acabou sendo substituído por Andrew Kier novamente.


Voltando ao Drácula, O Príncipe das Trevas, engana-se quem acha que o acordo entre a Hammer e Christopher Lee para rodar o filme foi um mar de rosas. O ator teria detestado suas falas no script, “Alguém escrevia frases como se eu fosse o Apocalipse. Não dava para acreditar”, segundo o próprio Lee. Resultado: o astro só aceitou esse trabalho se Drácula não tivesse uma linha de diálogo. Sendo assim, fora uns grunhidos, o vampiro entra mudo e sai calado o filme inteiro. Quem vê o pudor de Lee nessa época, ao ponto de privar o espectador de sua voz sepulcral e marcante, jamais imaginaria que o ator mais tarde reencarnaria o conde em tranqueiras como Drácula no Mundo da Minissaia e Ritos Satânicos de Drácula, isso sem falar na famigerada versão do livro de Bram Stoker levada a cabo por Jesus Franco.

Para Drácula, O Príncipe das Trevas, a Hammer chamou de novo para a cadeira de direção o mestre Terence Fisher, o homem que simplesmente formatou o padrão da produtora, e curiosamente esse seria o último filme da série que ele comandaria. Novamente temos James Bernard na trilha sonora e Jimmy Sangster no roteiro, aqui assinando com o pseudônimo John Sansom.


O filme começa justamente onde terminou o original. Reaproveitando cenas do anterior, mostrando Drácula e Van Helsing se engalfinhando num duelo fatal para o vampiro. A trama se passa dez anos após a destruição de Drácula. Vemos então um cortejo, levando o cadáver de uma bela jovem, pronta para levar uma estaca no peito, mas os aldeões supersticiosos são impedidos pelo padre Sandor – mostrando que, mesmo após uma década depois da destruição de Drácula, o medo do vampirismo persiste na região.


Nisso entra em cena dois casais de turistas ingleses: o jovem impetuoso Charles (Frank Matthews) e sua bela esposa Diana (Susan Farmer), e Alan (Charles ‘Bud’ Tingwell), irmão mais velho de Charles, e sua esposa, a carola Helen (Barbara Shelley). Contrariando as recomendações dos moradores, nossos turistas resolvem fazer uma tour próximo ao castelo de Drácula. Obviamente que a noite cai, e graças a uma carruagem fantasmagórica, os ingleses acabam parando na famigerada moradia do notório vampiro. Eles são recebidos por Klove (Philip Latham), o servo de Drácula, que curiosamente não existia em O Vampiro da Noite, estaria ele de férias do serviço durante os fatos mostrados no filme anterior?

Os visitantes são recebidos com jantar pronto e quartos previamente arrumados. Isso que é eficiência serviçal! Claro que os planos de Klove são para ressuscitar seu amo, e pelo jeito esta é sua primeira oportunidade em dez anos!


Klove acaba esfaqueando Alan, e após levantar o cadáver sob roldanas numa espécie de ataúde, acaba derramando o sangue do morto sob as cinzas do vampiro, que estavam guardadas em uma urna. Drácula acaba ressuscitando, e a primeira coisa é transformar Helen em vampira. O casal remanescente Charles e Diana, nada a ver com a realeza inglesa, acaba indo se refugiar no mosteiro onde fica o padre Sandor. O problema é que no mosteiro vive um louco, que se revela outro servo de Drácula, na verdade é o mesmo Renfield do livro de Bram stoker, só que aqui rebatizado como Ludwig (interpretado por Thorley Walters, praticamente um sósia de Jaiminho do seriado Chaves). E é justamente ele que facilita a entrada do vampiro no mosteiro, criando novas confusões. No final tudo vai convergindo para um duelo entre nossos heróis e o conde no entorno de seu castelo.


O curioso que Klove, um personagem criado para esse filme, assim como a situação de jovens presos no castelo do vampiro, reapareceriam em O Conde Drácula (1970), praticamente um remake disfarçado de O Príncipe das Trevas.

Sem a mesma beleza visual do primeiro, sem Van Helsing, sem a voz de Christopher Lee, e com o agravante de que o vampiro só vai dar o ar de sua graça depois de quase cinquenta minutos de projeção, fica óbvio que Drácula, O Príncipe das Trevas fica pontos abaixo de O Vampiro da Noite. No entanto essa sequência mantém o padrão de qualidade do anterior, ainda mais se compararmos com os filmes posteriores da série, que caíram em mãos de diretores menos habilidosos que Fisher.


E Lee prova que consegue fazer um Drácula marcante sem utilizar uma só palavra (e verdade seja dita, em O Vampiro da Noite ele só tinha uma dúzia de falas). Afinal, estamos falando de um ator que soltava carisma pelos poros. Destaque também para Barbara Shelley, e como ela muda do começo do filme, quando faz a esposa correta, exalando frigidez, para quando se torna uma vampira cheia de sensualidade. Curiosamente os gritos da atriz foram dublados pela sua companheira de cena Susan Farmer, embora o grito original de Shelley seja mostrado no trailer alemão do filme! Barbara acabaria se tornando uma musa da produtora em filmes como A Górgona (1964) e Rasputin, O Monge Louco, que estava sendo filmado simultaneamente ao Príncipe das Trevas, compartilhando inclusive elenco e sets de filmagem.

Lançado no formato digital no Brasil pela Works DVD, foi relançado recentemente pela Brooksfilm (que na verdade é a mesma Works com outro nome fantasia) com um cd extra, contendo a trilha do filme e de outras produções da Hammer. O filme contém boas sequências de suspense e tensão, um bom clima e um elenco que segura às pontas.


Enfim, é uma continuação digna do clássico.

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