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A Noite das Vampiras - 2023


Rubens Mello tem se dedicado à arte desde o início dos anos 80 quando, em conjunto com seu grupo musical, participou assiduamente dos eventos culturais promovidos pelo “Centro Cultural João Cavalheiro Salém”, na cidade de Guarulhos. Paralelamente ao seu trabalho musical, integrou um grupo de teatro amador, formado por jovens de sua comunidade, onde chegou a dirigir uma série de coletâneas e esquetes no teatro da biblioteca municipal.


Em 1999, foi eleito o “sucessor de Zé do Caixão”, num concurso patrocinado pela Revista Trip e o extinto Jornal NP. Neste mesmo ano, gravou um piloto para rádio do programa “Sexta Negra” (Horror no Rádio), que serviu de estímulo para José Mojica Marins levar para a 89FM o programa “Noise”, para o qual Rubens Mello chegou a escrever alguns textos.


Paralelamente à sua carreira musical, Rubens Mello participou de alguns filmes publicitários, curtas-metragens e longas-metragens, como Carandiru (Hector Babenco, 2002), Maldita Carne (Fabiano Moura, 2007), Encarnação do Demônio (José Mojica Marins, 2007) e Meninos de Kichute (Lucas Amberg, 2008), entre outros. Passou a escrever roteiros e peças, dirigir curtas experimentais e independentes, onde se destacam Lâmia, Vampiro (2004), A História de Lia e O Sacrifício (ambos de 2008), Carniçal (2015) e Cinco Cálices (2017).


Como o foco principal deste texto é o vampirismo, vamos falar um pouco sobre o clássico SOV Lâmia, Vampiro: um grupo de vampiros rebeldes decide tomar o poder dos homens. Para deter o apocalipse vampírico, um psiquiatra e uma vidente lideram uma seita que trará de volta Lâmia, a matriarca dos vampiros, de volta à vida. Ela será a única capaz de trazer o equilíbrio entre as duas raças existentes desde a criação do mundo.

Com esta temática, Rubens Mello nos apresenta um de seus primeiros trabalhos para o cinema de horror. Lâmia é cru e underground, com aquela levada suja que só os saudosos filmes trash conseguiam transmitir. Gravado às segundas-feiras em Mairiporã e algumas horas antes das apresentações dos atores no Castelo dos Horrores do Playcenter, foi praticamente argumentado na hora. Lâmia pode soar um tanto confuso tanto pela edição frenética de imagens e sons e tanto pela história dos personagens, que somente os aficionados pelo jogo Vampire: The Masquerade poderão reconhecer. Mas este é menor dos problemas, já que o próprio diretor alega que Lâmia não é um filme profissional e sim um laboratório móvel de edição, make-up e fotografia, um dos pontos fortes da película em minha opinião.


Em 2023 nosso fiel propagador do cinema de trincheira volta para as asas negras dos “caminhantes da noite” apresentando seu primeiro longa-metragem: A Noite das Vampiras.

Justine (Alice Tarsitano) é uma jovem que foi criada desde criança por pais adotivos. Em sua vida adulta, tornou-se uma atriz de sucesso em comerciais de TV até que, em certo momento, recebe um estranho convite para conhecer sua família biológica.


Justine então viaja com o seu noivo Eduardo (Marcio Farias) em direção à mansão de sua mãe biológica Lenora (Debora Munhyz) e suas tias, Alecsandra (Nicole Puzzi) e Catherina (Liz Marins). O encontro se dá às vésperas de uma festa, que acontece anualmente, para celebrar o sucesso do açougue gerido pela sua família. Mas, o que era para ser apenas uma reaproximação com sua verdadeira família se torna algo sinistro e bizarro, levando a jovem incauta a conhecer o segredo do sucesso dos negócios da família.


Se você acha que este argumento beira um thriller ou slasher em que a violência reina em meio ao caos e desmembramento, sinto em te desapontar. Rubens acertou em cheio em transformar a violência deste roteiro em algo grotesco, porém divertido…


Sim… A Noite das Vampiras é claramente um “terrir”. O diretor investiu na comédia como paradigma de informação, e de grande alcance nas massas, podendo tecer críticas sociais através do humor, o que já fazia muito bem a Comédia Grega.

Divertido, um pouco bobo (como todo terrir), mas extremamente competente, A Noite das Vampiras tem o mérito de reunir duas figuras importantes da época de ouro do cinema paulista: Nicole Puzzi e Debora Munhyz, ao lado de Liz Marins, filha do nosso mestre imortal José Mojica Marins. Outros destaques também vão para as personagens do mordomo Matias (Renato Sergio Sampaio), um misto de Igor com Jerry Lewis, a cozinheira-zumbi Elisa (Dill França) e os implacáveis caçadores de vampiros, Astolfo Margarino (Cleiner Misceno) e Dr. Hellstilingue (Petter Baiestorf).


No quesito produção, A Noite das Vampiras não deixa a desejar. O filme apresenta uma bela fotografia, takes fantásticos via drones, locações e figurinos que flertam com os anos 50 e a maior cena com escadas da história do cinema. Fãs do cinema-bagaceira encontrarão referências a vários clássicos do cinema B, como Rock Horror Picture Show (1975), Vamp (1986) e Um Drink no Inferno (1996), além de vários outros easter eggs.

A herança “picareta” de Herschell Gordon Lewis e Lloyd Kaufman faz uma grande presença no decorrer do filme. Piadas de peido, esquetes que homenageiam o cinema da Boca do Lixo, dublagens meia-boca (que foram propositais por escolha da produção), barulhinhos de desenhos animados e armadilhas estilo ACME batizam esta obra que nasceu para trazer ao público uma experiência única.


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