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Scars of Dracula - 1970


Em O Conde Drácula (Scars of Dracula), Christopher Lee assume o papel pela quinta vez na série. Na verdade o ano de 1970 foi pródigo em mostrar o astro como vampiro, já que ele apareceu encarnando o papel em quatro produções: o anterior O Sangue de Drácula, o homônimo Conde Drácula, que nada mais é que a versão do livro de Bram Stoker pelas mãos malucas de Jesus Franco, e para finalizar, uma participação na comédia Uma Dupla em Sinuca, dirigido por Jerry Lewis.


O interessante é que esse Scars of Dracula não tem relação direta com os anteriores da série, onde um começava justamente partindo do final do filme anterior. A explicação é que a obra em questão não foi planejada para ser uma sequência, mas um novo filme de Drácula, estrelado pelo ator John Forbes-Robertson, já que Lee se mostrava indisponível. Porém, como a Hammer conseguiu fazer com que o astro realizasse O Sangue de Drácula, já emendou este aqui. Forbes-Robertson vestiria a capa do nobre vampiro apenas em A Lenda dos Sete Vampiros (1974), a despedida de Drácula da Hammer, num impagável mistura de vampiros com lutadores de kung fu!


O filme abre com um morcego fajuto, pendurado em fios, indo até o caixão onde jazem as cinzas de Drácula. O pequeno mamífero voador acaba babando sangue dentro da tumba, ressuscitando assim o lendário vampiro. Ok, essa abertura não parece muito promissora, mas tente passar por isso que o filme melhora. Com Drácula de volta a vida, não demora em parecer uma moça morta com dois furos no pescoço.

A população enfurecida se dirige até o castelo do nobre sanguessuga, e coloca fogo na morada deste ser diabólico, ainda que não consigam destruir o vampiro (senão obviamente o filme acabaria com menos de dez minutos de projeção).


Ao retornarem para a aldeia, os pobres camponeses vão à igreja local, onde estariam as suas respectivas esposas, pretensamente seguras. Qual não é a surpresa dos campônios, ao se depararem com um massacre. As mulheres da aldeia foram mortas e mutiladas por um bando de morcegos presos em fios de nylon! Uma cena bem interessante e sangrenta, se perdoarmos os morceguinhos fajutos.


Enquanto isso em um reino não muito distante, o jovem Paul (Christopher Matthews) está sendo perseguido pelas autoridades locais, por ter se engraçado com a filha do burgomestre (o equivalente ao prefeito, em países como Alemanha, Áustria e Bélgica). Fugindo as pressas, o libertino acaba numa carruagem desgovernada que o levará até a aldeia próxima do castelo de Drácula. O irmão mais velho e ajuizado de Paul, Simon (Dennis Waterman), vai acompanhado de sua bela noiva Sarah (Jenny Hanley) atrás do caçula fujão. Claro que a busca vai desembocar no castelo do vampiro.


Mais uma vez o roteiro foi assinado pelo produtor Anthony Hinds, usando mais uma vez o pseudônimo de John Elder. Entretanto, parece que a criatividade estava rarefeita aqui. A trama é praticamente um remake de Drácula, O Príncipe das Trevas (1966). Mais uma vez temos jovens aristocratas arriscando seus pescoços, literalmente, pelos sombrios corredores do castelo do conde.

O roteiro parece tanto uma recauchutagem do script do filme de 1966, escrito por Jimmy Sangster, que aqui retomam o personagem de Klove, o criado de Drácula (desta vez interpretado por Patrick Throughton). A grande diferença deste para os filmes anteriores é que Drácula está mais brutal, inclusive tendo acessos de ira, perdendo de vez sua fleuma britânica (embora seja uma criatura oriunda da região dos Cárpatos), seja matando a facadas uma vampira desobediente, seja marcando com ferro em brasa as costas de Klove, seu criado que aqui se revela desleal, ao se apaixonar platonicamente por Sarah.


O filme fica comprometido com algumas falhas toscas: além de Klove, Drácula é ajudado pelo morcego de borracha que o ressuscitou no início, com quem o vampiro mantém contatos telepáticos. Todas as cenas que o bicho aparece são de segurar o riso. E a conclusão compete com o final de O Sangue de Drácula, entre os mais bobos da série. Curiosamente a atriz de Sarah, a bela inglesa Jenny Hanley, foi dublada por Nikki van der Zyl, alemã que dublou Ursula Andress em O Satânico Dr. No, e várias outras Bond girls ao longo da série 007. Dennis Waterman faz o herói apagado e sem carisma -, na verdade o diretor não o queria, foi uma imposição do estúdio. Destaque para o eterno coadjuvante Michael Ripper como o taverneiro. Sempre disposto a interpretar algum proletário, interpretou diversas funções em produções da Hammer (inclusive em filmes anteriores de Drácula), já foi cocheiro, policial, ajudante, pirata. O ator era pau pra toda obra. Quanto a Christopher Lee o que tem para se dizer? Impecável como sempre.


A trilha de James Bernard, como sempre, funciona belissimamente.


A direção desta vez ficou a cargo de Roy Ward Baker, um artesão que criou divertidas pérolas bagaceiras. Nos velhos tempos Baker dirigiu obras como o drama noir Almas Desesperadas (1955), estrelado por Richard Widmark e Marilyn Monroe e Somente Deus por Testemunha, sobre a tragédia do Titanic. No mesmo ano o diretor realizaria Vampire Lovers dando início à trilogia com a personagem Carmilla, mostrando o novo investimento da Hammer: o filão das vampiras lésbicas; o diretor também co-dirigiria A Lenda dos Sete Vampiros. Aqui Baker faz o que pode, com um orçamento limitado e roteiro pouco inspirado.

Depois de Scars of Dracula, os filmes do conde acabariam acompanhando a decadência da produtora, com filmes cada vez mais esdrúxulos (ou impagáveis, dependendo do humor de quem vê) e apelativos. Aqui já se pode verificar uma amostra das mudanças de direcionamento, dando mais ênfase à violência propriamente dita, com direito a closes de mutilações e o sangue vermelho escorrendo a vontade, do que o clima gótico que caracterizou a série nos seus primórdios, quando era capitaneada pelo genial Terence Fisher.


Vale lembrar que o filme foi lançado em formato digital no Brasil pela Works DVD, e que na era do VHS foi o único Drácula da Hammer lançado em fita por aqui, pela extinta VTI Home Video.


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