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Post Mortem - 2020


Dentre todas as produções que foram abrigadas no 11º CineFantasy, Post Mortem sem dúvida foi a detentora dos principais arrepios. Mesmo não tendo recebido nenhum prêmio na edição, o que causa uma certa estranheza, esse longa da Hungria fez por merecer estar na programação de um dos principais eventos de cinema fantástico do Brasil. Trata-se de uma história de fantasmas ousada e criativa, principalmente tendo em vista uma imensa bagagem de obras do estilo que já foram realizadas na história do Cinema de Horror que, ainda que possam soar interessantes, são reconstruções e reciclagens da temática. Quando se imagina que todos os sustos já foram promovidos e que já está calejado nesse subgênero, Péter Bergendy desperta novos calafrios!


Especialista em produções de época, Bergendy foi o diretor dos dramas históricos A vizsga (2011) e Trezor (2018), ambos ambientados na década de 50, com muitas críticas que elogiam o cenário proposto e a completa imersão aos períodos. Post Mortem se passa em 1918, logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como contexto o avanço da Gripe Espanhola, uma coincidência trágica com os dias atuais. Na cena inicial, o soldado Tomás (Viktor Klem) é ferido gravemente após ser atingido pelos estilhaços da explosão de uma granada. Considerado morto e deixado numa pilha de corpos, ele é descoberto vivo por um homem que, não somente o resgata, como utiliza sua experiência como atração de um circo de bizarrices.


Tomás agora é um fotógrafo de cadáveres. Ele produz fotos do pós-morte, naquele formato que foi levemente explorado em outras produções como Os Outros e A Noiva, e que traz uma sensação desconfortável no espectador por simplesmente não acreditar que antigamente era comum familiares posarem com falecidos, incluindo crianças e bebês. Durante uma de suas apresentações, ele recebe a visita da órfã Anna (Fruzsina Hais), que pede que ele a acompanhe até um vilarejo muito afetado pela doença, precisando de seus serviços de fotografia. Ele somente aceita o desafio pelo fato de tê-la já visto em sua experiência de quase-morte, buscando explicações para a estranha visão que teve.

Assim que chega à comunidade, envolto em uma atmosfera de medo e incertezas, com pessoas vestindo sacos na cabeça e olhares sinistros, Tomás se hospeda na casa da professora Marcsa (Judit Schell), e já inicia seu trabalho de registro de cadáveres, sem perceber a presença de sombras que parecem observá-lo atentamente acompanhando-o em sua função. Sons de passos no sótão, movimentos estranhos e a aparição de vultos sombrios nas fotografias o fazem perceber que há algo sobrenatural em evidência ali, e que foi ampliado com a sua chegada à região. Com a ajuda de Anna, ele inicia uma investigação sobre os incidentes que possam ter relação com aquelas estranhas presenças, cada vez mais próximas, agressivas e dispostas a se comunicar com ele.

Há muitos elementos ali que contribuem para os arrepios do público. Se a produção das fotos já não fosse capaz de fazer isso, há as aparições nas fotografias, a psicofonia e até possessão de cadáveres. O argumento de Gábor Hellebrandt e do próprio Bergendy, que deu luz ao roteiro escrito por Piros Zánkay, é muito bom e atmosférico. Em seu terceiro ato, conduz os fantasmas do vilarejo a uma manifestação absoluta, seja para erguer e arrastar pessoas, seja utilizar os corpos do celeiro como manequins de sua mensagem. E é interessante por não transformar Tomás em um herói em absoluto, uma pessoa corajosa e destemida a combater o mal, mas fazê-lo de maneira progressiva e convincente.


Pesam a favor de uma avaliação satisfatória a ambientação, os aspectos técnicos como Direção de Arte e Fotografia, e principalmente o elenco. Se todos estão bem como personagens envolvidos em uma cidade amaldiçoada, o grande destaque fica por conta da jovem e talentosa Fruzsina Hais, que constrói sua Anna em uma mistura de ingenuidade e inteligência, como um verdadeiro apoio a Tomás, sem se esquivar da doçura de sua tenra idade. São tantas qualidades envolvidas em Post Mortem que o público até ignora o final ao estilo Sobrenatural apenas na torcida para que algo ali aconteça.

Bem realizado e abastecido por diversos elementos de horror, o filme é a primeira produção de excelência de 2021, uma amostra de que ainda pode se encontrar criatividade nas narrativas de além-túmulo!


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