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The Dark and the Wicked - 2020


Existe algo ameaçador numa fazenda isolada no Texas, onde a solidão e o silêncio acompanham a rotina simples de um casal de idosos. Quando o velho (Michael Zagst) se aproxima dos seus suspiros finais, a manifestação macabra se torna ainda mais absoluta. Os filhos Michael (Michael Abbott Jr.) e Louise (Marin Ireland) chegam ao local para um reencontro pelos últimos cuidados do pai moribundo e dos tratos com o rebanho de ovelhas, percebendo a aparente exaustão da mãe (Julie Oliver-Touchstone), além de não serem apenas eles e a enfermeira (Lynn Andrews) que estão constantes ali. Essa é raiz do excepcional longa The Dark and the Wicked, de Bryan Bertino (de Os Estranhos, Perseguidos pela Morte e Um Monstro no Caminho), um dos filmes mais assustadores de 2020.


Em um ano atípico, em que boa parte das produções foram vistas em sistemas de streaming e online, poucas obras se destacaram como O Homem Invisível e Relic. The Dark and the Wicked correu discretamente por fora, apostando numa mistura de ingredientes certos como A Bruxa e Hereditário, mas com suas próprias características. O horror presente intensamente não precisa de vestimentas monstruosas, com a concepção de um demônio ou uma bruxa, e, sim, de sua perturbadora constância. Não há momentos em que os personagens se sintam sozinhos em suas tarefas, e as manifestações estabelecem um estado de loucura crescente e que levarão a situações muito mais assustadoras e pessimistas do que se imagina.

O estado de deterioração do moribundo é evidente e irreversível, porém nada assusta mais do que as cruzes que se encontram no ambiente e acompanham uma mãe que até então não abrigava uma condição religiosa. Convencida de que o demônio está agindo nesse ambiente tétrico, ela se mostra arrependida pela presença dos dois filhos, sabendo que a proximidade pode resultar numa herança em forma de pesadelo e traços de insanidade. Em dado momento, a mãe está ali preparando o jantar com os cortes ágeis dos legumes com a faca, permitindo uma antecipação por uma ação comum em outras obras do gênero. O grafismo da sequência, acompanhada da trilha grave, dá o tom do desespero da personagem, resultando em sua atitude drástica. O resultado não assusta tanto quanto a imaginação que envolve o modo como ela chegara até ali.

Com a perda da mãe, sem saber como reagir, os irmãos passam a entender ainda mais o que ela fez quando acham seu diário, com relatos de acontecimentos. O terror se desenvolve como a doença do pai em assombrações cada vez mais presentes, sem dar a eles momentos de calmaria, e elevando o estado de decadência psicológica. Seja numa aparição inexplicável durante o banho ou no vulto que flutua do lado de fora da casa; ou na visita de pessoas que não eram para estar ali, a intensidade reflete em atos de violência, que não poupam o público de cenas grotescas e de cerrar os olhos. Como uma teia “grudgeana“, todos os que tocam o espaço são amaldiçoados pela entidade para ampliar o horror em seus próprios domínios, sem escapatória.


Outros personagens aparecem ali apenas para se contaminarem pelo Mal. Um padre consciente (Xander Berkeley) ou o vizinho Charlie (Tom Nowicki) descobrem da pior maneira o quanto o terror pode ser transmissível como um vírus. Naquela que considero a cena mais incômoda, uma jovem (Ella Ballentine) aparece no local para trazer uma notícia sobre Charlie, revelando sua verdadeira natureza em sustos e uma expressão de satisfação e ódio.

Visto com as luzes apagadas e desacompanhado, The Dark and the Wicked pode também resultar em pesadelos no espectador, não sendo recomendado por aqueles que buscam produções que trazem respiros antes de mergulhá-los novamente numa depressão profunda e obscura. Aqui faltará oxigênio.

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