The Offering - 2022
Por mais interessante que seja assistir a uma produção de horror que explora uma visão religiosa diferente da do cristianismo, ainda assim nota-se a grande dificuldade dos realizadores de se esquivar dos clichês. E eles estão lá até mesmo em sua estrutura narrativa, que se inicia com um ritual sendo realizado, com a presença de uma entidade ameaçadora e de fantasmas conhecidos, para depois partir para a sinopse básica: casal retorna à casa dos pais, envolta em tradições e crenças, com propósitos distintos, até que o Mal visto no prólogo resolve retornar para uma nova oferta. Soma-se à fórmula jumpscares sonoros, redenção, descobertas sobre o passado e um demônio que tenta persuadir nos mesmos moldes já vistos no cinema de horror. Mesmo assim, The Offering (Oferenda ao Demônio) até diverte com a entidade em formato de bode digital e a tentativa de apresentar um final diferente.
No prólogo, o viúvo Yosille (Anton Trendafilov) está disposto a trazer de volta à vida a sua amada Aida (Meglena Karalambova), realizando um ritual de invocação com um sigilo desenhado, palavras de algum dialeto e o corpo da jovem Sarah Scheindal (Sofia Weldon). Enganado por um demônio que rouba crianças, em um último suspiro, ele quebra o selo de proteção, permitindo que seja possuído, e faz o mesmo que o Padre Karras para aprisionar o Mal em um pingente. Na cena seguinte, Arthur Feinberg (Nick Blood) traz sua esposa grávida Claire (Emily Wiseman) para conhecer seu pai Saul (Allan Corduner) e sua antiga casa de infância no bairro de Borough Park, no Brooklyn. Saul é um judeu ortodoxo que trabalha como agente funerário e está realizando os procedimentos de sepultamento exatamente em Yosille.
Apesar do retorno aparentemente para selar a paz – Saul não teria apreciado o casamento do filho pela esposa não ser judia -, Arthur está com sérios problemas financeiros, principalmente depois que Claire fez uma inseminação in vitro, e esconde do pai sua pretensão de colocar a casa como garantia ao banco. Durante o preparo do corpo de Yosille, Arthur retira o pingente e acidentalmente o quebra, escondendo os pedaços em um ralo. Assim a entidade está mais uma vez liberta, disposta a promover sustos com o fantasma de Sarah, com o bode, entre outras ações sobrenaturais, até que uma nova oferta seja feita. Além deles, há outros personagens, como o amigo de Saul, Heimish (Paul Kaye), desconfiado dessa volta repentina, mostrando-se sempre hostil, e o especialista em ocultismo Chayim (Daniel Ben Zenou), que tenta decifrar as mensagens na faca que Yosille usou para se matar e estranha ele não ter nenhum amuleto junto ao corpo.
Se a trama básica, a cargo de Hank Hoffman a partir de um argumento de Jonathan Yunger, não é assim tão inovadora, com detalhes comuns como a fumacinha para indicar possessão e a caracterização reconhecida, Oferenda ao Demônio pelo menos acerta em seus detalhes técnicos. A boa direção de Oliver Park na composição de um quase ambiente único sabe explorar a escuridão, mas sem esconder suas assombrações, com destaque para a sequência clássica da pessoa que se esconde embaixo de um móvel e observa a movimentação de pernas mortas, e a fotografia de Lorenzo Senatore, alternando paletas frias e quentes, produz um visual agradável.
Já o elenco foi muito bem escolhido. Nick Blood tem a face da cara de pau de seu personagem, capaz de fazer qualquer coisa pela esposa, interpretada por Emily Wiseman, que assume a típica moça curiosa que termina sua participação sem saber coisa alguma sobre a ameaça. Os demais também estão bem, incluindo a fantasminha Sofia Weldon, que tem a maquiagem facial justificada pela forma como morreu. Assim, com uma boa produção, Oferenda ao Demônio se mostra (para não me xingarem se eu disser “oferece“) curioso em sua simplicidade, e eficiente em sua construção. Não estará entre os destaques de 2023 e será facilmente esquecido, mas pode trazer uma diversão passageira.
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