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Alone - 2020


Numa infinidade de relatos assustadores envolvendo feminicídios – e os dados aumentam cada vez mais -, é passível entender o quanto deve ser difícil assumir o papel de mulher na sociedade, independente da época. Longe de considerá-las sexo frágil, até porque a História mostrou que são boas líderes e exímias dominantes, ainda assim muitas são vítimas da força física masculina, uma das ferramentas de controle de relacionamentos abusivos. Quando não é uma situação de ciúmes e possessividade, acaba por ser de sequestro, estupro, tortura e morte. Diante desse cenário, sem generalizações, um thriller como Alone desponta como um exemplo aterrorizante de luta pela sobrevivência de uma moça que simplesmente pretendia recomeçar. E não é uma mulher presa a clichês do cinema de gênero, pelo contrário.


Com a perda recente do marido, Jessica (Jules Willcox) decide deixar a vida anterior para trás em uma viagem de quatro dias. Durante o percurso, ela se vê obrigada a uma ultrapassagem numa estrada de mão dupla, sendo desafiada pelo outro motorista (Marc Menchaca) que, ao invés de diminuir, acelera quase causando um acidente. O primeiro capítulo de seu pesadelo acontece nas estradas, em constantes encontros com o inimigo motorizado, ao estilo Encurralado (1971), enquanto este parece buscar uma aproximação. Poderia ser uma disputa rápida, finalizada em golpes comuns, mas Jéssica é inteligente e carrega na bagagem todos os crimes cometidos por estranhos, e não pretende facilitar qualquer contato. Entre as tentativas de ludibriá-la, o homem até tenta o golpe tedbuddyano do braço engessado, mas falha pela neurose perspicaz de sua vítima.

Todavia, Alone não é um filme de perseguição de estrada. É um survival horror aos moldes triatlo. Novos ambientes serão travados nesse confronto de força desigual, e Jessica precisará de muito mais esforço se quiser sair viva, incluindo uma disputa contra o próprio roteirista, Mattias Olsson, que irá facilitar as ações do sequestrador, colocando de maneira improvável a garota em diversos reencontros. Ela pode correr numa mata densa, daquelas que você facilmente se perde; atirar-se em um rio; e até pedir a carona de um caçador (Anthony Heald, o Dr. Frederick Chilton de O Silêncio dos Inocentes e Hannibal), pois sempre o destino irá colocar novamente os lutadores frente a frente para mais um round.

Por mais que entenda essas facilitações narrativas, Alone ainda assim trará altas doses de adrenalina ao infernauta, deixando-o tenso pelas possibilidades apresentadas. A boa direção de John Hyams (de séries como Z Nation e Black Summer) traz o diferencial técnico que contribui para a excelente interpretação de Jules Willcox. Com um passado trágico e a insegurança, ela transforma sua Jéssica, inicialmente apenas assustada, em uma fonte de inspiração para que outras mulheres também confrontem seus algozes com inteligência e determinação. Dividido em capítulos e com um enredo bem dinâmico, embora pouco surpreendente, Alone se mostra eficiente e sempre necessário.


Texto de Marcelo Milici

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