Christmas Bloody Christmas - 2022
Uma das tradições dos fãs de horror em época natalina é conferir produções temáticas. Incomodado com as uvas passas no arroz e com a piada do pavê, em ver o Bruce Willis enfrentando terroristas em um prédio ou aeroporto ou até as aventuras claustrofóbicas de um menino esquecido em casa, há a incansável busca por obras que envolvam Papais Noeis assassinos, brinquedos enlouquecidos, duendes insanos ou simplesmente tenha a neve como pano de fundo, mesmo residente em um país tropical. Rever filmes clássicos como Noite do Terror ou qualquer uma das continuações bizarras de Natal Sangrento – isso sem falar nos Gremlins, que sempre estão em exibição em algum canal – pode ser interessante, mas e os novos? Com cheirinho de peru feito na própria véspera? Será que nada mais é feito na Sétima Arte do Medo, com iluminações coloridas, árvore e algum louco carregando um machado? Christmas Bloody Christmas veio para suprir essa necessidade.
O curioso título pode não animar, assim como o trailer ou cartaz contendo um Papai Noel com olhos brilhantes. Mas, o filme de Joe Begos (de Bliss, 2019) cumpre seu papel como diversão descompromissada, com bom grafismo nas mortes e um vilão fugido de Exterminador do Futuro. Fazem parte do pacote natalino os bons efeitos especiais, as boas atuações e personagens que realmente despertam a empatia do espectador, pelo menos até o segundo ato. Antes que um robô assassino com vestimentas natalinas, produzido a partir de inteligência militar (!!!), comece a trilhar sangue, o público poderá se identificar com Tori (Riley Dandy), dona de uma loja de discos e que tem em Robbie (Sam Delich) seu principal conselheiro e funcionário para debates acalorados sobre encontros ocasionais por aplicativos de paquera, capas de disco e cortes de cabelo de roqueiros e filmes de terror, com menção aos “filmes ruins da Blumhouse” (piadinha externa do Shudder), continuações como Cemitério Maldito 2, de Mary Lambert.
Iniciado com um bom plano-sequência com a chegada da garota até o encontro com o amigo, ele tenta a todo custo convencê-la de não ir ao encontro com um “desconhecido conhecido” para beber, fumar maconha e curtir a noite de véspera de Natal. Depois de uma passagem pela loja dos amigos Lahna (Dora Madison) e Jay (Jonah Ray) em um bar, onde encontram por acaso o xerife Monroe (o grandalhão Jeff Daniel Phillips), eles partem para a casa de Tori para mais músicas e drogas, até serem incomodados pelo Papai Noel de Westworld. Comerciais na cena inicial já brincam com o absurdo com sugestão de bebidas para crianças e uso da maconha para produção de biscoitos, mas servem para mostrar que a narrativa não precisa exatamente de lógica para funcionar.
Assim, sem curto circuito ou influência de vodu, um Papai Noel robô, que era comercializado para serviços de proteção entre outras funções até ser considerado impróprio, de repente ganha vida. A transa de Lahna e Jay é interrompida pela força de seu machado, que o corta ao meio, obrigando a mulher a fugir pela loja. Depois ele partirá para um vizinho de Tori, com o diretor intercalando cenas de tensão e violência com o momento íntimo entre Tori e Robbie. Nessa perseguição, haverá o envolvimento de Liddy (Kansas Bowling), irmã da protagonista, e seu namorado Benny (Joe Begos), além de vários policiais. Cabeças pisadas e esmagadas, olhos furados, pescoço retorcido, machadada nas costas… tudo com grafismo em lentes coloridas que dão um tom Suspiria à produção. Pela condição robótica do vilão, ele terá a resistência de um T-100, em sua obsessão pela survivor girl.
Talvez incomode – não, na verdade, incomoda mesmo – a idiotice de praticamente todo o elenco, fazendo jus aos filmes de terror mencionados. Tal personagem é retirado pelo vidro dianteiro de um veículo pelo Papai Noel, que se afasta para buscar seu machado, o que daria tempo para a outra pessoa sair e ajudar a que está prestes a ser morta. O que a que ficou no carro faz? Fica buzinando, como se isso fosse impedir o ato. Outras ações estúpidas envolvem personagens abandonados, a gritaria que não resolve nada e até os policiais que, ao verem alguém pedindo ajuda desarmada, sem oferecer nenhum perigo, resolvem algemá-la e levá-la à delegacia para averiguar.
O Papai Noel cibernético não tem nada com isso. Parte para cima como todo bom vilão de horror dando preferência ao seu machado, não poupando nem sequer uma criancinha que lamenta ter ganhado roupas em vez de brinquedos. Pode ser que Christmas Bloody Christmas nunca adquira o status de clássico do horror, capaz de figurar entre outras produções mais reconhecidas no Natal. Mas é uma produção bem divertida, rápida, com boas referências e bastante violenta, melhor que muitos filmes feitos com mais recursos. Se houver uma oportunidade de conhecer esse terror natalino, não deixe de lado como as frutinhas de um panetone. Vai valer a pena como um passatempo dos mais sangrentos!
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