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Two Witches - 2021


Subgênero recorrente no horror, divisando com os slasher sobre estilos que nunca adormecem, a bruxaria sempre encontra meios de apresentar boas histórias ou personagens propulsores de arrepios. Nesse caldeirão de feitiços e maldições, as melhores narrativas são as que dialogam com as tradições, apresentando bruxas com aparência horrenda, decrépitas, faltando apenas o chapéu de cone, a verruga no nariz e as risadas maléficas. Two Witches, de Pierre Tsigaridis, veio com a proposta de resgatar o lado horripilante delas, atravessar conceitos envolvendo bebês e o grotesco, numa produção independente com boas (ou más) intenções, mas ferida pelo baixo orçamento e pelas limitações técnicas.


Trata-se de uma antologia composta por dois segmentos – em um formato similar a Dois Olhos Satânicos, de George A. Romero e Dario Argento. Duas histórias que se conectam para a construção de um único conceito assustador, explorando jumpscares e cenas aterrorizantes. Embora seja bem articulado, o longa permite que suas falhas se sobressaiam, sem que sua falta de recursos possa auxiliar na atmosfera proposta. Assim, o que se vê, entre enredos comuns, é uma constância de aparições de bruxas, de olhos brancos e envelhecidas, em pesadelos e situações que se repetem na edição. São tantas as sequências de uma montagem jumpscare que as próprias narrativas se enfraquecem, perdem o sentido.

Na primeira, intitulada “Sarah“, a protagonista (Belle Adams) está à espera do primeiro filho, com a expectativa animada de seu companheiro Simon (Ian Michaels). Após um jantar em que são observados por uma mulher estranha, que fica com os olhos brancos ao estilo Fulci e apaga uma vela antes de desaparecer, Sarah passa a ser perturbada por visões aterrorizantes com o descrédito de seu marido, que acredita ser influência de hormônios – como se pudesse culpá-los por uma senhora queimar sua foto e despejar alpistes sobre ela. Eles pedem a ajuda de Melissa (Dina Silva), que se denomina “curandeira espiritual“, e de seu namorado Dustin (Tim Fox), e ambos propõem uma sessão com a tábua ouija para tentar identificar o que acontece, levando-os a uma condição ainda pior (possessão) até culminar em algo inimaginado (mutilação e entranhas à mostra).


Enredo bom, realização problemática. Atuações razoáveis – a de Ian Michaels beira o ridículo -, edição exagerada e direção ruim não permitem que a narrativa envolva o espectador. No mais, são um apanhado de cenas de terror, algumas desnecessárias, como a aparição do coiote, mas que deixam um gosto amargo pelo final pessimista. Enquanto Sarah permite uma empatia com suas ações consideradas adequadas para o que acontece, o contrário envolve Simon, um marido irresponsável e que demora para agir, mesmo com os relatos da esposa.

Já em “Masha“, após uma relação ruim em que a protagonista (Rebekah Kennedy) mais uma vez enaltece Charlie (Clint Hummel), o namorado de sua colega de quarto Rachel (Kristina Klebe), ela acaba revelando que a avó é uma bruxa e sua morte irá fazê-la herdar seus poderes. Sem conseguir o homem de seus sonhos, logo ela será corrompida pelo poder recebido, em um estado de loucura crescente, que acabará envolvendo a todos, seja para transformar alguém em coelho (!!!) ou até desfigurar uma desconhecida numa festa. Com a ótima atuação de Rebekah, realmente condizente com o seu papel perverso, a trama estabelece uma conexão com a primeira a partir dos personagens Melissa e Dustin. E finaliza com sangue e morte, insanidade e doença, em uma sequência perturbadora de imagens.


Melhor que a primeira,”Masha” também é vítima de sua mediocridade técnica. Alguns cuidados nos aspectos que envolvem a proposta dariam ao segmento uma aceitação ainda maior. A produção, limitada a efeitos de maquiagem e edição, acaba por deixar de lado o enredo em prol dos sustos e de cenas apavorantes, sendo que muitas são clichês. Muito pouco pelo que se espera de uma trama que poderia ser mais interessante e ousada.

Mesmo com sua condição quase amadora, Two Witches chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira. Enquanto produções mais importantes de horror continuam numa eterna fila de espera – quem não gostaria de ter visto Hellraiser nos cinemas? – , esta antologia irregular, com todos os seus percalços, pode ser testemunhada na tela grande para desmerecer o gênero.


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