The Reef - 2010
O que o clássico Tubarão (Jaws) fez em 1975, Mar Aberto (Open Water) conseguiu em 2004. Parece um exagero estabelecer uma comparação entre a obra-prima de Steven Spielberg e a produção de baixo orçamento de Chris Kentis, mas é possível pela relevância. Lançado na década de 70, com inspiração no romance de Peter Benchley, Tubarão promoveu – e ainda promove – diversas produções derivadas, com o “rei dos mares” em evidência, atacando embarcações e cidades costeiras, modificados geneticamente ou na concepção de versões trashes. Já Mar Aberto, também com inspiração real e tubarões, soube transmitir uma sensação de claustrofobia no mar, e deu origem a “versões alternativas“. Uma delas foi lançada em 2006, com o título oportunista Pânico em Alto Mar (Open Water 2), de Hans Horn, colocando novamente pessoas à deriva, mas sem o mesmo trabalho de realização. Outra foi Perigo em Alto Mar (The Reef, 2010).
Com inspiração numa situação real, ocorrida em 1983 com Ray Boundy, The Reef – poderia ser simplesmente traduzido como O Recife, elemento importante do enredo – mostra o reencontro de velhos conhecidos. Luke (Damian Walshe-Howling), Matt (Gyton Grantley), Suzie (Adrienne Pickering) e Kate (Zoe Naylor) se encontram no aeroporto para uma viagem até a Grande Barreira de Corais. Kate é irmã de Matt e ex-namorada de Luke, e pediu um tempo na relação sem maiores explicações. Além dos quatro, o conhecido Warren (Kieran Darcy-Smith) é quem irá capitanear a embarcação e ajudar na navegação. Chegam à ilha com um bote inflável, curtem um pouco da paisagem natural até serem alertados por Warren de um problema no iate.
No retorno, sentem que o bote está esvaziando, e, momentos depois, após uma navegação aparentemente tranquila, o iate se choca com recifes e vira, numa sequência muito mal filmada por ser acompanhada internamente. Presos no casco da embarcação, eles só têm como alternativas aguardar um resgate ou tentar nadar até uma ilha próxima. Luke convence os amigos, à exceção de Warren, e partem lentamente nadando na água para uma viagem que deve demorar em torno de três horas. Logo percebem que estão sendo acompanhados por um gigantesco tubarão branco, e o animal parece estar seguindo-os por todo o caminho, pronto para atacá-los quando sentir fome.
Assim como Mar Aberto, a principal qualidade de The Reef é a utilização de animais reais. Não há uso de recursos digitais, apenas a combinação criativa de cenas resgatadas em encontros de tubarões com os personagens. A edição é muito bem feita, transparecendo realmente que o grupo está à mercê do oceano, com um tubarão nas proximidades. Por essa razão de limitação de efeitos, o tubarão só aparece em cena depois de cinquenta minutos de filme, com a narrativa de Traucki sabendo explorar outros desafios para os personagens, aproveitando a boa química entre eles. As cenas de ataque também são bem realizadas, sem precisar exibir corpos destroçados e a criatura se alimentando de suas presas.
The Reef também se privilegia da ambientação, da sensação de insegurança promovida por uma ameaça que não se expõe a todo momento. Os personagens são bobos, com conversas que não levam a lugar algum e atitudes ingênuas. Luke, aparentemente o mais experiente do grupo, podia tentar acalmar os demais, principalmente Suzie, informando que o desespero e agito de seu corpo na água é um dos sensores que apoiam a orientação do tubarão. É compreensível o desespero dela e dos demais, ainda que tais ações tenham contribuído para os ataques. Também vale menção à narrativa trazer outros recifes, transmitindo pequenas sensações de que tudo vai ficar bem.
Por se espelhar em Mar Aberto mas sem recordar das noites sem a iluminação da lua – um dos momentos mais assustadores do filme -, The Reef continua interessante treze anos depois, tanto que motivou uma “parte 2“, lançada ano passado, também com direção de Andrew Traucki. Infelizmente o diretor não soube dar continuidade ao que fez bem, transformando seu tubarão real em uma quase versão de Sharknado.
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