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Pumpkinhead - 1988


Na excitante época do VHS, era divertido ir à locadora e escolher entre os tijolões os filmes que pretendia ver no final de semana. Sem a possibilidade de visualização do trailer, o que se podia fazer era avaliar a produção pelo título, capa e sinopse, razões pelas quais as produções precisavam expressar no nome algo significativo para o cliente. No caso específico de Pumpkinhead, era praticamente difícil que algum fã de horror se interessasse por algo que se chamasse “A Vingança do Diabo” e trouxesse na capa duas cenas do filme, sem mostrar o que mais importava: a criatura. Um dedo monstruoso cortando a testa de uma jovem, com um filete de sangue vermelhão sobre a imagem azulada, era o que se via no fronte; na parte traseira, a bruxa, um dos principais elementos da franquia. Mas, e o monstro, concebido pelo mestre dos efeitos especiais Stan Winston?


Especialista na função, Winston (1946-2008) tem o nome associado a 39 produções, muitas de horror, ficção científica e fantasia como Zoltan – O Cão Vampiro de Drácula (1977), Cão Branco (1982), O Exterminador do Futuro (1984), Invasores de Marte (1986), Aliens, O Resgate (1986), Predador (1987), Deu a Louca nos Monstros (1987)… e muitas outras. Pumpkinhead foi a sua primeira tentativa na direção de longas; a segunda e última foi o fraquinho Meu Amigo, o Gnomo (1990). Nota-se que as produções mencionadas neste parágrafo já são um excelente portfólio, e todas vieram antes de A Vingança do Diabo, o que possibilitou a VTI de acrescentar os dizeres: “Direção de Stan Winston – o criador dos fabulosos efeitos especiais de Aliens“. Excluindo a carreira posterior de Winston, hoje teria um possível texto diferente: “Dos mesmos criadores de Aliens e Exterminador do Futuro“. Pelo menos, a imagem da capa está bem mais interessante no DVD duplo, que ainda complementa com mais de duas horas de extras para deleite dos fãs desse terror cult.

Surgido de uma mescla curiosa de fãs de horror, como Mark Patrick Carducci e Richard Weinman, além do próprio Winston, o enredo do demônio vingativo teve suas raízes na infância dos autores. Era inicialmente um conto de terror, ambientado numa floresta, com uma criatura invocada para se vingar dos desafetos, e foi-se ao longo do processo adquirindo a concepção conhecida. Cada um dos envolvidos contribuiu de maneira significativa para a construção do monstro, mas a inspiração principal foi um poema de Ed Justin, que trouxe a gênese do Pumpkinhead e afetou até mesmo o designer da criatura.


“Keep away from Pumpkinhead, Unless you’re tired of living, His enemies are mostly dead, He’s mean and unforgiving, Laugh at him and you’re undone, But in some dreadful fashion, Vengeance, he considers fun, And plans it with a passion, Time will not erase or blot, A plot that he has brewing, It’s when you think that he’s forgot, He’ll conjure your undoing, Bolted doors and windows barred, Guard dogs prowling in the yard, Won’t protect you in your bed, Nothing will, from Pumpkinhead!”


Com um longo e complicado trabalho de produção, com um elenco esforçado que também trouxe muitas características próprias para seus personagens (vide os extras do DVD) e isso inclui Lance Henriksen, Pumpkinhead era aposta de seus realizadores para o lançamento no Halloween de 1987. No entanto, o afastamento da empresa de Dino De Laurentiis afetou sua estreia, que, além de adiada para uma época não adequada para a proposta, teve uma distribuição fraca, com passagem limitada pelos cinemas. Quase ninguém viu. Como disse Gary Gerani nas entrevistas do material do DVD, “99% dos americanos viram o filme em casa.” O fracasso debilitou a carreira de muitos dos envolvidos, que perderam ofertas de novos trabalhos, porém, ainda assim, quem pode acompanhar os belíssimos efeitos especiais e a atmosfera aterrorizante na fotografia de Bojan Bazelli, com filtros azuis e vermelhos, pode comprovar que se trata de um filme de horror B muito bem realizado, o que o condicionou ao caráter cult.

O prólogo se passa em 1957, data em que Tom Harley (Lee de Broux) estava preocupado com algo que espreitava do lado de fora de sua morada. Negando o pedido de ajuda de algum conhecido, preocupado com o bem estar do filho Ed (Chance Michael Corbitt), ele apenas aguarda o momento em que uma criatura horrenda conclua sua busca. Muitos anos depois, aquele garoto que testemunhou a chegada do monstro cresceu e está na pele de Lance Henriksen, um pai solteiro, dedicado na criação de seu único filho, sendo surpreendido pela chegada de um grupo de jovens forasteiros em suas motos com a intenção curtir e fazer trilha. Um destes, Joel (John D’Aquino), acidentalmente atropela o filho de Ed, matando-o, e sugere que não peçam ajuda ou o denunciem por ainda estar em condicional.


Enquanto o grupo entra em confronto pela decisão sobre os próximos passos, Ed pede ajuda ao vizinho, Wallace (George ‘Buck’ Flower), por conhecer uma lenda sobre uma senhora que vive nas montanhas e realiza rituais. Ouvindo a súplica, o garoto Chris (Jeff East) inconsequentemente indica o caminho até a terrível bruxa Haggis (Florence Schauffler), que reside numa cabana no pântano, conduzindo Ed a uma jornada rumo ao inferno. Assustadoramente bem caracterizada, seja na ambientação avermelhada, com sapos e aranhas para todos os lados, ou na própria bruxa, com um aspecto de uma morta-viva, Ed precisa retirar uma carcaça no cemitério próximo para realizar um ritual que despertará a vingança que procura.


Temo que despertar os mortos não esteja entre meus poderes.“, diz a velha, para posteriormente cortar as mãos de Ed e usar o sangue para alimentar o demônio. A partir de então, a criatura, de dois metros e vinte e uma cabeça com o formato de abóbora, partirá para buscar a vingança almejada pelo desesperado pai, arrastando corpos para as árvores e telhados, rasgando suas peles com as pontiagudas garras nas mãos, numa combinação bem intensa de aparência (Tom Woodruff Jr.), movimentação (Dave Nelson) e um incômodo som que acompanha seus ataques.

Além de Chris, é facilmente perceptível quem será a final girl, aquela que terá o maior confronto com o monstro. Com o papel inicialmente previsto para Maggie (Kerry Remsen), foram as audições que deram à Tracy (Cynthia Bain) o protagonismo e a possibilidade de resistir ao máximo a cada investida de Pumpkinhead. Apesar da juventude e da pouca experiência, todos se saíram bem e relataram a experiência no documentário, com destaque para a trívia de Jeff East, que confessa que estava rindo em determinada cena que envolve um ataque quase mortal da criatura.


Apesar da base simples da narrativa em uma história de vingança com aspecto de fábula, há algumas boas ideias no roteiro, sendo que a mais interessante é a que envolve as dores sentidas por Ed a cada golpe do monstro. E ainda merece elogios pela gradual transformação dele no próprio Pumpkinhead, como o próprio enredo sugere, fazendo-o perder sua humanidade por uma vingança agressiva e sangrenta. Uma perturbadora sensação de ameaça, em um clima apavorante proporcionado pela noite escura e silenciosa, torna ainda mais gratificante acompanhar a luta dos sobreviventes para encontrar um meio de vencer o demônio, com os tons de um divertido filme B que já não se faz mais.


Com méritos que o tornam indispensável para os fãs de horror e que colocam Pumpkinhead entre os lendários monstros do gênero, Pumpkinhead – A Vingança do Diabo é um deleite em muitos aspectos, sejam visuais, sejam na dramatização ou no enredo, e está disponível em um encarte triplo, com cards e muitas curiosidades sobre a produção. Trata-se de um trabalho de valorização dessa divertida produção, promovido pela 1films e a Darkflix, e que merece estar na sua coleção.


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