The Legend of the 7 Golden Vampires - 1974
Os anos de 1970 não foram nada generosos com a produtora Hammer. Seus dias de glória tinham ficado para trás, na década anterior. O público tinha perdido o interesse pelos seus filmes de terror gótico (ou kitsch, segundo seus detratores). A produtora tinha que fazer algo, precisava se modernizar. A Hammer apostou no erotismo de vampiras lésbicas com a trilogia da Carmilla, inspirada na obra de Sheridan Le Fanu, cujo primeiro exemplar foi Os Vampiros Amantes / Carmilla – A Vampira de Karstein (1970). Depois a produtora transportou Drácula a Londres setentista em dois filmes da franquia: Drácula no Mundo da Minissaia (1972) e Os Ritos Satânicos de Drácula (1973). Vale citar um filme de vampiros em tom aventuresco (Captain Kronos – Vampire Hunter (1974)).
O que mais faltava vir? Quando as possibilidades pareciam ter se esgotado, os produtores sacaram sua última carta da manga, aproveitando o sucesso dos filmes orientais de artes marciais. Por que então não mesclar lutas com vampiros comandados por Drácula? A Hammer acabou se associando com a mítica produtora de Hong Kong, a Shawn Brothers, e assim surgiu essa comédia involuntária chamada A Lenda dos Sete Vampiros, também conhecida como Os Sete Vampiros Dourados e Os Sete Irmãos Encontram Drácula.
O filme começa na Transilvânia de 1804, onde um monge budista (Chan Shen, especialista em papéis de vilão da Shawn Bros.) faz uma peregrinação até o castelo de Conde Drácula (John Forbes-Robertson) com uma proposta, a de que o conde ressuscite os sete vampiros que habitam seu templo, para que assim ele retome o poder na região. O conde, que estava furioso pelo intruso ter interrompido seu sono, não aceita a proposta, mas se apossa da forma do monge (isso mesmo, no melhor estilo possessão fantasmagórica) e vai para a China usar os sete vampiros como seus serviçais.
Essa cena, que é apenas o prólogo do filme, é bem curiosa, já que o monge fala em mandarim, Drácula conversa em inglês e ambos se entendem perfeitamente! Seria esse um dos poderes do vampiro? A comunicação bilíngue? Depois dos créditos iniciais pulamos para a China de 1904, onde o antropólogo Professor Van Helsing (Peter Cushing, se despedindo aqui do personagem) dá uma palestra sobre vampirismo para uma turma de chineses incrédulos, com exceção de um, Hsi Ching (David Chiang), que na verdade quer que o famoso caçador de vampiros vá até sua aldeia para enfrentar os sete vampiros.
Depois de alguns contratempos, Van Helsing, seu filho (sim, arranjaram um pra ele aqui) Leyland Van Helsing (Robin Stewart) e uma milionária escandinava (Julie Ege) partem em caravana com Hsi Ching e os seus seis irmãos, todos peritos em artes marciais, cada um com uma modalidade de utilização de armas brancas. Daí o resto do filme é o grupo atravessando os descampados chineses até chegar à aldeia. Ora sendo molestados por bandidos, ora pelos vampiros, tudo pretexto para cenas de luta. A participação de Drácula aqui é mínima, mostrando a sua forma original no prólogo e nos minutos finais (não totalizando nem dez minutos). O filme também não faz bom uso da mitologia do vampiro chinês, como por exemplo, o fato de eles se moverem aos pulos como visto no clássico Mr. Vampire (1985).
Na verdade tudo aqui é um equivoco; se alguém achou que Os Ritos Satânicos de Drácula era o máximo em roteiro maluco e ruim, eis o fundo do poço (é sintomático o fato de os dois filmes terem sido escritos pelo mesmo roteirista: Don Houghton). Outra coisa ridícula é o fato de Drácula ir para China em 1804 e ficar por lá até 1904 – não só isto quebra todas as ligações com os filmes anteriores (que mostravam o Conde perambulando pela Europa no século XIV), como isso se confirma através da fala do próprio Van Helsing que afirma já ter enfrentado o vampiro antes na Europa. Uma daquelas épicas mancadas de roteiro!
A Shawn Brothers, que estava numa fase de co-produções com países europeus, de sua parte, colocou à disposição alguns atores icônicos de seu cast como David Chiang (Os Cinco Mestres de Shaolin), Chan Shen (Os Cinco dedos da Violência), além da bela atriz Shih Szu (que depois faria The Deadly Breaking Sword). Além de colocar como co-diretor (não creditado) sua prata da casa, o “godfather” das artes marciais Chang Cheh, que provavelmente só se envolveu nas cenas de luta.
Já a Hammer por sua vez colocou na direção Roy Ward Baker, que já havia dirigido O Conde Drácula para a franquia e conseguiu Peter Cushing. Só não levou Christopher Lee, que correu quando leu o script (ter feito o anterior Os Ritos Satânicos de Drácula deve ter sido demais para ele), sendo então substituído por John Forbes-Robertson, que além de ter exagerado no batom em cena, ficou furioso quando constatou que foi dublado pelo ator David de Keyser. Aliás, este é o único filme da Hammer cujo Drácula não foi interpretado por Lee. Vale lembrar que o mesmo Forbes-Robertson, que já tinha vivido um vampiro coadjuvante em Carmilla – A Vampira de Karstein, era cotado para o viver mais famoso dos vampiros em O Conde Drácula.
Curiosamente no mesmo ano a Hammer faria outra produção em Hong Kong, Me Chamam o Destruidor (Shatter), um filme de ação dirigido por Michael Carreras, o filho de James Carreras, um dos fundadores da Hammer, e co-direção não creditada do cultuado Monte Hellman. Impossível de ser levado a sério, A Lenda dos Sete Vampiros é daquelas bombas que atingem todos os envolvidos (Chang Cheh merecia coisa melhor). Um mico canhestro, que apesar de possuir algumas lutas passáveis, acaba se afundando, seja pela maquiagem ridícula dos vampiros chineses, seja pelo ritmo irregular, com momentos enfadonhos, seja pelo roteiro absurdo e constrangedor.
Prato cheio para os espíritos de porco, que irão se divertir a vontade com os defeitos desta obra. A série do Drácula da Hammer se despede com o pior filme de todos.
Texto de Paulo "Blob" Teixeira
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