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The Conjuring: The Devil Made Me Do It - 2021


“O Diabo me fez fazer isso“. Ou talvez a necessidade de dar continuidade a uma das franquias mais rentáveis de horror do século XXI, ao lado de Jogos Mortais, Atividade Paranormal e Sobrenatural. E pensar que todas elas têm em comum o envolvimento de James Wan, sem dúvida uma fábrica funcional de sustos, assombrações e continuações. No caso de Invocação do Mal, ele foi além e desenvolveu um universo particular, com ramificações aparentemente infindáveis por onde caminham bruxas, entidades inquietas e demônios, tendo como principal elo os investigadores de fenômenos sobrenaturais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). Eles estão de volta na oitava produção, Invocação do Mal 3: A Ordem Do Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It), que chegou aos cinemas brasileiros no dia 3 de junho, sem a mesma expectativa que envolveu os outros filmes.


A primeira das razões para essa baixa expectativa tem relação direta com a ausência muito notada de James Wan. É o primeiro Invocação do Mal que não traz seu nome na cadeira de diretor, ficando apenas com o argumento e produção. Ainda que a direção de Michael Chaves (do fraco A Maldição da Chorona, 2019) seja até adequada – e ele até utiliza uns travellings e umas tomadas mais longas para dar uma sofisticada em sua função -, está bem distante do que Wan já mostrou ser capaz de fazer, principalmente em Invocação do Mal 2, em toda a sequência da abertura na visita à residência de Amityville. Também se percebe algumas diferenças significativas no roteiro, algo a ser discutido mais a frente.

A trama se passa em 1981, durante o exorcismo do garoto de 8 anos David Glatzel (Julian Hilliard), já com a presença dos Warrens. Enquanto aguardam a chegada do Padre Gordon (Steve Coulter), em uma referência “tapa na cara” de O Exorcista na visão do eclesiástico diante da residência, eles deixam o pequeno sozinho (!) apenas para o demônio assumir as rédeas no banheiro e levá-lo a ferir o próprio pai e causar um literal pandemônio no lugar, com direito a contorcionismo, palavrões até culminar no mal súbito de Ed. Em meio ao caos, o namorado de Debbie (Sarah Catherine Hook), Arne (Ruairi O’Connor), pede que o demônio deixe o garoto e entre em seu corpo, como fizera o Padre Karras (Jason Miller) no clássico de 73.


Findada a tempestade, Ed se recupera no hospital e revela para Lorraine que percebera que o demônio agora habita o corpo de Arne. Antes que a tragédia anunciada seja evitada, Arne assassina Bruno (Ronnie Gene Blevins), o dono do canil onde sua namorada trabalha, sendo encontrado pela polícia caminhando com as mãos e roupas sujas de sangue. Com a prisão do rapaz e a possibilidade concreta de uma condenação à morte, os Warrens resolvem conduzir como defesa a possessão demoníaca, mas para isso precisam apresentar provas, em um processo de investigação que irá conduzi-los a um caso similar ocorrido em Danvers, Massachusetts, que resultou na morte de Katie Lincoln (Andrea Andrade).

Embora inspirado em eventos reais, a versão cinematográfica faz uso de algumas licenças não tão poéticas. Ao estabelecer uma relação com a franquia, a partir da verdadeira natureza do inimigo, o enredo faz a inclusão de situações que não serviram ao julgamento do rapaz acusado. É claro que o objetivo é apenas possibilitar algumas doses de sustos e permitir um confronto com o vilão, porém, mesmo sabendo da fragilidade física de Ed, não tem como o infernauta roer unhas, se importar com uma possível morte do personagem, se já sabe que o verdadeiro investigador não morreu no processo, assim como Lorraine. Não tendo outras preocupações – o primeiro e o segundo filmes traziam o receio da perda da família -, cabe ao público assistir ao longa como se fosse um episódio da série Supernatural de meio de temporada.


Além disso, Invocação do Mal 3: A Ordem Do Demônio peca em outros dois pontos que foram favoráveis à franquia, sob o comando de Wan: os sustos, que são bem menos intensos e interessantes como acontecera com o confronto com a bruxa do primeiro e a freira da parte 2; e a ausência de outros elementos de terror, como Annabelle e O Homem Torto, apresentados nos demais filmes. Assim, o longa se enfraquece como produção de gênero e pela falta de possibilidades, seguindo em uma única – e simplória – linha narrativa. E se Wan ainda soube trabalhar com o romantismo de Ed e Lorraine, a referência ao passado do casal contribui apenas como antecipação de uma sequência que será vista no último ato, sem a mesma poesia, com o soar de Elvis Presley no carro servindo como uma recordação rasa.

No entanto, deve-se enaltecer alguns aspectos técnicos que resultaram em uma produção até agradável de se ver. Há bons efeitos especiais principalmente no prólogo e pode até divertir e promover alguns sustinhos sem o mesmo impacto. Para quem se habituou a uma franquia amarrada, com tramas envolventes e altas doses de sustos, Invocação do Mal 3 demonstra ser apenas comum, uma produção que não servirá de destaque para nenhum dos envolvidos, o que nos leva a pensar se fora realmente o diabo que os fez produzir isso.


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