Black Christmas – 1974
Anos antes de Michael Myers em “Halloween” (1978) e Jason Voorhes na franquia “Sexta-Feira 13” (1980), tínhamos Billy em "Black Christmas”! Considerado um dos primeiros filmes de terror/slasher sazonal, aquele em que se passa em uma data comemorativa específica (antes dele temos o menos brilhante, que também é natalino, “Silent Night, Bloody Night”, 1972), a produção canadense “Black Christmas” (que no Brasil ganhou o título genérico de “Noite do Terror”) foi a fonte de inspiração de John Carpenter em seu épico “Halloween”.
A trama é basicona. Um maníaco invade a casa, onde funciona uma fraternidade estudantil só de garotas, e se fixa no sótão, de onde espia as estudantes, faz ligações obscenas, de dentro da própria casa, e, por fim, começa a matá-las.
O filme também foi precursor a mostrar os ataques do assassino através de seu ponto de vista – que acabou sendo imortalizado em “Halloween”. E, claro, um elenco curioso, temos como a ‘final girl’ Olivia Hussey, que ficou famosa como a Julieta de “Romeu e Julieta” (1968) de Franco Zeffirelli, a atriz, que odiava filmes de terror, acabou aceitando o papel por conselho de uma médium (!), que dizia que o filme faria sucesso e a tornaria uma estrela. Como o namorado temperamental da mocinha temos Keir Dullea (“2001 – Uma Odisseia no Espaço”). Além de Margot Kidder (a Lois do “Superman” do Christopher Reeve!), John Saxon, Leslie Carson, dos filmes de Cronenberg: “Videodrome”, “Na Hora da Zona Morta”, “A Mosca” e Nick Mancuso, como a voz do assassino nas ligações.
O filme foi baseado tanto na lenda urbana do ‘assassino do andar de cima’, que utiliza o telefone na mesma residência e que inspirou um punhado de filmes nos anos 70 e 80, entre eles “Quando um Estranho Chama” (1979), quanto se inspirou no serial killer canadense Wayne Boden, conhecido como “O Vampiro Estuprador”, que matou quatro mulheres antes de ser preso em 1971.
O grande nome do filme é do diretor Bob Clark, que humildemente atribuía os méritos ao roteirista Roy Moore. Clark, um norte-americano que fez sua carreira no Canadá, fez outros filmes de horror cultuados, como “Children Shouldn't Play with Dead Things”, “Sonho de Morte” e o clássico “Assassinato por Decreto”, onde Sherlock Holmes enfrenta Jack, o Estripador. Depois o diretor faria a clássica comédia juvenil “Porky’s”, e sua continuação, até parar em comédias familiares. Clark perderia a vida prematuramente em um acidente de carro, em 2007, aos 68 anos.
Bob Clark conduz o filme com segurança e grandes cenas de tensão, sem apelar pro gore ou nudez feminina (muito ao contrário de seus imitadores). Também brigou para manter o final ambíguo, que mais tarde traria ao filme o status de cult.
Reparem n cena de abertura, com a casa da fraternidade iluminada por luzes de natal, ao som de “Silent Night” (o nosso “Noite Feliz”) por um coral de crianças, comparem com a cena final, uma tomada da mesma casa, com um cadáver na janela de cima, um policial no andar de baixo, com o telefone tocando de fundo. São detalhe que só enriquecem a obra, que é super climática. O clímax com Olivia Hussey sozinha na casa com o assassino é tão angustiante quanto inesquecível.
Clássico antológico.
Curiosidade: entre os fãs do filme tínhamos Elvis Presley e o ator Steve Martin, que quando encontrou pessoalmente a Olivia Hussey, disse que ela trabalhou em um de seus filmes favoritos, a atriz logo pensou no óbvio “Romeu & Julieta”, mas para surpresa da moça era “Black Christmas” mesmo, que o ator alegou, até aquela época, ter assistido 27 vezes. Ah sim, tem os dois remakes.
Até hoje não tive coragem de vê-los.
Noite do terror (Black Christmas, Canadá, 1974)
Direção: Bob Clark
Com: Olivia Hussey, Keir Dullea, Margot Kidder, John Saxon, Marian Waldman, Andrea Martin, Art Hindle, Leslie Carson.
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