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Tommyknockers - 1993


Tommyknockers é um livro horrível“. É uma das mais interessantes sentenças proferidas pelo próprio Stephen King ao avaliar o último livro que escreveu sob influência de entorpecentes. Lançado em novembro de 1987, com o nome do autor já bastante requisitado nas prateleiras, não foi difícil que ele tivesse uma boa vendagem, embora a qualidade tenha sido bastante questionada pelos críticos da época. Com o sucesso da série da ABC It – Uma Obra-prima do Medo, em 1990, o canal já pediu para o produtor Lawrence D. Cohen trabalhar na adaptação de The Tommyknockers, com as filmagens previstas entre outubro de 1992 e maio de 1993. No entanto, o sinal de alerta já começou a soar com a indicação de que talvez fosse melhor esperar um pouco mais.


Como a série se passa no verão americano e os personagens sofrem com o calor de altas temperaturas, as filmagens tiveram que acontecer em outro país, no caso em alguma região na Nova Zelândia. Já no segundo dia de filmagens, o diretor contratado, Lewis Teague, foi demitido, por conta de não ter uma visão apropriada para as realização de uma minissérie. Além disso, devido às gravações não aconteceram nos Estados Unidos, boa parte da equipe teve que ser contratada da própria região, sendo que muitos eram inexperientes; e produtos enviados da América eram apreendidos ou chegavam atrasados, e o próprio roteiro do Cohen ainda não estava completo, principalmente a segunda parte, enquanto as gravações avançavam. Com tantos problemas, era de se imaginar que a série fosse desenvolvida quase “nas coxas“, o que resultou em muitas críticas negativas.


No ranking do periódico Observer.com com a relação das minisséries inspiradas em Stephen King da “pior para a menos pior“, numa publicação de 2014, Tommyknockers ocupou a terceira colocação, perdendo apenas para o remake de Salem’s Lot, A Mansão Marsten, (2º) e O Iluminado (1º), versão de 1997. Under the Dome está na lista, mas deveria ocupar a primeira posição, tendo em vista as horríveis temporadas seguintes. De qualquer forma, independente de listas, é preciso considerar a ruindade de Tommyknockers, que faz jus ao livro e aos percalços enfrentados pela necessidade de entregar um produto para completar a grade de programação de um canal. Só poderia realmente resultar em algo irregular e mal realizado.

A minissérie, dividida em duas partes, começa apresentando a pacata cidade de Haven, Maine, onde habitam pessoas tranquilas como a escritora Bobbi Anderson (Marg Helgenberger), namorada do poeta alcoólatra Jim “Gard” Gardner (Jimmy Smits), e a família Brown, composta pelo pai Bryant (Robert Carradine), que cuida de um restaurante ao lado da esposa Marie (Annie Corley), os filhos Hilly (Leon Woods) e Davey (Paul McIver) e o avô EV (E.G. Marshall); há também a xerife Ruth (Joanna Cassidy), o carteiro Joe Paulson (Cliff De Young), casado com a oficial Becka (Allyce Beasley), e que tem um caso com a colega Nancy Voss (Traci Lords). Os problemas começam quando Bobbi encontra um cano no meio da mata e, intrigada, começa a cavá-lo, surgindo uma gigantesca estrutura.


A descoberta emite luzes verdes brilhantes (King assumidamente inspirado no conto de Lovecraft “The Colour Out of Space“) quando tocada e começa a transformar os moradores da região. Influenciados pela energia, os cidadãos passam a construir objetos que utilizam a fonte e até a ler pensamentos. O garoto Hilly, por exemplo, ganha do avô um jogo de mágicas, mas, conversando com uma voz misteriosa, cria um acessório que faz as coisas desaparecerem, incluindo o próprio irmão. Já Becka, dialogando com o apresentador de um programa de TV, faz alterações para que o marido seja eletrocutado; Bobbi desenvolve uma máquina que continua a escrever seu livro, sem que ela precise se esforçar para tal; e a xerife Ruth sofre ameaças de seus bonecos, na única cena que realmente vale a pena na minissérie. Todos os afetados pela enigmática luz verde começam a se deteriorar fisicamente, perdendo dentes e a sanidade, além de apresentarem uma palidez mórbida.

O único que não é atingido pela energia é Jim, que, devido a um acidente, possui uma placa de metal na cabeça. Não somente não sofre a transformação, como também não permite que seus pensamentos sejam lidos, porém para se tornar o herói da cidade ele precisaria primeiramente estar sóbrio. Funcionando como o alter ego de Stephen King e seus vícios, Jim fica constantemente alterado pela bebida, que o atrapalha até na produção de seus poemas e no relacionamento. No entanto, o vício do autor também tem relação direta com a própria influência da luz verde, com o simbolismo da degradação física e psicológica em decorrência de uma necessidade que pode lhe fazer mal.


Enquanto a obra de King tem mais referências ao universo da ficção científica, como a própria menção ao planeta Altair 4, e a presença maior dos alienígenas, a minissérie esconde o que poderia ser a estrutura. Trata-se, como já adianta a sinopse do DVD duplo lançado pela Empire, de uma nave espacial, cujos seres poderão ser vistos nos últimos dez minutos. As páginas do autor têm um final mais pessimista e amargo, diferente da versão para a TV que traz apenas o sacrifício necessário e algumas mortes, escondendo o destino de alguns personagens que simplesmente somem sem deixar vestígios.


Com a direção simples de John Power, Tommyknockers – Os Estranhos tem efeitos risíveis como o da morte do carteiro e o batom poderoso da Nancy, com a atuação envolvente da reconhecida atriz pornô Traci Lords. O elenco ainda tem outros rostos conhecidos como o de Marg Helgenberger (da série Plantão Médico e da franquia A Experiência), de Jimmy Smits (das séries Nova Iorque Contra o Crime, West Wing e Dexter), de Allyce Beasley (da série A Gata e o Rato) e do veterano E.G. Marshall, com mais de 150 filmes no currículo.

Tommyknockers foi lançado em VHS pela Warner Bros com muitos cortes, tendo a indicação de 119 minutos – o DVD duplo da Empire tem 181, sem que isso deixe a produção melhor. A verdade é que a série é bem ruinzinha mesmo, com um roteiro que não empolga e situações que beiram o ridículo ao nível Under the Dome, como a própria relação entre o carteiro e a parceira, culminando na ação vingativa da esposa, que é vista como insana depois – é um detalhe bobo e que não acrescenta nada à série. Poucas coisas são explicadas, como a necessidade de produção de máquinas para os alienígenas, a cabana na casa da Bobbi, que utiliza o avô e o cachorro Peter como fonte de alimentação; e a própria origem deles na Terra – apesar deste último não necessitar realmente de algo a mais, permitindo o trabalho da imaginação.


De qualquer forma, o fracasso da série vai muito além dos problemas externos como explicados acima, mas da sua própria realização. É um produto ruim, chato e bobo, distante de outras adaptações de obras de Stephen King. Para terminar, uma informação curiosa: em março de 2018, James Wan (Invocação do Mal) e Roy Lee (It – A Coisa) se uniram ao produtor Larry Sanitsky e anunciaram o desenvolvimento de uma versão para os cinemas do livro The Tommyknockers. Embora tenha sido feito o anúncio, não houve mais detalhes sobre o projeto. Como Wan está envolvido em muitas produções, pode ser que o enredo fique apenas no papel.

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