Soylent Green - 1973
“As pessoas sempre foram ruins, o mundo é que era bonito.” – policial Solomon Roth
“No Mundo de 2020” (Soylent Green - 1973) é um filme futurista americano produzido em 1973, dirigido por Richard Fleischer (1916 / 2006) e com elenco de grandes nomes como Charlton Heston (1923 / 2008) e o romeno Edward G. Robinson, que curiosamente faleceu logo após as filmagens aos 79 anos. O roteiro é de Stanley R. Greenberg, inspirado na história “Make Room! Make Room!” (1966), de Harry Harrison.
Ambientado mais precisamente em 2022, nosso planeta está totalmente poluído, com os recursos naturais esgotados e enfrentando uma grave crise com superpopulação. A cidade de New York tem quarenta milhões de habitantes e o mundo passa fome, com as pessoas pobres e desamparadas sendo apenas alimentadas por tabletes chamados “verde soilente” (do título original), obtidos a partir de algas dos oceanos. E apenas uma pequena parte da população rica tem acesso à comida “de verdade” como frutas e carnes.
Esse alimento industrializado é fornecido em monopólio por uma empresa onde um de seus diretores, William R. Simonson (Joseph Cotten), é encontrado misteriosamente morto em seu apartamento de luxo. O policial Thorn (Charlton Heston) é o encarregado das investigações, auxiliado por seu companheiro veterano Solomon Roth (Edward G. Robinson), com quem mora e sempre conversa sobre o passado recente da humanidade, quando a natureza ainda estava viva e existiam rios, peixes, animais, flores e árvores.
Durante as investigações, Thorn entra em contato com o suspeito guarda-costas do falecido, Tab Fielding (Chuck Connors), e conhece a bela jovem Shirl (Leigh Taylor-Young), uma “alugada”, empregada que fazia parte do aluguel do apartamento e servia também de acompanhante para o inquilino. Ao descobrir que o rico empresário foi na verdade assassinado, Thorn desperta a ira de pessoas importantes do poder econômico e político da cidade, com seus interesses obscuros ameaçados, principalmente o Governador Santini (Whit Bissell), ao mesmo tempo em que também descobre um segredo terrível envolvendo a matéria-prima do “verde soilente”.
“No Mundo de 2020” apresenta uma distopia perturbadora, com a Terra devastada pelo efeito estufa, natureza em decadência, um lugar onde os rios, animais e plantas são coisas do passado, e a humanidade enfrenta a fome e falta de espaço nas grandes cidades. Há escassez de água, comida, papel, energia, saneamento. Não existe dignidade mínima de sobrevivência. Nesse cenário aterrador, apenas os ricos usufruem de luxos como sabonete e água quente, ou comer frutas e carnes.
O elenco é de primeira linha e os destaques certamente são as interpretações de Charlton Heston (com excepcional currículo que inclui o clássico “Planeta dos Macacos”) e Edward G. Robinson, numa ótima interação entre eles, criando empatia com o espectador preocupado com seus destinos num ambiente de caos.
Para os apreciadores de cinema, sempre existem algumas sequências de filmes que ficam eternizadas em nossa memória até o fim de nossos dias. A grande maioria não fica armazenada e rapidamente é descartada, às vezes logo em seguida ao terminarmos de ver os filmes. Porém, ao contrário, tem momentos que ficam gravados para sempre em nossa mente. Como é o caso para mim de uma sequência poética de “No Mundo de 2020” sobre o “asilo”, com o roteiro explorando a ideia de eutanásia como forma de minimizar os efeitos da superpopulação, também numa relação com o misterioso “verde soilente”. O policial idoso Solomon, cansado da degradação do planeta e de viver apenas com as boas lembranças do passado, decide livre e espontaneamente visitar o “asilo”. Lá, ele é muito bem recepcionado e depois de fazer uma rápida entrevista sobre suas preferências de cor e tipo de música, vai para uma sala especial ver um vídeo em tela grande, com belíssimas imagens da natureza que dava vida à Terra, ao som da sinfonia “Pastoral”, de Beethoven. Essa sequência deveria ser vista por todos e sempre, como uma mensagem para talvez a humanidade evitar que a realidade do filme possa se tornar verdade no futuro e que a natureza possa ser respeitada nesse planeta.
(RR – 02/04/20)