Horror Queer III: Os anos 70 - Vampiras lésbicas e criaturas bissexuais
Como escreve o estudioso de cinema B. Ruby Rich em seu livro New Queer Cinema: The Director's Cut, “Considere o estado de filmes gays e lésbicas nos Estados Unidos antes de 1969. Indiscutivelmente não havia tal coisa, apenas uma dispersão de diretores gays e lésbicas, que trabalhavam muitas vezes com roteiros fechados, fazendo filmes que se disfarçavam de heterossexuais para o mercado de massa, embora com o ocasional ator gay ou lésbica dando uma piscadela sutil”. Mas com a dissolução final do Código Hays em 1968, os gays saíram imediatamente correndo do armário - mesmo não possuindo a luz mais lisonjeira – para introduzir seus ideais na indústria cinematográfica dos anos 70.
A liberação sexual estava latente sobre a América, e assim os monstros do horror também se tornaram hiperssexualizados. E com o aumento da visibilidade queer após a Rebelião de Stonewall (NOTA: A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos. Esses motins são amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBT no país), os personagens LGBTQ estavam mais explicitamente presentes do que nunca na tela: o subtexto se tornou texto. É claro que os personagens esquisitos eram tão monstruosos quanto antes - mas pelo menos estavam saindo das sombras. O armário de celulóide estava finalmente se abrindo, mas ainda havia um longo caminho a percorrer quando se tratava de representação.
Dorian Gray (O Retrato de Dorian Gray, 1970) - Esta atualização do filme de 1945 de Albert Lewin era mais gay do que seu antecessor. Representações de sexo e sexualidade poderiam agora ser mais explícitas do que eram nos dias de Lewin, mas o Dorian Gray dos anos 1970 (interpretado por Helmut Berger) também é mais aparentemente hétero do que era antes. De qualquer maneira, Dorian é um personagem construído para simbolizar a decadência e depravação da Londres dos anos 70 - e a forma erótica como seu corpo é filmado nesta versão definitivamente não é para fãs estritamente femininas.
Dr. Jekyll and Sister Hyde (O Médico e a Irmã Monstro, 1971) - Essa história de troca de gêneros fez um pouco mais do que seu antecessor, Frankenstein Created Woman, para desfazer as questões que se apresentavam quando uma figura masculina e feminina compartilhava o mesmo corpo. Na busca da vida eterna, o Dr. Jekyll (Ralph Bates) começa a experimentar em si mesmo uma formula secreta, tomando hormônios femininos por via intravenosa. Como resultado, Jekyll se transforma em uma mulher, a irmã Hyde. Jekyll faz compras de roupas femininas para Hyde, e um homem chamado Howard chega até a flertar com sua alter-ego, mas é claro que o sentimento não é recíproco (claro, Jekyll retoma o controle do corpo novamente antes que as coisas fiquem um tanto físicas para sua “irmã”). No livro Hammer and Beyond: The British Horror Film, Peter Hutchings explica a mudança do papel das mulheres no horror nos anos 70 como a transformação da mulher de objeto passivo em garotas-problema. ”E a irmã Hyde era definitivamente um problema, tentando matar a mulher interessada em Jekyll por incitar nele impulsos heterossexuais enquanto ela tentava assumir plenamente a autonomia de seu vaso corporal compartilhado”.
The Vampire Lovers (Carmilla, a Vampira de Karnstein, 1970) - Com as regras de censura relaxando em um post-code de Hollywood, o pessoal da Hammer Films decidiu capitalizar o veio com esta adaptação de Carmilla, que se concentrava em uma jovem vampira chamada Mircalla Karnstein. Mircalla atendia prontamente pelo nome de Carmilla enquanto seduzia mulheres jovens e matava pessoas em uma cidade do leste europeu do século XVIII. Para continuar seguindo as façanhas da Família Karnstein, veja Lust for a Vampire (1971) e Twins of Evil (1971), que completam a trilogia, mas que são menos abrangentes no movimento queer.
The Daughters of Darkness (Escravas do Desejo, 1971) - As vampiras lésbicas eram um assunto verdadeiramente global na década de 1970; este filme de terror erótico belga é considerado um dos exemplos mais artísticos do subgênero. Um casal recém-casado em lua-de-mel tem a má sorte de encontrar a condessa Elizabeth Báthory (Delphine Seyrig) e sua “secretária”, com quem sempre viaja. Há tanto sadismo, assassinato e transformação neste filme, que a crítica Camille Paglia agrupou na categoria de “alto teor psicológico” em seu livro Sexual Personae.
The Blood Spattered Bride (A Noiva Ensangüentada, 1972) - Esta versão da história de Carmilla é um clássico do terror espanhol. Desta vez, no entanto, é Mircalla Karstein (Alexandra Bastedo) quem assombra os sonhos de uma mulher recém-casada chamada Susan (Maribel Martín), a quem ela seduz, infiltrando seus sonhos antes que os dois eventualmente entrem em um caso escandaloso. Sua paixão desperta uma sede de sangue em Susan, que concorda em tentar matar seu marido (Simón Andreu), assim como Mircalla matou o dela séculos atrás.
Rocky Horror Picture Show (homônimo, 1975) - É um fato bem conhecido que Rocky Horror Picture Show é um dos filmes mais esquisitos já feito. Se os conservadores esperavam que houvesse uma maneira de empurrar o gênio gay de volta à garrafa depois que ele se soltou na década de 1970, esmagaram por vez todas suas esperanças e sonhos quadrados. Tim Curry oferece uma performance virtuosa no estilo “camp” como o Dr. Frank N. Furter, o doce cientista travesti do longínquo planeta Transexual Transylvania.
FONTES:
Wikipedia – Queer Horror
Vulture - 50 Essential Queer Horror Films
Wussymag - Haunted: The intersections of queer culture and horror movies
Dazed - Queer horror: a Primer
Monsters in the Closet: Homosexuality in the Horror Film (Harry M. Benshoff - 1997)
New Queer Cinema: The Director's Cut (Ruby Rich - 2013)
Uninvited: Classical Hollywood Cinema and Lesbian Representability” (Patricia White - 1999)
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